Explicação sobre as cerimônias da Semana Santa: Quinta-feira Santa
No primeiro dia do Tríduo Pascal, também conhecido como Quinta-feira Santa, celebramos a instituição da Sagrada Eucaristia e também do Sacramento da Ordem.
Redação (06/04/2023 09:00, Gaudium Press) O período que conhecemos como Tríduo Pascal são os três dias que precedem a solenidade de Páscoa: Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado de Aleluia. Santo Agostinho relata que essa celebração foi iniciada a partir do século IV.
A Quinta-feira Santa
No primeiro dia do Tríduo Pascal, também conhecido como Quinta-feira Santa, celebramos a instituição da Sagrada Eucaristia e também do Sacramento da Ordem. Duas instituições que bem mereceriam comemorações de alegria. Entretanto, os festejos são evitados.
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O clima de dor e o ambiente de luto da Semana Santa faz com que estas manifestações de júbilo não sejam exteriorizadas. Por este mesmo motivo, a festa da instituição da Sagrada Eucaristia foi transferida para a solenidade de Corpus Christi.
A Missa do Crisma
Durante a Missa matutina da Quinta-feira Santa, também chamada Missa do Crisma, o Bispo na catedral celebra o rito da Benção dos Santos Óleos.
Os óleos que o Bispo abençoa são:
1 – o óleo dos enfermos: usado para a extrema-unção e para a benção dos sinos;
2 – o Santo Crisma, no qual: são ungidos os recém-batizados; são marcados com o sinal da cruz os que receberão o sacramento da confirmação; são ungidas as mãos dos sacerdotes; são ungidas as cabeças dos Bispos; assim como são ungidas a igreja e os altares em sua dedicação.
3 – o óleo dos Catecúmenos, que estão se preparando para receber o sacramento do Batismo.
(Leia também: Tríduo Pascal: o que é, como é celebrado?)
A Benção dos Santos Óleos
O rito da benção dos santos óleos é iniciado após a homilia, quando um cortejo de ministros ou diáconos entra na igreja levando consigo os santos óleos, na seguinte ordem:
Primeiro, o recipiente dos perfumes, caso o Bispo queira fazer pessoalmente a mistura do crisma; em seguida, o vaso do óleo dos catecúmenos, se precisar ser abençoado; depois o vaso com o óleo dos enfermos. E por fim, o óleo destinado ao crisma.
O diácono que leva o vaso para o santo crisma apresenta-o ao Bispo, dizendo em voz alta: “Eis o óleo para o Santo Crisma”. O Bispo recebe-o e entrega-o a um dos diáconos assistentes que o coloca sobre uma mesa para este fim preparada.
O mesmo fazem os que levam os vasos do óleo dos enfermos e dos catecúmenos. O primeiro diz: “Eis o óleo dos enfermos”; e o outro: “Eis o óleo dos catecúmenos”. E o Bispo recebe-os do mesmo modo como recebeu o óleo para o Santo Crisma.
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Os óleos são abençoados em momentos diferentes. A do óleo dos enfermos é feita antes do fim da Oração eucarística; a do óleo dos catecúmenos e a consagração do crisma, após a comunhão. Mas é permitido abençoá-los todos, após a liturgia da palavra.
A Missa Solene da Quinta-feira Santa
Na Missa Solene da Quinta-feira Santa a Igreja parece, por um instante esquecer de sua dor para festejar o grande mistério da Eucaristia. No início desta celebração eucarística vespertina, nota-se o caráter jubiloso: os cantos são alegres e toca-se o órgão.
O silêncio dos sinos, do órgão e do aleluia
No Gloria in excelsis Deo, os sinos repicam para depois se calarem até o Glória do Sábado de Aleluia. Este emudecer dos sinos recorda a mudez dos apóstolos, que permaneceram calados durante toda a paixão, ao invés de erguer a voz em defesa do seu Mestre, como lhes competia. Ao término do Gloria in excelsis Deo, já não se toca mais o órgão e não se canta o Aleluia manifestando a grande tristeza pela Paixão e morte do Salvador.
O Cumprimento da Paz e as Cruzes cobertas com véu
Também não há o cumprimento da paz, significando com isto a repugnância inspirada pelo beijo do traidor Judas, exatamente nas circunstâncias da Quinta-feira Santa. Além disso, as cruzes dos altares são cobertas, exceto a do altar-mor, que será coberta com véu branco, durante a Santa Missa. E permanecerá até o sábado Santo.
Uma única Missa em cada igreja
Para que seja ainda mais marcante e sugestiva a recordação da Ceia suprema em que Nosso Senhor -único consagrante- deu-se por suas próprias mãos aos apóstolos, é celebrada apenas uma Missa em cada igreja.
