Uma resposta que Santa Teresinha nos dá
“O que me impulsiona a ir para o céu é o pensamento de poder acender no amor de Deus uma multidão de almas que o louvarão eternamente.” (Santa Teresinha do Menino Jesus)
Redação (01/10/2024 09:37, Gaudium Press) Hoje, dia 1º de outubro, a Igreja celebra a festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, essa surpreendente menina que viveu tão pouco, escreveu tão pouco, mas cuja vida e palavras marcariam para sempre a essência da fé e o futuro da Igreja. Ainda não vimos tudo. Na verdade, ainda não vimos nada, mas ela viu a Esposa de Cristo renovada, pronta para o retorno do triunfante Cordeiro e dedicou a sua pequena vida a esse fim. Quem viver, verá…
Como católicos, precisamos sempre nos colocar a questão da salvação de nossas almas como a mais importante da vida.
No entanto, quantos desvios teve este propósito desde que Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a sua Santa Igreja, e quão egoísta e equivocado pode ser até o nosso próprio desejo de ir para o Céu!
Ao longo de minha existência, esbarrei algumas vezes em um ponto teológico dos mais relevantes, que me causou não pequeno sofrimento espiritual. Certamente, não apenas a mim, mas a muitos, e o esfriamento da fé e o ateísmo pode ter surgido desse ponto, que, longe de ser uma dúvida pessoal é uma questão humana das mais salientes.
E a resposta veio da santa de Lisieux, cuja grandeza de penetração, ainda estamos longe de compreender.
Nosso egoísmo ao desejar o Céu
Sabemos que o caminho para o Céu é a via da santidade. Porém, ser santo é difícil: viver uma vida de desprendimento, renúncias e sacrifícios, ser continuamente tentado pelo demônio e encontrar a incompreensão em toda parte e, muito mais dolorosamente, junto dos seus e até mesmo por parte da Igreja, que muitos defenderam com a própria vida…
No entanto, o que mais nos difere dos santos não são esses aspectos, mas, sim, a intenção de alma.
Se analisarmos a vida dos santos, tomando talvez, uma dúzia deles como exemplo, veremos que a sua principal meta na vida não foi ganhar o Céu.
“Como assim, Seu Afonso? Isso que o senhor diz é uma heresia!” Não, não é, e posso provar em poucas palavras, com a ajuda de Santa Teresinha.
É claro que todo santo – seja ele santo de altar ou a profusão de santas almas anônimas que ganharam o Céu – tinha como objetivo ir para lá, estar na glória de Deus por toda a eternidade, o que é absolutamente legítimo. Porém, eles foram admitidos no Paraíso Celeste exatamente por não ser esse o seu primeiro propósito.
O que eles queriam, na verdade, era ajudar a Deus a povoar o Céu, a franquear as entradas para o maior número possível de pessoas, o que tão bem expressou Santa Teresinha: “O que me impulsiona a ir para o céu é o pensamento de poder acender no amor de Deus uma multidão de almas que o louvarão eternamente”.
Não era por ela, não era sequer pelas almas, era por Deus.
“Sede perfeitos!”
A época que em vivemos é terrível, mas os santos também enfrentaram desafios medonhos e, precisamos admitir que, muitas vezes, olhando para a perdição que suga a humanidade, sentimos uma grande tristeza por imaginar que, excetuando os Anjos, o Céu deve estar vazio, porque é difícil olhar para o aparente triunfo do pecado e acreditar que muitos de nós mereçam ir para lá.
Essa tristeza pode ter sido o primeiro impulso de muitos santos, senão de todos. Ela nos leva a sentir uma enorme dor e considerar que o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo parece ter sido em vão.
Atentem, porém, que esse pensamento é uma das mais sutis e poderosas tentações do demônio, a de acreditar que, tão pequenos e pecadores, jamais iremos para o Céu e que o sacrifício da Cruz foi em vão.
Se o mundo deu no que deu – e só Deus sabe em que mais vai dar –, é exatamente porque muitos pensaram assim, dentro e fora da Igreja.
