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Explicação sobre as cerimônias da Semana Santa: Sexta-feira Santa

A Sexta-Feira Santa é um dia de grande silêncio, oração, penitência, jejum e abstinência de carne. Conheça aqui o significado da rica liturgia deste dia.

Sexta feira santa 1

Foto: Cathopic/Tacho Dimas.

 

Redação (07/04/2023 08:13, Gaudium Press) Na Sexta-feira Santa recorda-se a Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, por este motivo, todas as funções deste dia estão repassadas de luto pesado.

Os paramentos negros. A omissão do Dominus vobiscum (O senhor esteja convosco). A falta de instrumentos de música. Nenhum toque de sinos. O altar, frio e despido. O tabernáculo desocupado e aberto. Na frente dele, uma cruz com véu negro. Nos candelabros, há velas de cera amarela como nos dias de funerais. Em tudo reina a tristeza, a desolação profunda.

Sexta-feira Santa: dia de silêncio, oração, penitência, jejum e abstinência

É, para a Igreja, um dia especialíssimo, portanto, de grande silêncio, oração, penitência, sobretudo jejum e abstinência de carne. Nesse dia não há ofertório e nem consagração, mas é feita a comunhão eucarística.

 

Durante muitos séculos, os fiéis procuravam, nesse dia, não fazer barulho e, especialmente, evitavam bater em algo, evitando a sensação daquele ruído terrível do martelo cravando Jesus na Cruz.

Nada de canto, de música, de sinais de alegria, de recreação. Trabalhava-se o mínimo possível, só naquilo que era de extrema necessidade. O tempo era para oração, leitura, meditação, avaliação da vida, partilha do sofrimento de Jesus.

A Celebração da Paixão do Senhor

A celebração da Paixão do Senhor, constituída pela liturgia da palavra, a adoração da cruz e a comunhão eucarística, é iniciada às três horas da tarde. Vestindo paramentos negros, em sinal de luto, o celebrante prostra-se ao pé do altar e reza em silêncio por alguns instantes, expressando a mágoa imensa que lhe atormenta a alma ao evocar o grande mistério do Calvário.

Durante este momento, uma toalha é estendida no altar, recordando o Sudário que serviu para envolver o Corpo de Nosso Senhor. Em seguida, o sacerdote sobe os degraus do altar e o oscula.

 

Estando todos sentados, são feitas as duas primeiras leituras com o respectivo salmo. Logo depois, é cantada a Paixão de Jesus Cristo segundo o Evangelho de São João. O quarto evangelista permaneceu debaixo da cruz, sendo testemunha ocular da crucificação. Quando chega na parte em que diz que Nosso Senhor entregou o seu espírito, todos se ajoelham, e ficam assim por alguns instantes.

A Oração Universal

Terminado o canto da paixão, o celebrante inicia as Orações conhecidas por ‘admoestações’ pois no prelúdio de cada uma consta uma advertência, no estilo de um prefácio onde o sacerdote diz o objeto da prece que se seguirá.

Nas intenções destas nove orações estão:
1º – a Santa Igreja;
2º – o Papa;
3º – todas as ordens e categorias de fiéis;
4º – os catecúmenos;
5º – a unidade dos cristãos;
6º – os judeus;
7º – os que não creem em Cristo;
8º – os que não creem em Deus;
9º – os poderes públicos;
10º – todos os que sofrem provações.

 

Nessas orações, a Igreja reza pelos que nunca pertenceram ou já não pertencem ao seu grêmio, com isso recordamos que o Salvador morreu por todos os homens e imploramos os frutos da sua Paixão em benefício de todos.

Entre cada uma das orações, o diácono diz: “Flectamus genua” (Ajoelhemos). Então todos se ajoelham por alguns instantes, e rezam em silêncio, até que o mesmo diácono diga: “Levate” (Levantemos), e, então, todos se levantam.

A adoração da Santa Cruz

Na Sexta-feira Santa adora-se solenemente a Santa Cruz, pois, tendo Nosso Senhor Jesus Cristo sido pregado e morrido na Cruz naquele dia, a santificou com o seu Sangue. Essa cerimônia se originou por volta do século IV, através da veneração da verdadeira Cruz conservada em Jerusalém.

 

A Cruz era colocada numa mesa coberta por um pano branco. Os fiéis a veneravam, sem tocá-la com as mãos, nem com a boca, pois em certa ocasião um devoto arrancou com os seus dentes um fragmento da relíquia da Santa Cruz.

