Tomada de Antioquia
Os Cruzados conquistaram Antioquia cujo primeiro bispo foi o Apóstolo São Pedro, e onde os discípulos de Jesus Cristo – então designados, por desprezo, nazarenos pelos judeus – passaram a ser chamados cristãos.
Redação (13/02/2023 08:42, Gaudium Press) Após terem conquistado Niceia, os Cruzados se dividiram em dois exércitos. Os componentes do primeiro, ao se aproximarem da cidade de Dorileia, na Turquia, foram atacados por 150.000 infiéis e estavam a ponto de serem esmagados.
Balduíno, Conde de Edessa
De repente, do alto das colinas surgem os cavaleiros de Godofredo de Bouillon, tocando trombetas, que investem contra os inimigos e os derrotam. Morreram 4.000 cavaleiros e, a partir de então, os Cruzados passaram a caminhar todos juntos.
Atravessando regiões desérticas, sofrendo fome e sede, encontraram um rio e uma floresta adjacente, na qual Godofredo foi caçar. Em dado momento, viu um peregrino atrás de uma árvore apavorado e um urso que estava a ponto de devorá-lo.
Com sua espada ele golpeou fortemente a cabeça do animal, o qual fez enorme chaga em uma das pernas de Godofredo. Por fim, a fera foi morta pelo valoroso Cruzado que, por dois meses, ficou impossibilitado de montar a cavalo, e somente pôde fazê-lo junto às muralhas de Antioquia.
Balduíno, irmão de Godofredo, comandando seus cavaleiros, realizou investidas nas localidades próximas e chegou em Edessa, cidade que na Antiguidade se chamava Ragés.
Narra a Sagrada Escritura que o jovem Tobias, guiado pelo Arcanjo São Rafael, viajou até Ragés a fim de obter de um parente o dinheiro que devia a seu pai (cf. Tb 4, 21).
As portas de Edessa se abriram para os Cruzados e Balduíno foi conduzido pelo clero e povo solenemente à Catedral, onde lhe concederam o governo da cidade a qual passou a ser um condado.
O Conde de Edessa conquistou também outras províncias que se tornaram importantes pontos de apoio ao grande exército prestes a investir contra Antioquia.
Pleno restabelecimento de Godofredo de Bouillon
Essa cidade havia sido evangelizada por São Paulo e São Barnabé, e seu primeiro bispo foi o Apóstolo São Pedro. O número de fiéis a Cristo ali crescera enormemente e eles, que eram chamados nazarenos, passaram a ser denominados cristãos (cf. At 11, 26).
Situada às margens do Rio Orontes, Antioquia estava cercada por imensas muralhas e 400 torres.
Na época da I Cruzada, a maior parte de sua população era católica, governada por um Patriarca. Havia mais de 300 igrejas e capelas que os turcos maometanos não transformaram em mesquitas por interesse financeiro; depois de Roma, Jerusalém e Constantinopla, a cidade mais visitada pelos peregrinos era Antioquia.
Comandados por Godofredo de Bouillon – transportado numa liteira –, os Cruzados acamparam diante de suas muralhas, em outubro de 1097.
Por falta de meios eficazes para atacá-la, muitos Cruzados se entregaram aos jogos, às danças e até mesmo caíram em imoralidades.
Aproveitando esse clima de falta de vigilância, os turcos saíam às escondidas da cidade e matavam os cruzados que se encontravam em locais adjacentes, desprevenidos. Decapitaram um arquidiácono que estava conversando com uma peregrina, levaram sua cabeça para Antioquia e a jogaram do alto das muralhas sobre o acampamento dos Cruzados.
Roubaram uma bandeira, na qual estava representada Nossa Senhora, e a colocaram em posição inversa no cimo da cidadela de Antioquia. A fome começou a grassar entre os Cruzados, ceifando homens e animais. Dos 70.000 cavalos, só restaram 2.000.
O Bispo Ademar recomendou, como penitência pelos pecados cometidos, três dias de jejum, procissões com cânticos e preces, implorando perdão a Deus.
As mulheres infames foram expulsas do acampamento. Decretou-se a pena de morte para quem praticasse adultério ou determinados atos lascivos; quem dizia blasfêmia ou fazia jogo de azar era marcado com ferro em brasa. Assim, todo o exército se reergueu moralmente.
Godofredo restabeleceu-se de modo completo e a notícia de sua cura foi recebida por todos como uma vitória concedida por Deus.
De repente, chegou a informação de que 30.000 turcos se aproximavam de Antioquia com o objetivo de massacrar os Cruzados. Godofredo reuniu 700 cavaleiros e, tendo ao seu lado o heroico Bispo Ademar, partiram em direção aos inimigos bradando “Deus o quer!”
Devido às intensas chuvas que haviam caído naqueles dias, os infiéis não puderam lançar flechas porque as cordas de seus arcos estavam encarquilhadas. Então, fugiram apavorados e milhares deles se afogaram no Rio Orontes.
Vitoriosos, os Cruzados levaram para o acampamento 500 cabeças de infiéis e, através de catapultas, as lançaram para o interior da cidade. Foi uma resposta à abominação feita pelos turcos, que haviam ofendido a Santíssima Virgem representada numa bandeira.
Certo dia, um grupo de infiéis a cavalo investiram contra os Cruzados que se encontravam nas proximidades do acampamento. Entre aqueles se destacava um turco gigantesco o qual avançou contra Godofredo. Este lhe desferiu uma espadada que o “partiu em dois pela cintura. O busto caiu em terra, enquanto que as cadeiras e as pernas continuaram agarradas ao cavalo, o qual se afastou ao galope”[1].
Católicos da cidade cantam o Kyrie eleison
Vigias dos Cruzados informaram que centenas de milhares de cavaleiros e infantes turcos se dirigiam a Antioquia, comandados por Kerbogá, assessorado pelos governantes de Jerusalém, Damasco bem como de outras localidades dominadas por islamitas.
Diante dessa trágica situação, os chefes Cruzados se reuniram e Bohemond, Príncipe de Tarento, comunicou-lhes que a preço de ouro conseguira do responsável pela principal torre de Antioquia a promessa de entregá-la aos Cruzados.
De fato, alguns cavaleiros se apoderaram da torre à noite, abriram as portas da muralha e, bradando “Deus o quer!”, os Cruzados invadiram a cidade apoiados pelos católicos ali residentes, que se fizeram reconhecer cantando o Kyrie eleison.
Após terríveis combates, os Cruzados obtiveram gloriosa vitória. O Patriarca de Antioquia foi retirado da prisão e conduzido triunfalmente à Basílica de São Pedro, onde houve a proclamação de Bohemond como Príncipe de Antioquia.
Logo depois, estando este último em seu palácio, alguns montanheses armênios católicos trouxeram-lhe a cabeça do emir que governava a cidade e fugira por uma poterna[2]. Era o dia 3 de junho de 1098.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] GROUSSET, René. La epopeya de las Cruzadas. Madrid: Palabra. 2014, p. 25.
[2] Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1875, v. XXIII, p. 471, 495, 522 passim; MICHAUD, Joseph-François. História das Cruzadas. São Paulo: Editora das Américas. 1956, v. I, p. 270, 271, 281.
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