Parece que foi havendo uma espécie de consenso: “Ora, se é tão difícil ir para o Céu, pois isso exige conversão, mudança de vida, santidade, penitências, renúncias e tantos desafios, melhor então ir relaxando as condições para entrar. Jesus disse “sede perfeitos, como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5, 48), mas, ah, somos filhos do pecado, nunca seremos perfeitos! Será que foi mesmo Jesus que disse isso? Será que não é fanatismo? Erro de interpretação? Sejamos bons e tolerantes, isso deve bastar.”
Um céu socialista e igualitário
E, de concessão em concessão, passamos a andar de braços dados com o pecado até chegar ao ponto de colocá-lo em primeiro lugar. Os valores se inverteram de tal maneira que, hoje, o pecado é não pecar e não tolerar o pecado que grassa ao nosso redor!
Desse modo, fomos deixando para trás o Deus justo para nos afeiçoarmos apenas ao Deus misericordioso, que aceita a todos indistintamente, que vai perdoar a todos no final e levar todas as almas para um imenso céu socialista e igualitário, onde não haverá mais hierarquia, preconceitos e injustiça social, e todos poderão ser felizes por toda a eternidade, não importa a religião que praticaram, o mal que fizeram, os pecados que cometeram e as falsas doutrinas nas quais acreditaram e defenderam.
Não importa nem mesmo que sejam ateus e não acreditem no Céu e que ofendam a Nosso Senhor e a Maria Santíssima da hora em que se levantam até a hora que vão dormir.
Perdoe-me quem pensa assim – e muitos pensam –, esse panorama não é do Céu, mas, sim, do inferno, porque, se o final for esse, os santos, com seus estigmas, seus martírios, suas renúncias, sua bondade e a perseguição que sofreram, não passaram de uns idiotas estúpidos que perderam a vida servindo a um Deus enganador.
Ser santo não é suavizar o caminho do pecador
Mas, enfim, como eu dizia, o primeiro impulso completamente legítimo de um cristão é desejar ir para o Céu, consciente de que precisará carregar a própria cruz.
O próximo passo, aquele que nos muda de aspirantes ao Céu a almas santas, é o amor. Um amor a Deus que nos dá o impulso de querer ajudá-Lo a levar o máximo possível de almas para o Céu, não mudando a essência das Sagradas Escrituras para facilitar as coisas e suavizar o caminho, mas assumindo sobre nós o necessário sacrifício para a verdadeira conversão das almas.
No entanto, não é passando a mão na cabeça de pessoas onde já crescem os chifres do demônio que vamos atingir esse objetivo.
Esse é o ponto que diferencia o cristão comum do santo. Não desejar ir ao Céu apenas por um ato de egoísmo ou busca de autorrealização. Isso pode fazer de nós criaturas melhores ou tiranos: “Eu indo ao Céu é o que importa. Eu e minha família. Bem, algumas pessoas de minha família nem faço questão…”
Uma Santa Teresinha, um Santo Agostinho, um São Tomás de Aquino, um Santo Afonso Maria de Ligório, um São Francisco de Assis, um Santo Antônio, uma Santa Teresa D’ávila, um São João Bosco, um Santo Padre Pio e tantos outros desejaram viver de tal forma que pudessem traçar um caminho que levasse ao verdadeiro e único Caminho, Nosso Senhor Jesus Cristo, para que multidões chegassem ao Céu.
Muito raro vencer esse tipo de tentação
Hoje, infelizmente, vivemos um esfriamento da fé como nunca houve, e as pessoas, há muito tempo, nem ao Céu almejam mais. Trocam-no pela perspectiva de uma boa vida na Terra, e estão dispostas a fazer qualquer tipo de coisa e a gastar qualquer quantia de dinheiro para ter saúde, beleza, longevidade, posses e todo tipo de prazer material. O estrago está aí, nem precisamos falar sobre isso.
Se desejar o Céu apenas para si e para seus afetos mais próximos já é, por si, uma atitude egoísta, apesar de legítima, imagine deixar de acreditar e de desejar o Céu? “Gozemos a vida! Morreu, acabou! Deus não existe e, se existe, é muito cruel. Um Deus bom não levaria ninguém para o inferno”.
Dessa forma, ou vamos para o “céu comunista” ou não vamos para céu nenhum, porque ele simplesmente não existe – e o inferno também não: tudo é fruto do acaso.
