Virgem Maria: a Arca de Deus
Ainda sob o calor da celebração da solenidade da Assunção de Nossa Senhora, Deus nos recorda que o seu tesouro mais precioso nos foi entregue. Ora, incalculável dádiva não pode ser desdenhada por nós.
Redação (22/08/2022 16:24, Gaudium Press) Imaginemos que, em certa cidade, reside um abastado proprietário de terras, o maior de sua época. Este honesto senhor quer beneficiar aqueles que trabalharem em seu campo, dando-lhes benesses muito mais opulentos do que mereceriam. Para tal, envia emissários convidando os transeuntes a virem para o seu campo, a fim de cultivarem suas terras, concedendo, em paga, a posse delas e parte dos tesouros contidos em sua valiosa arca de ouro.
Entretanto, apesar de pouquíssimos convidados darem ouvidos ao convite feito, a bondade daquele proprietário não se contenta com o número de trabalhadores aos quais beneficiará; e decide então distribuir pelas ruas os objetos valiosos de sua arca, para convencer os habitantes daquela cidade a virem aos seus campos.
Para surpresa sua, muitos rejeitam aqueles tesouros, outros insultam os mensageiros que carregavam a arca, e, lamentavelmente, não poucos procuram atirá-la ao chão, com o intuito de destruí-la, pois afirmam que seu burgo lhes atrai mais dos que os tesouros oferecidos, visto que são mais sedutores. Contudo, uns poucos, vendo a generosa dádiva daquele senhor, partem para as suas searas, com o intuito de servir a tão bondoso proprietário.
Qual não é a surpresa deles quando, em troca, recebem não apenas terras e parte do tesouro, mas, toda a arca de ouro!
“Mas esta é uma cidade de loucos!” – pensarão alguns leitores.
Sim! Esta história ocorre em nosso século [de loucos!?]. Esta cidade e seus habitantes somos nós; o proprietário, Deus; a arca rejeitada, Maria Santíssima, e os trabalhadores, os fiéis filhos da Igreja.
A Arca de Deus
Por esses dias, ao ouvirmos a primeira leitura da Missa da vigília da Assunção de Nossa Senhora, constatamos que Davi convocou todo Israel em Jerusalém, com o intuito de transportar a arca do Senhor para o lugar que ele havia preparado para seu abrigo (Cf. 1 Cr 15,3). Com efeito, Deus quis convocar toda a Terra em Jerusalém, o seio da Santa Igreja, a fim de transportar em seus corações a Arca do Senhor, a Virgem Imaculada, para o lugar que lhes havia preparado: o Reino de Maria. [1]
Deus quis dar aos homens um tesouro preciosíssimo, a sua própria Mãe Santíssima, riquíssima de insondáveis virtudes e graças, mas foi assaz rejeitada e esquecida nestes últimos tempos. Nem mesmo com suas inúmeras aparições, como em Lourdes ou em Fátima, os homens foram capazes de dar ouvidos às suas palavras e profecias, pois o mundo os fascinou com as suas fantasias e prazeres sedutores.
Ora, em Fátima, Deus prometeu o estabelecimento de seu Reino mediante o triunfo do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria; mas, os homens, o que vêm escolhendo? O reino de satanás?
Loucos! Isso sim, são aqueles que optam pelos males do mundo e do pecado, em lugar do tesouro mais precioso de Deus: Maria!
Com efeito, onde estão as promessas de paz e tranquilidade que o mundo anunciou? Guerras, mortes, desentendimentos, injustiças, escândalos e toda sorte de maldades, foi o que semeou este século, conforme já predissera Nossa Senhora em Fátima. Pelo contrário, aqueles que se decidiram pelo serviço ao Senhor são beneficiados com os tesouros das graças e virtudes de Nossa Senhora. São revestidos com os trajes daquele Reino que se aproxima, isto é, da vestimenta de integridade, de ortodoxia e de fé. E por isso, recebem também em troca a perseguição e a incompreensão, pois levam ao mundo a presença deste Divino Proprietário, o próprio Deus, rejeitado por aqueles que pertencem ao mundo.
Assunção gloriosa
Atualmente, tem-se a impressão de que estamos como que à maneira dos Apóstolos, quando viram a partida de Nossa Senhora deste mundo. Certamente a Assunção causou neles certa constrição e dor pela ausência d’Aquela que alongava a presença de nosso Senhor. Apesar disso, eles estavam com as almas alegres, pois criam que ela e Ele continuavam presentes em seus corações.
Porém, neste mundo, onde está Nossa Senhora? Onde podemos encontrar seus tesouros, sentir sua presença? Tem-se a impressão de que nos dias atuais Nossa Senhora passa por uma “dormição” em relação ao mundo, visto que tentam, em vão, jogar esta Arca ao solo; desprezam-na e até insultam-na, como fazem com a Santa Igreja.
Entretanto, devemos recordar que ela permanece nos corações daqueles que a servem com integridade de vida, quaisquer que sejam esses fiéis batizados.
Esta ausência que sentiram os Apóstolos, entrementes, preparava o triunfo e a maior glória de Deus através da pessoa de Nossa Senhora. Por isso, de certo modo, a vingança de Deus contra a obra de Satanás chegou ao seu cume com a Assunção de Maria – precedida por sua “dormição” –, sendo mais humilhante para os infernos a subida aos Céus d’Aquela cujo calcanhar esmaga eternamente a cabeça da serpente, do que a própria Ressurreição e Ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo.
Assim, em nossos dias, tais acontecimentos parecem ser revividos sobrenaturalmente, pois quanto mais a presença de Nossa Senhora semelha se afastar deste mundo, a sua presença tanto mais próxima está, bem como sua intervenção misericordiosa.
Carregar esta Arca do Altíssimo – a devoção a Nossa Senhora – com fé altiva e altaneira é a súplica que Deus faz presentemente aos seus filhos, ainda sob o calor da solenidade da Assunção.
Sejamos, pois, daqueles que seguem com coragem este “Divino Proprietário”, em meio a um mundo que desprezou sua bondade e suas graças, certos de que receberemos em troca a posse da bem aventurança, e o seu mais precioso tesouro: Maria Santíssima!
Por Guilherme Motta
[1] Paráfrase ao livro das Crônicas, (1Cr 15,3).
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