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No tempo em que os ministros rezavam o terço

As classes dirigentes deveriam velar pelos interesses espirituais e materiais do povo, dando exemplo mais do que discursos.

Cheapside and Bow Church engraved by W.Albutt after T.H.Shepherd publ 1837 edited

Redação (14/06/2021 11:05, Gaudium Press) Nada há de mais interessante do que a História. Ela registra fatos e situações que nem o mais hábil romancista seria capaz de imaginar.

Consideremos, por exemplo, o pequeno episódio acontecido no interior de uma carruagem francesa, em meados do século XIX, quando os ventos anticlericais ainda sopravam com força:

França, 1826. Uma espaçosa diligência se desloca em direção a Lyon. Dentro dela, seis passageiros anseiam pelo momento da chegada ao destino.

Um deles, já avançado na idade, com uma desgrenhada barba branca, decide ocupar-se em agredir verbalmente um jovem sacerdote que, sentado em um canto, reza seu breviário.

Diante do silêncio do eclesiástico, o anticlerical se exalta e começa a soltar cada vez mais a língua:

—Eu trabalho na Administração Nacional, e tenho direito a dizer o que penso. Aposto que esse corvo não aguentará mais e se verá obrigado a descer na próxima parada, falava, rindo às gargalhadas.

Ao lado do sacerdote viajam dois senhores bem apessoados que também atraem os dardos do velho anticlerical:

—Devem ser dois jesuítas; aposto 100 francos que os faço saltar também.

Nesse momento, a diligência passa por uma dessas típicas aldeias do interior da França, exatamente quando o dobrar dos sinos convida à oração do Angelus.

Os dois senhores se persignam, e rezam a saudação a Nossa Senhora, provocando no velho ateu uma explosão de risos e sarcasmos contra os “corvos”.

Porém eles permanecem impassíveis. Dissimuladamente trocam entre si um sorriso cúmplice com certa nota de picardia.

— Meu caro Conde, é hora de rezar meu terço. Quer me acompanhar?

— Claro, caro Visconde.

— Eu os acompanho, se me permitirem — interveio o jovem sacerdote.

O ambiente muda. O anticlerical sente-se mal, desagradado. O riso se lhe congela nos lábios.

Quando terminam de rezar, a diligência chega à parada seguinte. O sacerdote, ao descer, pergunta aos desconhecidos:

— Posso saber vossos nomes, senhores?

— Claro. Visconde Mathieu de Montmorency, ministro de Relações Exteriores, para servi-lo.

— Conde Veillèle, Presidente do Conselho de Ministros e Ministro das Finanças, às suas ordens.

Todos os passageiros ficam boquiabertos. O “funcionário da Administração Nacional” não sabe onde esconder a cabeça. O Conde de Veillèle volta-se para ele e diz-lhe:

—Acho que o senhor perdeu a aposta; deve pagar 100 francos.

O irreverente ateu vê-se obrigado a desembolsar a quantia. O presidente do Conselho de Ministros voltou-se para o não menos surpreso sacerdote, entrega- lhe o dinheiro e lhe diz:

— Para as obras de caridade de sua paróquia, senhor padre.

 

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n.2, junho 2002.

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