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Uruguai: Papa aprova milagre para beatificação de Dom Jacinto Vera

Dom Jacinto Vera, primeiro Bispo de Montevidéu, “guiou a Igreja sul-americana, mormente nos momentos difíceis, revitalizando a vida e a graça do Evangelho entre todos, sem distinção”.

Dom Jacinto Vera

Redação (30/12/2022 10:51, Gaudium Press) Os Bispos e os católicos do Uruguai receberam com entusiasmo o anúncio da aprovação, pela Santa Sé, do milagre obtido por intercessão de Dom Jacinto Vera y Duran, primeiro Bispo de Montevidéu, que levará à beatificação do Servo de Deus.

Após o anúncio, o cardeal Daniel Sturla, arcebispo de Montevidéu, disse que a Igreja uruguaia espera que a beatificação ocorra em maio de 2023, na capital do país.

O processo de canonização de Dom Jacinto Vera começou em 1935. Anos depois, a Igreja determinou que havia causas para dar início ao processo, outorgando-lhe o título de Servo de Deus, primeiro passo para ser declarado santo. Em 2015, o Papa Francisco o declarou Venerável, e no último dia 17 de dezembro, a Congregação das Causas dos Santos, com a aprovação do Santo Padre, reconheceu o milagre que permitirá a sua beatificação.

O milagre reconhecido pelo Papa Francisco foi a cura de María del Carmen Artagaveytia,  ocorrido em 1936. Consta no processo que María del Carmen, então com 14 anos, após uma operação de apendicite, contraiu uma infecção que se agravou a ponto de colocar a sua vida em risco. Um tio da enferma levou ao hospital uma fotografia, com uma relíquia do Servo de Deus, pedindo que fosse colocada sobre a ferida e que toda a família rezasse. Na mesma noite, a febre diminuiu e cessaram as dores. Na manhã seguinte, os médicos constataram a completa cura da menina, o que foi considerado cientificamente inexplicável. María del Carmen Artagaveytia viveu até os 89 anos, falecendo em 2010. O caso estava em estudo pelo Vaticano desde 2017.

A beatificação permite que a imagem de Dom Jacinto Vera seja venerada em igrejas e altares, além de designar um dia próprio para celebrar sua vida e figura, como acontece com os santos.

Renovação do ardor missionário

A Conferência Episcopal do Uruguai publicou um comunicado comemorando a notícia, no qual destaca que a futura beatificação “é motivo de alegria e gratidão para todo o Uruguai. Dom Jacinto Vera foi missionário e apóstolo, na cidade e no campo. Ele percorreu, três vezes, o país inteiro, socorrendo os feridos de guerras civis e fomentando missões de paz. Considerado pai dos pobres e amigo dos sacerdotes, promoveu a integração dos cristãos leigos na vida da sociedade, a educação católica e a imprensa católica. Fundou o Seminário da capital para a formação de futuros sacerdotes e incentivou a vinda de numerosas Congregações religiosas ao país: Salesianos, Dominicanos, Vicentinos, Capuchinhos, Jesuítas…”.

Os Bispos uruguaios destacaram ainda que Dom Jacinto Vera “guiou a Igreja sul-americana, mormente nos momentos difíceis, revitalizando a vida e a graça do Evangelho entre todos, sem distinção. Ao término da sua vida terrena, o Bispo contava com uma admiração unânime da sociedade do seu tempo, até de seus adversários. Sua iminente beatificação leva-nos a renovar o nosso ardor missionário e o desejo de servir o país e o povo uruguaio”.

Quem foi Dom Jacinto Vera?

Dom Jacinto Vera y Duran nasceu em 3 de julho de 1813 em um navio, no Oceano Atlântico, durante a viagem de sua família para o Uruguai, proveniente das Ilhas Canárias. Ao chegar ao país, o jovem trabalhou com a sua família na lavoura, em Maldonado e Toledo. Aos 19 anos, sentiu-se chamado para a vida sacerdotal. Por isso, foi dispensado de servir o exército. Não tendo condições de estudar no país, por falta de institutos religiosos, mudou-se para Buenos Aires, Argentina, onde fez a sua formação e recebeu a ordenação presbiteral. Celebrou sua Primeira Missa em 6 de junho de 1841.

Após a Ordenação foi designado como vigário paroquial e, depois, pároco da Villa de Guadalupe, em Canelones, onde trabalhou 17 anos. Em 4 de outubro de 1859, foi nomeado Vigário Apostólico do Uruguai, recebendo a ordenação episcopal na Matriz de Montevidéu, em 16 de julho de 1865.

Em 1870, participou do Concílio Vaticano I. Em 1878, com a criação da diocese de Montevidéu, que abrangia todo o Uruguai, foi nomeado seu primeiro Bispo. Dom Jacinto faleceu durante uma missão apostólica, em 6 de maio de 1881. Em seu funeral, o povo já o considerava Santo.

Uma escritora convertida por Dom Jacinto

Em 2012 foi publicado o livro Dom Jacinto Vera, o missionário santo. O livro, que conta a vida do futuro Beato, tornou-se rapidamente um best-seller no Uruguai, porém, o curioso é a história de sua autora, a advogada e escritora Laura Inés Álvarez Goyoaga, que não era católica e se converteu ao investigar a vida de Dom Jacinto.

Em uma entrevista a escritora confessou que não era católica e que foi educada no anticlericalismo. “Eu não era católica, venho de uma família não católica pelos dois lados, por via materna e paterna, e também bastante anticlerical. Mas, um dia, um pouco compulsivamente, fui a uma Missa onde me encontrei com um sacerdote exemplar, agora Dom Sanguinetti, Bispo de Canelones, que me mostrou um panorama totalmente diferente da fé, e dos preconceitos que eu trazia de uma sociedade tão secularizada como a nossa”.

A partir dessa Missa, surgiu o convite para uma conferência. Ela foi, um tanto cética, mas lá, deparou com a história do Servo de Deus, e este encontro a levou a abraçar a fé católica. Ela conta: “Disse a mim mesma: vou porque vai ser algo interessante; e me encontrei com este personagem, Dom Jacinto Vera, uma maravilha que realmente mudou minha vida e me fez crescer tremendamente junto com ele, num processo de conversão na fé”.

A partir de então, ela decidiu pesquisar sobre a vida de Dom Jacinto e escreveu o livro, que fez muito sucesso no Uruguai e aproximou a vida do exemplar pastor de milhares de católicos e não crentes.

Para a escritora, “em um mundo onde o secularismo asfixia cada vez mais o católico ao âmbito privado, Dom Jacinto Vera traz de volta, através da sua mensagem de compromisso tão grande com a fé e com a missão, essa possibilidade que temos, todos os uruguaios e todos os católicos do mundo, de enfrentar as adversidades, entregar-nos à Providência e, a partir daí, conseguir resultados de excelência contra todo prognóstico negativo. A história de Dom Veras eleva a gente e nos faz viver de uma forma realmente diferente a fé e a vida de cada dia, a vida cotidiana.”

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