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“A crise ecológica não vem sozinha, mas acompanha uma crise antropológica e moral”, diz o cardeal arcebispo de São Paulo

São Paulo (Terça, 12-01-2010, Gaudium Press) “Enquanto os responsáveis das nações raciocinarem em base a vantagens políticas, econômicas e estratégicas, o terreno continuará movediço, não oferecendo base comum para as decisões adequadas e urgentes. E a situação vai piorando”. Foi com estas palavras que o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, alertou para as consequências e descuidos que o homem perpetua na natureza.

Em seu artigo intitulado “Paz e cuidado da natureza”, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 9 de janeiro, Dom Odilo recorda a mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial da Paz: “se queres a paz, preserva a criação”.

Para o arcebispo, a mensagem do Papa não podia ser mais atual e oportuna porque, na compreensão cristã, a palavra “criação” se refere ao “conjunto da natureza, do cosmos e de tudo aquilo que não é o próprio Deus”.

Com relação à última conferência sobre o Clima realizada recentemente em Copenhague, Dom Odilo afirmou que ela bem que poderia ter trazido “mais esperança para o futuro da vida, mas ficou aquém do esperado”.

“Enquanto os responsáveis das nações raciocinarem em base a vantagens políticas, econômicas e estratégicas, o terreno continuará movediço, não oferecendo base comum para as decisões adequadas e urgentes. E a situação vai piorando”, assinalou.

Segundo o cardeal, Bento XVI destacou a dimensão “eminentemente ética” da crise ecológica na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz assim como fizera o Papa João Paulo II na sua mensagem para o dia 1º de janeiro de 1990, onde havia abordado o tema “paz com Deus, paz com toda a criação”.

Para Dom Odilo, as questões ambientais já começam a ter “profundo impacto” no exercício dos direitos humanos, como o direito à vida, à alimentação, à saúde, á moradia digna, ao trabalho e ao desenvolvimento. “Como atender a tudo isso sem causar ulteriores danos ao equilíbrio ambiental?”, questionou.

De acordo com o arcebispo metropolitano, a “crise ecológica não vem sozinha, mas acompanha uma crise antropológica, cultural e moral” e o Papa Bento XVI apontou, em sua mensagem, para a “necessária revisão do modelo de desenvolvimento que hoje orienta as políticas econômicas e as relações do homem com a natureza”.

“Continuaremos a ver a natureza como um depósito de riquezas e recursos prontos para serem apropriados pelo homem de maneira gulosa, deixando atrás de si destruição e lixo e fumaça?”, continua o arcebispo em sua análise.

“Deveríamos”, prossegue Dom Odilo, “compreender-nos” como administradores e zeladores de um patrimônio que está sim, à nossa disposição, “mas não apenas para nós” como também “para os outros no presente e no futuro”.

Dom Odilo ressalta que muito da crise ecológica existe porque o homem tende a se considerar “senhor absoluto do mundo, não reconhecendo o desígnio de Deus”. Para o purpurado, o ser humano recebeu o encargo de “cultivar e guardar a terra” não de maneira arbitrária, “tiranizando-a e submetendo-a aos seus desejos desordenados”.

“Infelizmente, muitos se recusam a exercer sobre o ambiente um governo responsável e as consequências não se fazem esperar. Quando a natureza não é respeitada, ela se revolta contra seu agressor”, afirmou.

Dom Odilo segue seu artigo ao dizer que a terra e a natureza pertencem à “humanidade inteira” e seu uso privado não deve comprometer o bem comum e que o “atual” ritmo de exploração levanta “sérias preocupações” sobre a disponibilidade de alguns recursos naturais essenciais, não só para a geração presente, mas ainda mais para as futuras.

“A comunidade internacional e os governos nacionais devem tutelar, mediante instrumentos jurídicos acertados, o ambiente, os recursos naturais e o clima, tendo bem em conta a solidariedade para com as populações mais pobres”, assinalou.

Ao final do artigo, o arcebispo de São Paulo advertiu que esses projetos de domínio sobre os recursos naturais estão na “origem das guerras e tensões entre os povos” e que, se persistir a atual degradação ambiental, “são previsíveis sérias disputas futuras, migrações em massa, convulsões sociais e a miséria de muitos”.

“Quem duvida que o futuro da paz depende do cuidado da natureza? E esta é uma tarefa comum de toda a família humana; obra de uma solidariedade sempre mais global”, concluiu Dom Odilo.

 

 

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