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Bendito o dia que A viu nascer!

O nascimento de Nossa Senhora trouxe para a humanidade algo até então desconhecido: uma criatura isenta de qualquer mancha, um lírio de incomparável formosura que deveria alegrar os coros angélicos e a terra inteira. Em meio ao exílio do gênero humano corrompido, aparecia um ser imaculado, concebido sem pecado original.

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Redação (07/09/2024 16:53, Gaudium Press) Nossa Senhora trazia consigo todas as riquezas naturais que podem caber numa mulher. Deus lhe concedeu uma personalidade valiosíssima e sua presença entre os homens representava, também a esse título, um tesouro verdadeiramente incalculável.

Ora, se aos dons naturais acrescentarmos os tesouros incomensuráveis da graça que A acompanhavam – os maiores jamais concedidos a alguém por Deus Nosso Senhor – podemos compreender o enorme significado de seu advento ao mundo. O nascer do sol é uma pálida realidade em comparação com a resplandecente aurora que foi o aparecimento de Maria Santíssima nesta terra!

A mais solene entronização de um rei ou uma rainha, ou os mais grandiosos fenômenos da natureza nada são diante do nascimento da Virgem. Nesse momento bendito, certamente saudado pela alegria de todos os Anjos do Céu, pode-se conjecturar que tenham surgido inusitados sentimentos de júbilo nas almas retas esparsas pelo orbe. E eles bem poderiam ser expressos com uma paráfrase das palavras de Jó: “Bendito o dia que viu Nossa Senhora nascer, benditas as estrelas que A contemplaram pequenina, bendito o momento em que veio ao mundo a criatura virginal destinada a ser Mãe do Salvador!”

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Sua vinda ao mundo foi o início de nossa redenção

Se é possível dizer que a redenção dos homens teve início com o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo se pode afirmar, guardadas as devidas proporções, em relação à natividade de Nossa Senhora, pois tudo quanto o Salvador nos trouxe começou com Aquela que O daria ao mundo.

Compreendem-se, então, as esperanças de salvação, indulgência, reconciliação, perdão e misericórdia que se abriram para a humanidade naquele bendito dia em que Maria nasceu nesta terra de exílio. Momento feliz e magnífico, foi ele o marco inicial da existência insondavelmente perfeita, pura e fiel da que estava destinada a ser a maior glória do gênero humano em todos os tempos, abaixo apenas de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo de Deus encarnado.

Afirmam muitos teólogos que, tendo sido concebida sem pecado original, Nossa Senhora foi dotada do uso da razão desde o primeiro instante de seu ser. No seio de Sant’Ana, onde vivia como num tabernáculo, já teria, portanto, altíssimos e sublimíssimos pensamentos.

Pode-se traçar um paralelo dessa situação com o que narra a Sagrada Escritura a respeito de São João Batista. Ele, que fora engendrado no pecado original, ao ouvir a voz de Nossa Senhora saudando Santa Isabel estremeceu de alegria no seio de sua mãe.

É possível, portanto, que a Bem-aventurada Virgem, com a altíssima ciência que recebera pela graça de Deus, tenha começado a pedir já no seio materno a vinda do Messias e que tenha-se estabelecido em seu espírito o elevadíssimo intuito de vir a ser, um dia, a servidora da Mãe do Redentor.

De qualquer modo, sua mera presença na terra era uma fonte de graças para os que se aproximavam d’Ela e de Sant’Ana e o seria ainda mais depois de seu nascimento. Se da túnica de Nosso Senhor, como narra o Evangelho, irradiavam-se virtudes curativas para quem a tocasse, quanto mais da Mãe de Deus, Vaso de Eleição!

Recém-nascida e já vitoriosa sobre o demônio

Se a vinda do Salvador derrotou o mal no gênero humano, a natividade da Santíssima Virgem viu a luz marcou o início da vitória do bem e do esmagamento do demônio. Ele mesmo percebeu que algo de seu cetro estava irremediavelmente partido. Nossa Senhora começava a influir nos destinos da humanidade.

O mundo de então achava-se afundado no mais radical paganismo, numa situação muito parecida com a de nossos dias: os vícios imperavam, as mais diversas formas de idolatria tinham dominado a terra e a decadência ameaçava a própria religião judaica, prenúncio da católica. Por toda parte o erro e o demônio eram vitoriosos.

Porém, no momento decretado por Deus em sua misericórdia Ele derrubou a muralha do mal, fazendo vir Nossa Senhora ao mundo. Da raiz de Jessé desabrochava o divino lírio, Nosso Senhor Jesus Cristo. Com seu nascimento tinha início a irreversível destruição do reino de satanás.

O “nascimento” de Maria em nossa vida espiritual

Esse primeiro triunfo de Nossa Senhora sobre o mal sugere-nos outra reflexão.

Quantas vezes, em nossa vida espiritual, vemo-nos imersos na luta contra as tentações, nos contorcendo e nos revolvendo em dificuldades! E não temos ideia de quando virá o bendito dia em que uma grande graça, um insigne favor, porá fim a nossos tormentos e lutas, proporcionando-nos, por fim, um grande progresso na prática da virtude.

Nesse momento verificar-se-á um como que nascimento da Santíssima Virgem em nossas almas. Ela surgirá na noite das maiores provações e das mais espessas trevas, vencendo desde o início as dificuldades com que estivermos nos defrontando. Levantar-se-á como uma aurora em nossa existência, passando a representar em nossa vida espiritual um papel até então desconhecido por nós.

Esse pensamento nos deve encher de alegria e de esperança, dando-nos a certeza de que Nossa Senhora nunca nos abandona. Nas horas mais difíceis, Ela como que irrompe entre nós, resolvendo os nossos problemas, aliviando nossas dores e dando-nos a combatividade e a coragem necessárias para cumprirmos nosso dever até o fim, por mais árduo que este seja. A maior consolação que Ela nos traz é precisamente esse fortalecimento de vontade, que nos permite empreender a luta contra os inimigos da nossa salvação.

Aurora nas tramas da história

Nossa Senhora nos dá também forças para nos tornarmos zelosos filhos da Igreja e defensores da religião católica. Existem elementos históricos para afirmar que todas as grandes almas que combateram as diversas heresias ao longo dos séculos foram especialmente suscitadas por Ela. Assim o insinua de modo muito bonito o brasão dos claretianos, onde, além do Imaculado Coração de Maria, figuram São Miguel Arcanjo e a divisa “Os filhos d’Ela se levantaram e A proclamaram Bem-aventurada”.

Esse levantar dos devotos da Santíssima Virgem para glorificá-La não é também uma forma de nascimento d’Ela, como magnífica aurora, nas tramas da História?

Assim, os verdadeiros filhos de Nossa Senhora devem desejar e pedir a Ela a graça de serem indomáveis e implacáveis contra o demônio e seus sequazes que, em nossos dias, procuram conspurcar a glória da imortal Igreja de Cristo.

 Plinio Corrêa de Oliveira

Texto extraído, com pequenas adaptações, da revista “Dr. Plinio”. n.18, setembro 1999.

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