No início deste artigo, falei sobre um ponto que sempre me intrigou.
Pela minha atividade profissional, precisei me desenvolver na área intelectual, e um intelectual enfrenta desafios muito grandes na área espiritual.
Se Nosso Senhor mostrou quão difícil seria para um rico entrar no Céu, nem há parâmetros para explicar como é isso para os homens da ciência e do saber, pois cai-se muito facilmente no erro de “seguir falsos deuses” ou de se sentir um deles.
Dessa forma, para qualquer pensador, deixar de acreditar em Deus é uma questão de tempo, porque, em aparência, e apenas em aparência, fé e lógica não se coadunam. Por isso, a fé acaba sendo relegada ao domínio dos ignorantes.
Pobres pseudossábios, que Deus tenha compaixão de sua pobre erudição! Essa é uma tentação que raros conseguem vencer.
Existe hierarquia no Céu?
Bem, a pergunta que sempre me intrigou é exatamente sobre como seria o destino das almas no Céu: uma grande festa, todo mundo igual, desfrutando das mesmas coisas, ou um céu com diferentes categorias?
Flertar com esse “céu comunista”, com um banquete divino servido em sistema de bandejão, machucou muito a alma, pois, embora eu sempre tenha desejado ir para o Céu, jamais me senti à altura de estar na presença de grandes santos, desfrutando do mesmo tipo de gozo celestial que eles.
Essa ideia equivocada, infelizmente transmitida por muitos religiosos progressistas, é fruto da doutrina do igualitarismo.
Existiria, então, uma hierarquia no Céu? Encontrei-a, como disse, há poucos dias, lendo uma despretensiosa página de um livro de meditações.
Quem a deu? Santa Teresinha. De onde ela a tirou? Das Sagradas Escrituras, das palavras de Nosso Senhor. Diz ela:
“Felizmente, há muitas moradas no Reino dos Céus. Se não houvesse senão aquelas com acesso por caminhos para mim incompreensíveis, eu lá não entraria, certamente… Mas, se há a morada das grandes almas, a dos Padres do Deserto e a dos mártires da penitência, não deixará de haver também a das criancinhas, e nosso lugar está guardado entre essas.”
Essa foi a resposta tão anelada por minha alma e finalmente encontrada nesta menina santa. O Céu é franqueado a todos e Deus veio pessoalmente ao mundo para nos garantir isso com a sua morte, ressurreição e criação de Sua Santa Igreja. Porém, esse Céu, para onde TODOS podem ir, não é um céu igualitário.
Quem prega isso são os sectários de Lúcifer, aquele que um dia se rebelou, querendo se fazer igual a Deus.
Que esse zelo devore nosso coração
Nessas muitas e infinitas moradas, que podemos imaginar ao contemplar as noites estreladas ou buscar através dos sofisticados telescópios que procuram sondar o Universo à procura de novos mundos, quiçá habitados ou habitáveis, haverá um lugar para cada um de nós.
Esse infinito que se estende para muito além da Terra compreende essas muitas moradas da Casa do Pai, onde estão as almas dos que se salvaram, dos santos, e que jamais serão acessíveis às nossas sondas, foguetes e telescópios, porque não fazem parte da realidade material.
Lá no imenso universo celeste, teremos nossa eternidade garantida, de acordo com o tamanho que Deus fez a alma de cada um de nós, pois “os que se exaltam serão humilhados e os que se humilham serão exaltados” (cf. Mt 23, 12).
Lá, os “últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” (Mt 20, 16), porque a realidade já não será vista com nossos olhos limitados, mas sob a perfeita ótica de Deus.
Por isso, a resposta foi dada a uma santa tão simples, que viveu tão pouco, mas que, sem dúvida, está nas primeiras esferas celestiais, podendo contemplar o Senhor face a face, enquanto passa a sua eternidade a fazer o bem na Terra para povoar o Céu.
Diante disso, só nos resta pedir:
“Senhor, fazei-nos tão pequeninos quanto Santa Teresinha, para que possamos manter acesa a esperança de um dia chegar ao Céu. E que o ‘zelo pela salvação das pessoas devore nosso coração’”.
Por Afonso Pessoa
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