As cerimônias da Semana Santa – Sábado de Aleluia
Na noite do Sábado Santo, também conhecida como Vigília Pascal, honra-se a sepultura de Jesus Cristo, sua descida ao Limbo e celebra-se sua gloriosa Ressurreição.
Redação (Quinta-feira, 09-04-2020, Gaudium Press) Durante a cerimônia da Vigília Pascal, a Igreja mantém-se em vigília, à espera da Ressurreição do Senhor, celebrando-a com os sacramentos da Iniciação cristã. Santo Agostinho a considera como “a mãe de todas as santas Vigílias” (S. Agostinho, Sermão 219: PL 38, 1088. 1). Esta noite é “uma vigília em honra do Senhor” (Ex 12,42).
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Ouvindo a advertência de Nosso Senhor no Evangelho, “Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas” (Lc 12, 35), aguardamos o seu retorno, tendo nas mãos lâmpadas acesas, para que ao voltar nos encontre vigilantes e nos faça sentar à sua mesa.
Cerimônia da Vigília Pascal
Antigamente, a Vigília Pascal, era iniciada à meia-noite. O horário para esta cerimônia foi mudado para as 20h. O importante é que ela comece no início da noite e que termine antes da aurora do domingo.
A vigília desta noite é dividida do seguinte modo:
1º – A celebração da luz;
2º – A meditação sobre as maravilhas que Deus realizou desde o início pelo seu povo, que confiou em sua palavra e sua promessa;
3º – O nascimento espiritual de novos filhos de Deus através do sacramento do batismo;
4º – E por fim a tão esperada comunhão pascal, na qual rendemos ação de graças a Nosso Senhor por sua gloriosa ressurreição, na esperança de que possamos também nós ressurgir como Ele para a vida eterna.
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Benção do lume novo
As luzes da igreja estão todas apagadas. Do lado de fora está um fogareiro preparado pelo sacristão antes do início das funções, com a faísca tirada de uma pedra. Junto está uma colher para recolher as brasas e colocá-las dentro do turíbulo. Então o celebrante abençoa o fogo e o turiferário recolhe algumas brasas bentas e as coloca no turíbulo.
Significado da Bênção do Fogo
A pedra representa Cristo, “a pedra angular” que, sob os golpes da cruz, jorrou sobre nós o Espírito Santo. O fogo novo, representativo da Ressurreição de Nosso Senhor, luz Divina apagada por três dias, que há de aparecer ao pé do túmulo de Cristo, que se imagina exterior ao recinto da igreja, e resplandecerá no dia da ressurreição. Este fogo deve ser novo porque Nosso Senhor, simbolizado por ele, acaba de sair do túmulo.
Essa cerimônia já era conhecida nos primeiros séculos, tendo se originado no costume romano de iluminar a noite com muitas lâmpadas, simbolizando o Senhor Ressuscitado dentro da noite da morte.
O círio pascal
Símbolo da Ressurreição de Nosso Senhor, o Círio Pascal é o único objeto litúrgico que pode ser visto apenas por quarenta dias. É a evocação de Cristo glorioso, vencedor da morte. O Círio Pascal surge no início da Vigília Pascal e desaparece no dia da Ascensão.
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Originalmente o Círio tinha a altura de um homem, simbolizando Cristo-luz que brilha entre as trevas. Os teólogos francos e galicanos enriqueceram-no com elementos simbólicos.
Cerimonial e simbolismo do Círio Pascal
Um acólito leva o Círio Pascal ao celebrante, que grava no mesmo as seguintes inscrições (Em itálico colocamos as palavras que o sacerdote pronuncia ao colocar cada um dos símbolos no Círio):
1º – Uma cruz. Dizendo: “Cristo ontem e hoje. Princípio e fim”.
2º – As letras Alfa e Ômega, a primeira e a última do alfabeto grego. Isso quer significar que Deus é “o princípio e o fim de tudo”, que tudo provém de Deus, subsiste por causa dele e vai para ele: “Alfa e Ômega”.
3º – Os algarismos são colocados entre os braços da Cruz, marcando as cifras do ano corrente. Isso é feito para expressar que Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é o princípio e o fim de tudo, o Senhor do tempo, é o centro da História e a Ele compete o tempo, a eternidade, a glória e o poder pelos séculos.
A Ele oferecemos este ano e tudo o que nele fizermos. “A Ele o tempo e a eternidade a glória e o poder pelos séculos sem fim. Amém”.
