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Santo Annon salvou a Reforma Gregoriana

Arcebispo de Colônia e regente do Sacro Império, Santo Annon batalhou contra a decadência moral do clero e defendeu firmemente a reforma propugnada pelo monge Hildebrando, futuro Papa São Gregório VII.

763px Anno II.

Redação (25/08/2022 16:37, Gaudium Press) Nascido em 1010 de uma família nobre da Baviera, Sul da Alemanha, Santo Annon estudou na escola diocesana de Bamberg na qual, após ter sido ordenado sacerdote, tornou-se professor. De porte majestoso, era grande orador e possuía a arte da conversa.

Suas aulas bem como sua prosa prendiam a atenção de todos os que o ouviam, nele admirando não só a ciência, como a ortodoxia de seu pensamento. A amenidade de seu trato e sua extraordinária energia impunham a todos respeito e veneração.

Defesa do celibato eclesiástico e condenação da simonia

Nomeado Arcebispo de Colônia, destacou-se pela defesa do celibato eclesiástico e a condenação da simonia, propugnando a restauração do clero que se chamou “Reforma Gregoriana” porque sua alma foi São Gregório VII.

Em dezembro de 1058, Nicolau II foi eleito Papa e, logo depois, decretou que a eleição dos Pontífices seria feita pelo Colégio dos Cardeais.

A nobreza romana revoltou-se. E os adversários da Reforma Gregoriana conseguiram convencer a Imperatriz Inês, mãe de Henrique IV – o qual era, então, menino –, de que não devia aceitar o decreto.

Pouco depois, morreu Nicolau II, e o monge Hildebrando fez com que o Sacro Colégio elevasse ao sólio pontifício Alexandre II. O episcopado da Lombardia e alguns bispos alemães, com a anuência da Imperatriz, elegeram o Bispo de Parma – Norte da Itália – como antipapa.

Penitência da Imperatriz Inês

Grande parte da Alemanha e da Lombardia bem como muitos nobres romanos apoiaram o antipapa. Foi nesse momento crucial que Santo Annon resolveu intervir. Combinou com alguns nobres alemães um golpe de Estado.

Em 27 de outubro de 1062, ele reuniu um sínodo na cidade de Colônia, da qual era arcebispo, e, como regente do Sacro Império – Henrique IV tinha apenas 12 anos de idade– aceitou o decreto de Nicolau II e reconheceu a eleição de Alexandre II, o qual pôde tomar posse de Roma. A Reforma Gregoriana estava salva.

Alguns anos depois, a Imperatriz Inês arrependeu-se do que fizera. Certo dia, Roma surpreendeu-se assistindo a um espetáculo só possível na Idade Média: a imperatriz apresentou-se às portas da cidade, vestida como penitente, descalça e com uma corda ao pescoço, rogando permissão para entrar e pedir perdão ao Santo Padre por tudo quanto tinha feito. Recebida pelo Cardeal São Pedro Damião, este a absolveu de todos os pecados e, tendo ela entrado para um convento, tornou-se seu confessor.

Execrando a devassidão em que se afundara Henrique IV, Santo Annon demitiu-se do cargo que exercia na corte e voltou à Colônia, onde continuou seu ministério arquiepiscopal. Pouco tempo depois, foi viver num mosteiro, próximo dessa cidade.

 O ímpio Henrique IV planejou matá-lo através de dois criados do arcebispo, que receberam dinheiro para isso. Embora o assassinato não tenha se efetivado, Santo Annon foi atingido por terrível úlcera no estômago que lhe causou chagas em todo o corpo. Com sofrimentos intensos, ele faleceu em 4 de dezembro de 1075.

O Sacro Colégio: uma aristocracia dentro da Igreja

Anno IIA respeito desses temas, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira[1] teceu comentários que a seguir resumimos.

Santo Annon era um homem de um trato agradável, mas sabia ser enérgico quando necessário. O trato verdadeiramente agradável não é o de um palhaço que conta anedotas, mas um relacionamento elevado, nobre o qual, ao mesmo tempo, distrai, agrada e deixa a pessoa dignificada, enobrecida.

Antes de São Gregório VII, a Igreja passou por vacilações enormes, por crises, por depressões morais tremendas. E essas crises morais foram todas elas contrariadas pelo movimento de Reforma Gregoriana, que São Gregório VII, então cardeal, impôs através de vários Papas que eram discípulos dele, e depois ele mesmo, elevado ao Pontificado, com uma energia não excedida e talvez não igualada, levou à sua perfeição.

A esse movimento restaurador, um dos maiores que havido dentro da Igreja, costuma-se chamar de Reforma Gregoriana. E foi uma glória de Santo Annon ter cooperado para essa reforma.

Estava em jogo uma questão muito importante. A eleição do Papa foi, em todos os tempos, um dos elementos decisivos da política mundial, tanto mais na Idade Média, quando o mundo era muito mais católico do que hoje e, portanto, muito mais sensível a qualquer pensamento, vontade, pronunciamento ou ato do Sumo Pontífice.

Quem o elegeria? Uma corrente afirmava que o clero e nobreza de Roma estavam habilitados para isso; outra julgava que o Papa deveria ser escolhido pelo Sacro Colégio dos Cardeais.

Não era contra a instituição divina que o Papa fosse eleito pelos nobres e clero de Roma. O Direito Canônico pode atribuir-lhes tal faculdade e também ao povo romano. Mas para assegurar melhor a eleição de um Papa digno do cargo, era muito preferível naquele tempo — e o é em tempos normais — que a escolha fosse feita pelo Sacro Colégio, pois este representa uma aristocracia, uma elite dentro da Igreja, sendo um conjunto de clérigos considerados mais eminentes, preclaros e seguros pelos Pontífices anteriores.

Por outro lado, os nobres romanos eram senhores de pequenos feudos nos arredores de Roma, que muitas vezes guerreavam por seus interesses. Havia o risco de escolherem um Papa de acordo com suas conveniências pessoais ou familiares.

Senso da gravidade do pecado

Impressiona-nos a bela atitude tomada pela imperatriz. Ela quis praticar um ato público de reparação, porque público tinha sido o seu pecado. Compreendia a gravidade de sua ofensa a Deus.

Hoje, o senso da gravidade do pecado desapareceu. As pessoas não são lógicas, falta-lhes coerência, não têm Fé viva. Elas só se lembram do pecado para dizer que vai ser perdoado; e só se recordam do perdão para poderem pecar mais tranquilamente. Essa é a mentalidade do homem contemporâneo.

Qual a causa desta diferença de atitude? Em última análise, este é o efeito da Revolução gnóstica e igualitária. É ela que exacerba no homem o orgulho, a vontade de não reconhecer a gravidade dos pecados e de não fazer penitência, criando-se o estado de dureza que vemos tão generalizado atualmente.

A memória de Santo Annon é celebrada em 4 de dezembro.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja

 

 

 

 

 

 

 

[1] CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Santo Annon: energia e astúcia. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XVIII, n. 213 (dezembro 2015) p. 24-29.

 

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