Ritual da Adoração da Santa Cruz

O ritual dessa cerimônia tem um procedimento próprio: O celebrante tira a casula e, ficando ao pé do altar, descobre o alto da cruz e canta: “Ecce lignum Crucis” (Eis o lenho da Cruz do qual pendeu a salvação do mundo). Os ministros que lhe assistem, continuam com ele: “Venite, adoremus” (Vinde adoremo-lo). Ao mesmo tempo, todos se ajoelham.

Então o celebrante, vai para o lado direito do altar; descobre o braço direito da cruz, mostrando-o, e repete em tom mais elevado: “Ecce lignum Crucis“, sendo seguido pelos assistentes, que repetem: “Venite, adoremus” e se ajoelham.

Em seguida, o celebrante vai para o meio do altar. Ali chegando, descobre completamente a cruz, ergue-a e canta pela terceira vez, em tom ainda mais alto: “Ecce lignum Crucis“, os assistentes respondem: “Venite, adoremus” e novamente se ajoelham.

 

A cruz, então, é depositada pelo oficiante sobre um pano roxo estendido nos degraus do altar ou do coro, para que seja adorada por todos os clérigos e fiéis presentes.

Significado da cerimônia de Adoração da Santa Cruz

A desnudação da Cruz nos recorda que o Filho de Deus foi desnudado por seus algozes. Esta cerimônia é feita em três atos para significar três atos de zombaria dos quais Nosso Senhor Jesus Cristo foi vítima.

O primeiro foi quando, no átrio do sumo sacerdote, cobriram a santa face de Nosso Senhor, e lhe deram bofetadas. Por isso a primeira vez não se descobre a santa face do crucifixo (Lc 23, 64).

 

O segundo foi quando o Rei da glória, coroado de espinhos, foi escarnecido pelos soldados com genuflexão e as palavras: “Ave, rei dos Judeus”. Por isso na segunda vez se mostra a santa cabeça e a santa face do Rei do universo (Mt 27, 27-30).

E o terceiro foi quando o Filho do Todo-poderoso, crucificado e despojado de suas vestes, foi insultado com a blasfêmia: “Ah! Tu podes destruir o templo e outra vez o edificar; salva-te!” Por isso, na terceira vez o crucifixo se mostra todo descoberto (Mt 27, 40).

Os impropérios

Durante a adoração da Cruz, cantam-se as antífonas chamadas “Impropérios” (do latim improperium, que quer dizer “censura”), porque encerram repreensões dirigidas ao povo judeu pela voz dos profetas.

 

Cada antífona destas enumera um determinado benefício com o qual Deus favoreceu o povo eleito e mostra uma ingratidão correspondente a esse favor praticada pelo mesmo povo.

Missa dos Pressantificados

Antigamente a terceira parte da celebração da Paixão do Senhor era chamada de “Missa dos Pressantificados”. O termo não é muito próprio, pois não há consagração e, portanto, sacrifício. No entanto, este nome foi dado pois repete certo número dos ritos da Missa.

O complemento “Pressantificados” é por conta da Eucaristia consagrada na Missa da Quinta-Feira Santa. O vocábulo Pressantificados significa, dons santificados, consagrados previamente.

A comunhão da Sexta-feira Santa

Estando para terminar a Adoração da Cruz, as velas do altar são acesas e em silêncio se segue em procissão até a capela onde encontram-se as hóstias consagradas. O cortejo volta trazendo a Santa Reserva com as partículas consagradas. Entoa-se um canto. Não o Pange lingua, pois é um hino de júbilo, mas o Vexilla Regis, que é o hino da Cruz, um hino pungente.

 

Quando a procissão retorna, o celebrante coloca sobre o altar o Santíssimo Sacramento. Em seguida, se diz Orate frates (Orai Irmãos); mas ninguém responde, depois se reza a oração do Pai Nosso com o respectivo prefácio.

A Sagrada Hóstia é erguida na patena para que os assistentes possam adorá-la. Como na Missa é feita a fração e se reza a terceira oração antes da comunhão e o “Domine non sum dignus” (“Senhor eu não sou digno”). Finalmente, é feita a comunhão.

As Vésperas são recitadas sem canto e sem luzes, querendo mostrar com isso, que Nosso Senhor Jesus Cristo, a luz do mundo se apagou morrendo na Cruz.

 

O celebrante não diz: Pax Domini (A paz do Senhor), nem a primeira oração antes da comunhão, pois não se dá a paz no dia em que Nosso Senhor foi repelido pelos que o mataram com o grito: “Não temos rei”. Também não é dito: “O Senhor esteja convosco”, porque o único sacerdote, Jesus Cristo, foi morto e não pode mais falar, e não está mais conosco.

Por Emílio Portugal Coutinho.

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