4º – Cinco grãos de incenso em forma de cravos, nas cinco cavidades previamente feitas no meio do Círio, dispostas em forma de Cruz. Esse cerimonial simboliza as cinco chagas de Nosso Senhor nas quais penetraram os aromas e perfumes levados por Santa Maria Madalena e as santas mulheres ao sepulcro.
Simbolismo do incenso
O incenso é uma substância aromática que queimamos em louvor a Deus, sua fumaça, subindo, simboliza nosso desejo de permanente união a Ele e de que nossa vida, nossas ações e nossas orações sejam agradáveis ao Senhor. Ela representa também, nossa oração, que desejamos chegue a Deus, como suave perfume de amor.
Esses grãos simbolizam ainda as cinco chagas gloriosas do Cristo Ressuscitado que lhe possibilitaram amar-nos totalmente, conforme Ele mesmo dissera: “Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15, 13): “Por suas santas chagas, suas chagas gloriosas, Cristo Senhor nos proteja e nos guarde. Amém”.
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O sacerdote acende depois o círio, no fogo novo por ele abençoado. O círio servirá para acender às demais velas e a lamparina do Santuário.
A procissão feita com o Círio Pascal
Após a cerimônia de preparação do Círio Pascal, ele é solenemente introduzido no templo por um diácono que faz três paradas ao longo do cortejo pela nave central. Em cada parada ele canta, elevando sucessivamente o tom: “Lumen Christi” (Eis a luz de Cristo), ao que o coro e o povo respondem: “Deo gratias” (Graças a Deus).
Aos poucos, as velas vão sendo acesas. Na primeira parada, se acende a vela do celebrante; na segunda, feita no meio do corredor central, são acesas as velas dos clérigos; na terceira vez, por fim, se acendem as velas dos assistentes que compartilham as chamas do círio bento até toda a igreja ficar iluminada.
O diácono, que vem vindo, é, portanto, mensageiro, anunciando ao povo a Ressurreição de Cristo, como outrora o Anjo fez às santas mulheres.
Significado da procissão do Círio Pascal
As palavras “Lumen Christi”, significam que Jesus Cristo é a única luz do mundo. As velas são acesas no Círio Pascal, pois nossa luz vem de Cristo.
A procissão, que se forma atrás do Círio Pascal é repleta de símbolos. É alusão às palavras de Nosso Senhor: “Eu Sou a Luz do mundo. Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12; cf. Jo 9,5; 12,46).
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O círio, conduzido à frente, recorda a coluna de fogo que, na escuridão da noite, precedia o povo de Israel ao sair da escravidão do Egito e lhe mostrava o caminho (Ex 13, 21).
O cristão é aquele que, para iluminar, se deixa consumir, que em sua luz acende outras, dando sua própria vida, como ensinou e o fez Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Jo 15,13).
O Precônio pascal
Ao término da procissão, o Círio é instalado em local apropriado no interior do templo. Segurando a vela acesa na mão renovamos nossa Fé, proclamando Jesus Cristo a Luz do mundo que ressurgiu das trevas para iluminar nosso caminho.
Também recordamos aqui que, por vocação todo cristão é chamado a ser luz, como o próprio Cristo nos diz: “Vós sois a luz do mundo. Que, portanto, brilhe vossa luz diante dos homens, para que as pessoas vejam vossas boas obras, e glorifiquem vosso Pai que está nos céus!” (Mt 5,14.16).
Após incensar o círio e o livro, o diácono canta o Precônio Pascal, composto por Santo Ambrósio e Santo Agostinho, no qual se exaltam os benefícios da Redenção. É esse canto o antigo lucernário da vigília pascal. O nome lucernário foi dado às orações que se diziam na reunião litúrgica ao acenderem-se as luzes ao anoitecer.
Esse cântico é um belo poema, fruto de uma meditação na qual se contempla o trabalho das abelhas e o material para a confecção da vela, o significado da luz ao longo da história de Israel, destacando, de modo especial, Jesus como a Luz do mundo.
Daí em diante o Círio Pascal estará aceso em todas as funções, durante quarenta dias, recordando a permanência na terra de Cristo ressuscitado. O Círio será retirado do presbitério apenas no dia da Ascensão, momento em que Jesus Cristo ressuscitado sobe aos céus.
A Leitura das profecias e o Glória
Nos primórdios da Igreja, aqui estava como que o centro da Vigília, antes da Missa Pascal. Nesta hora, aproximavam-se os catecúmenos, para receberem o Batismo.
