Gaudium news > “A Cruz não é o símbolo da vitória da morte”, disse Bento XVI na Via-Crúcis do Coliseu

“A Cruz não é o símbolo da vitória da morte”, disse Bento XVI na Via-Crúcis do Coliseu

2011-04-22T205158Z_1550104740_GM1E74N0DO801_RTRMADP_3_POPE.JPG
Segundo Bento XVI, a Cruz de Cristo é o
chamado de Deus  para sermos “‘homens
novos’

Roma (Sábado, 23-04-2011, Gaudium Press) Pouco depois das nove da noite, – e inspirado pelas meditações da Irmã Maria Rita Piccione, da Ordem de Santo Agostinho, residente do Monastério dos Quatro Santos Coroados em Roma – o Papa Bento XVI presidiu o exercício da Via-Crúcis no Coliseu romano, como é tradição das Sextas-Feiras Santas.

Ali, no mesmo lugar em que a voluptuosa sede de sangue de um império fez morrer dezenas de milhares de cristãos para diversão, o Santo Padre fez o elogio ao sacrifício de Cristo.

“Esta noite, na fé, acompanhamos Jesus, que percorre o último trecho do seu caminho terreno, o trecho mais doloroso: o do Calvário. Ouvimos o alarido da multidão, as palavras da condenação, o ludíbrio dos soldados, o pranto da Virgem Maria e das outras mulheres. Agora mergulhamos no silêncio desta noite, no silêncio da cruz, no silêncio da morte. É um silêncio que guarda em si o peso do sofrimento do homem rejeitado, oprimido, esmagado, o peso do pecado que desfigura o seu rosto, o peso do mal. Esta noite, no íntimo do nosso coração, revivemos o drama de Jesus, carregado com o sofrimento, o mal, o pecado do homem”, disse o Papa.

Em suas palavras à grande multidão de fiéis presentes nos arredores do Coliseu, ao final da celebração das 15 estações, Bento XVI recordou a desolação que se seguiu à morte do Homem-Deus:

“E agora, que resta diante dos nossos olhos? Resta um Crucificado; uma Cruz levantada no Gólgota, uma Cruz que parece determinar a derrota definitiva d’Aquele que trouxera a luz a quem estava mergulhado na escuridão, d’Aquele que falara da força do perdão e da misericórdia, que convidara a acreditar no amor infinito de Deus por cada pessoa humana. Desprezado e repelido pelos homens, está diante de nós o ‘homem de dores, afeito ao sofrimento, como aquele a quem se volta a cara’ (Is 53, 3)”.

No entanto, ainda conforme o pontífice, o vulto da morte e a aparente derrota, perceptíveis no símbolo máximo dos cristãos, são rasgados pela verdadeira mensagem, pela mais importante interpretação, percebida a partir da ótica cristã:

“Fixemos bem aquele homem crucificado entre a terra e o céu, contemplemo-lo com um olhar mais profundo, e descobriremos que a Cruz não é o sinal da vitória da morte, do pecado, do mal, mas o sinal luminoso do amor, mais ainda, da imensidão do amor de Deus, daquilo que não teríamos jamais podido pedir, imaginar ou esperar: Deus debruçou-Se sobre nós, abaixou-Se até chegar ao ângulo mais escuro da nossa vida, para nos estender a mão e atrair-nos a Si, levar-nos até Ele. A Cruz fala-nos do amor supremo de Deus e convida-nos a renovar, hoje, a nossa fé na força deste amor, a crer que em cada situação da nossa vida, da história, do mundo, Deus é capaz de vencer a morte, o pecado, o mal, e dar-nos uma vida nova, ressuscitada. Na morte do Filho de Deus na cruz, há o gérmen de uma nova esperança de vida, como o grão de trigo que morre no seio da terra”.

2011-04-22T202347Z_794604912_GM1E74N0CCH01_RTRMADP_3_POPE.JPG
Freiras portam a Cruz durante cerimônia da Via Crucis liderada pelo Santo Padre

Citando Santo Agostinho, Bento XVI anuncia ao mundo a mensagem da qual a Cruz de Cristo é portadora: “‘Tende fé! Vireis a Mim e haveis de saborear os bens da minha mesa, como é verdade que Eu não recusei saborear os males da vossa mesa… Prometi-vos a minha vida… Como antecipação, franqueei-vos a minha morte, como que para vos dizer: Convido-vos a participar na minha vida… É uma vida onde ninguém morre, uma vida verdadeiramente feliz, que oferece um alimento incorruptível, um alimento que restabelece e nunca acaba. A meta a que vos convido… é a amizade como o Pai e o Espírito Santo, é a ceia eterna, é a comunhão comigo … é participar na minha vida’ (cf. Discurso 231, 5)”.

O Papa disse, por fim, que a Cruz de Cristo é a possibilidade e o chamado de Deus a abandonar o “homem velho”, para sermos “‘homens novos’, mulheres e homens santos, transformados e animados pelo vosso amor”.

Na tarde de ontem, na Basílica Vaticana, o Santo Padre presidiu também a celebração da Paixão do Senhor. Na ocasião, a homilia esteve a cargo de Padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia.

 

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas