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São Simão de Crépy e os potentados

Tendo atuado eficazmente junto aos maiores potentados da Europa, São Simão de Crépy entregou sua alma a Deus na presença de São Gregório VII, em 30 de setembro de 1080.

Simon de crepy

Redação (22/11/2022 10:05, Gaudium Press) No primeiro concílio promovido por São Gregório VII na cidade de Roma, em março de 1074 – do qual, além dos bispos, participaram a Condessa Matilde e outros nobres –, o Pontífice conclamou os católicos do mundo inteiro a irem proteger Jerusalém.

Disse o Papa que a Terra Santa estava sendo devastada pelos sarracenos, os quais massacravam milhares de cristãos. Assim como Jesus Cristo deu sua vida por nós, devemos por seus filhos e nossos irmãos sacrificar a nossa.

Tais palavras foram acolhidas com entusiasmo pelos participantes do concílio. E São Gregório escreveu aos nobres da França os quais se prontificaram a se engajar na luta armada.

Em setembro desse ano, enviou carta a Henrique IV informando-o que mais de 50.000 guerreiros se preparavam para a guerra no Oriente e queriam que o Papa marchasse a sua frente, conduzindo-os até ao Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Estava ele determinado a empreender essa expedição, e pedia que o imperador, caso preferisse permanecer na Europa, se comprometesse a defender a Santa Igreja. E rogou-lhe que, o mais cedo possível, informasse ao Papa sobre suas disposições. Mas Henrique IV nada respondeu…

Vinte anos depois, o ardente desejo de São Gregório VII foi realizado quando Urbano II, em Clermont – Centro da França –, reuniu o concílio que deu início à Primeira Cruzada.

Bispos cúmplices dos crimes do Rei da França

Não podendo efetuar uma Cruzada contra os inimigos externos da Igreja, São Gregório fez uma guerra contra seus inimigos internos.

Felipe I, Rei da França, se deixara arrastar pela simonia e fazia investiduras de prelados. As autoridades eclesiásticas não protestavam contra esses pecados. Em setembro de 1074, São Gregório VII escreveu a todos arcebispos e bispos desse país, dizendo:

“Vosso rei, ou antes o tirano que entre vós tem esse título, tornou-se pela instigação do diabo a causa e o princípio de todas essas desordens. Ele enlameou sua juventude – estava com 22 anos – de infâmias e de crimes […]

“A vós também, irmãos, dizemos na amargura e aflição de nosso coração que sois cúmplices de todos esses crimes. Não opondes às ambições dos homens carnais o vigor de vosso ministério episcopal, mas lhes prestais apoio.

“Censurai o rei […] Se ele não se corrigir, colocai toda a França em interdito e proibi que sejam celebrados publicamente os ofícios divinos. Se não fizerdes isso, retirar-vos-ei o poder episcopal.”[1]

Felipe I se submeteu e os prelados continuaram a exercer seu ministério.

Homem de grande poder e riqueza

Um varão que exerceu admiráveis atividades junto a potentados europeus dessa época foi São Simão de Crépy.

De família nobre, nasceu ele em 1048 no Castelo de Crépy, nas proximidades de Paris, tendo sido educado na corte do Duque da Normandia, o qual se tornou Rei da Inglaterra: Guilherme, o Conquistador.

Depois, transladou-se para a corte de Felipe I, onde alcançou brilhante sucesso na arte militar, mas caiu numa vida pecaminosa.

Tendo falecido seu pai, Simão – agora Conde de Crépy – herdou grandes extensões de terras, tornando-se o homem mais poderoso e rico da França, depois do rei.

Importante parte de suas propriedades foi invadida e saqueada por Felipe I. Vendo nisso um castigo devido às suas ofensas a Deus, Simão dirigiu-se a Roma a fim de pedir a São Gregório VII o perdão de seus pecados.

Após absolvê-lo, o Pontífice ordenou-lhe que regressasse à França para administrar seus domínios, até conseguir estabelecer uma paz duradoura com o monarca.

Tendo obtido esse objetivo, depois de dois anos de guerra em que sempre foi vitorioso, Simão recebeu uma mensagem de Guilherme, o Conquistador, pedindo-lhe que fosse à Inglaterra.

Reis da França, da Inglaterra…

Ele para lá viajou e o rei lhe ofereceu sua filha em casamento. Porém ela era sua parente; então Simão iniciou uma viagem a Roma a fim de obter do Papa uma dispensa para as núpcias.

Após atravessar o Canal da Mancha, movido pela graça, ele se tornou monge num mosteiro da Cordilheira do Jura, na fronteira franco-suíça. Essa notícia alcançou enorme repercussão em toda a Europa.

Ali ele fez severas penitências, Anjos e Santos lhe apareciam em forma visível. Então, resolveu viver como eremita numa floresta vizinha, onde exerceu duríssimos trabalhos manuais para se manter.

Certo dia, Santo Hugo, Abade de Cluny, chegou à sua ermida e rogou-lhe que fosse conversar com Felipe I, a fim de conseguir que o rei cessasse de perseguir a Igreja e de oprimir seus vassalos. Ele caminhou até Compiègne, Norte da França, onde o monarca o recebeu com veneração e atendeu todos seus pedidos.

Devido à grave situação da Inglaterra – um filho de Guilherme, o Conquistador, entrara em guerra contra seu próprio pai –, Simão partiu rumo àquele país. Ao desembarcar na costa britânica, uma multidão o saudou com alegria e lhe ofereceram belas vestimentas, pois usava um simples traje de peregrino.

Após diversas conversações com o rei e seu filho, ele conseguiu a total reconciliação de ambos e regressou para sua ermida na floresta do Jura.

… e o Duque da Apúlia

Sabedor dos sucessos obtidos por São Simão, o Papa São Gregório VII ordenou-lhe que visitasse o famoso guerreiro Robert Guiscard, Duque da Apúlia – Sul da Itália –, a fim de obter dele uma aliança com a Santa Sé.

São Simão convenceu Guiscard a ir à cidade de Aquino – onde nasceria, dois séculos depois, o grande São Tomás – a fim de se encontrar com o Papa. Pelo “Tratado de Aquino”, o Duque jurou fidelidade a São Gregório.

Cumprida sua missão, São Simão pediu autorização ao Pontífice para regressar à sua ermida, mas não lhe foi concedida. Tendo rogado por mais duas vezes, São Gregório lhe recomendou que se prosternasse diante do Altar da Confissão, na Basílica de São Pedro, e implorasse ajuda do primeiro Papa.

Em oração, ele passou a noite prosternado nesse local. Ao raiar da aurora, estava bastante enfraquecido e percebeu que Deus o chamava para junto de Si. Levado para sua residência, pediu a presença de São Gregório, que para lá acorreu.

Após se confessar com o Papa e receber de suas veneráveis mãos a Sagrada Eucaristia, São Simão de Crépy, aos 32 anos de idade, entregou sua alma a Deus e foi sepultado na Basílica de São Pedro[2]. Sua memória é celebrada em 30 de setembro.

Por Paulo Francisco Martos

(Noções de História da Igreja)


[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église.1881, v. XXII, p.31-32.

[2] Cf. DARRAS, Op. cit. 1875, v. XXI, p. 628; 1881, v. XXII, p 31, 417.

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