Os outros sacerdotes que não celebram a Missa, assistem a ela portando estolas e recebem a comunhão da mão do Bispo ou do principal dignatário presente, que normalmente é quem celebra. Desta forma recorda-se a comunhão que os apóstolos receberam das mãos do próprio Nosso Senhor, no dia em que foi instituído o sacramento da Eucaristia.
A cerimônia do Lava-pés
Após a homilia, segue-se com o Lava-pés. Esta tradicional cerimônia aparece na liturgia por volta do século IV. Antigamente era chamada “mandato“, nome tomado da palavra inicial da primeira antífona: “Mandatum novum“.
Em Roma, tradicionalmente o Papa lava os pés de doze sacerdotes. Nas catedrais, o Bispo lava os pés de doze moradores de rua. Em seguida, enxuga-os e os beija com respeito, entregando uma esmola a cada um.
A cerimônia do Lava-pés recorda quando Nosso Senhor Jesus Cristo, antes instituir a Eucaristia, lavou os pés dos doze apóstolos (Jo 13, 1-17). Com este ato, ele quis ensinar que a pureza e a humildade são duas virtudes essenciais, muito convenientes para a digna recepção do sacramento da Eucaristia.
Qual o significado da cerimônia do Lava-pés?
A cerimônia do Lava-pés é realizada por diversos motivos. Um deles é o de renovar a memória daquele ato de humilhação com que Jesus Cristo se baixou afim de lavar os pés dos seus Apóstolos.
(Leia também: O significado do Círio Pascal)
Além disso, Ele mesmo exortou os apóstolos e, na pessoa deles, todos os fiéis, a imitarem o seu exemplo. Por fim, Cristo quis nos ensinar que devemos purificar o nosso coração de toda a mancha, e praticar, uns para com os outros, os deveres de caridade e humildade cristã.
A Transladação do Santíssimo Sacramento
Na Quinta-feira Santa são consagradas hóstias suficientes para a comunhão do dia e da Sexta-feira Santa. Desse modo, serão tributadas especiais adorações ao Sacramento da Eucaristia no dia em que foi instituído, e poderá ser celebrada a liturgia na Sexta-feira santa, ocasião em que não há Missas.
Ao término da Missa, o sacerdote fica de pé diante do altar, põe incenso no turíbulo e, ajoelhando-se, incensa três vezes o Santíssimo Sacramento. Recebendo o véu umeral, toma o cibório e o recobre com o véu.
Em seguida, o Santíssimo Sacramento é levado em procissão, debaixo de um pálio e com a maior pompa, até uma capela devidamente ornada num lugar à parte, chamado ‘Santo sepulcro’. Durante a procissão, é cantado o hino ‘Pange língua’.
Chegando ao lugar da reposição, o sacerdote deposita o cibório no tabernáculo, coloca incenso no turíbulo, ajoelha-se e incensa o Santíssimo Sacramento. Em seguida, fecha-se o tabernáculo.
Após alguns momentos de adoração o sacerdote e os ministros fazem a genuflexão e voltam para a sacristia.
A desnudação dos altares
A alegria se mistura com o luto. É o silêncio do órgão, dos sinos e das campainhas, estas últimas são substituídas pela matraca durante a Missa, recordando assim a traição de Judas. A desnudação dos altares significa a desnudação de Jesus, a fim de ser açoitado e pregado na Cruz.
Regressando do altar da exposição, canta-se as Vésperas. O oficiante, de estola roxa e assistido por seus ministros, começa a cerimônia, tirando dos altares as toalhas com todos os enfeites que as adornam.
Deixa-se aberta a porta do tabernáculo, para indicar que não está presente o Hóspede Divino. As adorações são dirigidas, daí em diante, à cruz e é diante dela que são feitas as genuflexões.
Enquanto a desnudação dos altares é feita, recita-se o salmo 21, no qual Davi profetizou a Paixão do Salvador com as circunstâncias da sua morte no Calvário: “Deus Deus meus, respice in me” (“O Deus, Deus meu, olhai para mim”) com a antífona “Diviserunt sibi vestimenta mea…” (“Repartiram entre si minhas vestes e sobre meu manto lançaram à sorte”).
(Leia também: As cerimônias da Semana Santa – Sábado de Aleluia)
O comovente simbolismo desta cerimônia recorda-nos uma hora das mais angustiosas da Paixão, quando Jesus foi abandonado pelos seus e despojado pelos verdugos que tiraram à sorte a túnica inconsútil.
O Divino Mestre nos ensina dessa forma que, para celebrar dignamente a sua Paixão, devemos nos despojar do homem velho, isto é, de todo o afeto mundano e voltarmos para Deus.
Por Emílio Portugal Coutinho.
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