A fim de ocupar a atenção dos fiéis e para maior instrução dos catecúmenos, liam-se na tribuna doze profecias retiradas das Sagradas Escrituras, que davam um resumo histórico da religião: criação, dilúvio, libertação dos israelitas e oráculos messiânicos. Atualmente são feitas apenas nove leituras, sete do Antigo Testamento e duas do Novo.
Para cada leitura, há uma oração, com cântico ou salmo responsorial. Após a sétima leitura, são acesas as velas do altar a partir do Círio Pascal e o sacerdote entoa o canto do Gloria in excelsis Deo, com acompanhamento de instrumentos musicais e dos sinos, que ficaram calados durante todo o tríduo. A Igreja entra inteira na alegria pascal. Logo em seguida é feita a primeira leitura, do Novo Testamento (Rm 6,3-11), que é sobre o Batismo.
O Aleluia e a Ressurreição de Cristo
Após o término das leituras, o sacerdote entoa o canto solene do “Aleluia”, quebrando o clima de tristeza que acompanhava o tempo da Quaresma. Esse canto solene, repetido gradativamente três vezes em tom cada vez mais alto, representa a saída de Cristo da sepultura e expressa o crescente júbilo pela vitória do Senhor.
Por fim, proclama-se um trecho do Evangelho sobre a Ressurreição de Jesus, levando-se em consideração o ciclo anual de A, B e C. Eis as leituras todas: 1ª leitura: Gn 1,1-2,2 (ou 1,1.26-31a); 2ª leitura: Gn 22,1-18 (ou 22,1-2.9a.10-13.15-18); 3ª leitura: Ex 14,15-15,1; 4ª leitura: Is 54,5-14; 5ª leitura: Is 55,1-11; 6ª leitura: Br 3,9-15.32-4,4; 7ª leitura: Ez 36,16-17a.18-28; 8ª leitura: Rm 6,3-11; Evangelhos (9º texto): a) Ano A: Mt 28,1-10; b) Ano B: Mc 16,1-12; c) Ano C: Lc 24,1-12.
Benção da pia batismal
Terminada a leitura das Profecias, o clero vai em cortejo até a pia batismal. Na frente do cortejo, a cruz e o círio pascal, símbolos de Cristo que deve iluminar a nossa peregrinação terrena, como a nuvem luminosa norteou o rumo dos israelitas no deserto.
O celebrante abençoa a água num magnífico prefácio no qual são recordadas as maravilhas que Deus quis operar por meio da água; em seguida, divide em quatro partes a água já purificada, e derrama algumas gotas nos quatro pontos cardeais.
Na pia batismal, mergulha-se, por três vezes, o Círio Pascal, simbolizando o poder regenerador que Jesus Ressuscitado dá a essa água e, também, nossa participação em seu mistério pascal, no qual morremos ao pecado e ressuscitamos para a vida da graça. Ainda é colocada nessa pia com água batismal um pouco do óleo dos catecúmenos e do santo crisma. Essa água será usada nos batizados ao longo do ano e na aspersão do povo.
Batismo dos catecúmenos
Antigamente, após os ritos preparatórias, era administrado o Batismo solene aos catecúmenos (os que se iniciavam na Fé Cristã) e que, durante três anos, estavam, num processo intenso de preparação para ingressar na Igreja, com um rigor maior na Quaresma e na Semana Santa. Concluídos os ritos preparatórios, os catecúmenos eram levados ao lugar onde receberiam o Batismo.
Ladainha de todos os Santos
Após a benção da Pia Batismal, o cortejo volta ao coro cantando a “Ladainha de todos os Santos” para recordar dos que viveram com fidelidade a graça batismal. A apresentação dos candidatos à comunidade e o canto da ladainha de Todos os Santos mostram a universalidade da Igreja.
O final do Sábado Santo, com seus três aspectos do mesmo e único mistério pascal, morte, sepultamento e ressurreição de Jesus, está no ápice do Tríduo Pascal. Primeiro está a morte na Sexta-feira; depois Jesus no túmulo, no sábado; e, em seguida, a ressurreição, no Domingo, iniciada, porém, na noite de sábado, na Vigília Pascal.
Aurora da Ressurreição de Cristo
A missa da Vigília Pascal apresenta um caráter de extremo júbilo e magnificência, em forte contraste com a mágoa intensa da Sexta-feira Santa. Vemos agora os altares e os dignatários paramentados em grande gala.
Ouvem-se as notas alegres do Gloria in excelsis Deo, unidas ao repicar festivo dos sinos. O aleluia que não era ouvido desde o início da quaresma, volta a ser entoado após as leituras. É por assim dizer, a aurora da Ressurreição de Cristo.
Por Emílio Portugal Coutinho.
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