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Tenha cuidado com o que pede para Deus!

A conformidade com a vontade de Deus não é uma atitude fácil, mas é extremamente necessária e é a maior prova de fé e confiança que podemos dar.

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Redação (25/09/2022 11:49, Gaudium Press) Desde crianças, aprendemos a pedir coisas a Deus e seguimos pela vida fazendo isso. Mas, na juventude, período da vida em que tudo parece importante e urgente, nossos pedidos são sempre uma questão de vida ou morte.

Na minha adolescência, conheci um padre que me marcou por seu bom humor e pela maneira como evangelizava os seus paroquianos. Os jovens eram muito afeiçoados a ele e sempre costumavam pedir-lhe que rezasse por suas intenções, ao que ele respondia: “Eu não! Vai que Deus atende!”

Na época, eu pensava em seguir a vida religiosa e estava participando de encontros para discernir se tinha ou não vocação. Num desses encontros vocacionais, tive oportunidade de conversar mais longamente com ele e, como os demais, pedi que ele rezasse por mim.

A inconstância

Ele então me explicou – e depois reproduziu em um sermão – porque fazia aquela brincadeira de dizer que não rezaria, porque, ‘vai que Deus atende… ’ Ele me falou com muita seriedade sobre o perigo da inconstância, que nos faz querer uma coisa hoje, outra amanhã e outra na semana seguinte e que, muitas vezes, algo que imploramos a Deus em determinado momento, como se a nossa vida dependesse daquilo, em poucos dias, pode se modificar e já não querermos mais.

O padre se chamava José Luís e em sua homilia, daquela tarde, ele disse: “Deus é Pai e nos ama e, quando pedimos algo a ele com fervor, Ele atende, mas, muitas vezes, quando a graça chega, já mudamos de ideia e não a queremos mais. Então, a bênção se torna uma maldição”.

Depois de ouvi-lo, passei a rezar de forma diferente. Eu queria seguir a vida religiosa, mas minha família se opunha, então eu me ajoelhava e pedia fervorosamente a Deus que “amansasse” o coração da minha mãe e a fizesse concordar com minha entrada no seminário. Eu sofria muito com a resistência dela e não entendia por que Deus não a convencia de que aquilo era o melhor para mim e me deixava partir.

Angustiado, eu perguntei àquele padre que tanto me inspirava e me fazia imaginar o sacerdócio como o estado de vida mais perfeito que havia sobre a terra: “Padre, se estou oferecendo a minha vida a Deus para servi-lo, para fazer o bem às pessoas, por que Ele não me ajuda fazendo a minha mãe compreender que isso é o melhor para mim?”

Ele, então, me respondeu com outra pergunta: “Você acha que isso é o melhor para você, mas você já se perguntou se isso é o melhor para Deus?”

Eu tinha 15 ou 16 anos na época e meu raciocínio não conseguiu atingir a profundidade da sua pergunta e eu saí da sala um pouco decepcionado. Contudo, ao ouvir a sua homilia, pela primeira vez eu pensei: E se isso não for o melhor para mim, e Deus me der, por causa da minha insistência e eu me arrepender depois e me tornar um mau sacerdote?

Conformidade com a vontade de Deus

Muitas coisas aconteceram, minha vida tomou outros rumos, o padre mudou de paróquia, eu mudei de cidade e nunca mais tive notícias dele, porém, nunca o esqueci. Agora, já entrando na velhice, outro sacerdote, jovem e entusiasmado, me fez lembrar o Pe. José Luís. Esse padre costuma recomendar às pessoas que leiam um livrinho de Santo Afonso Maria de Ligório chamado Tratado da Conformidade com a vontade de Deus.

Eu nunca tinha ouvido falar desse livro e não tenho ideia se o Pe. José Luís o leu, entretanto, toda a sua vida parecia pautada no que Santo Afonso diz ali, naquelas poucas, mas tão profundas páginas.

Ele fala que nós devemos nos conformar com a vontade de Deus em tudo, até em coisas simples como não reclamar se chove, se faz calor ou se faz frio, e explica que estar conformado com a vontade de Deus não significa não rezar, mas rezar do jeito certo.

Como sou muito observador, passei a prestar atenção naquelas pessoas mais ostensivas, que rezam e pedem que se reze por elas, falando quais são as suas intenções. E vi muitos casos em que os fiéis foram atendidos por Deus e ficaram tremendamente decepcionados, pois o que pediam demorou a chegar e, quando chegou, já não era tão necessário ou desejado. Cheguei a ver pessoas rezando para Deus retirar aquilo que lhes havia dado e que agora viam como um problema.

É totalmente legítimo apresentarmos as nossas intenções a Deus e muito apropriado que o façamos por intermédio de Nossa Senhora, todavia a oração mais perfeita é a que Ela própria nos ensinou: “Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra.” Porque Deus sabe o que é melhor para nós. Nós não o sabemos.

A conformidade com a vontade de Deus não é uma atitude fácil, mas é extremamente necessária e é a maior prova de fé e confiança que podemos dar. Não significa abrir mão de nosso livre-arbítrio, como muitos alegam, mas usarmos o nosso livre-arbítrio para nos colocarmos sob o irrestrito governo de Deus.

Serenidade e confiança

Eu não sei se eu teria sido mais feliz na vida religiosa, mas sei que tive a vida que o Senhor escolheu para mim e a felicidade, embora tivesse flertado com ela nos ensinamentos daquele padre de minha mocidade, só a encontrei agora, quando já se aproxima o fim de meus dias, quando troquei a ansiedade e a angústia pela serenidade e a confiança.

Conto essa história numa tentativa de trazer alívio para muitas pessoas para as quais rezar ainda significa carregar pedras e cujas orações não atendidas despertam nelas a imaturidade de se depreciarem e sentirem pena de si mesmas ou a arrogância de se rebelarem contra Deus.

Como nos ensinou São Paulo: “Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido” (ICor 13, 12). Portanto, dia chegará que compreenderemos o que agora não é possível compreender. Portanto, enquanto nossa visão é turva e nosso entendimento incompleto, apenas confiemos e, se não temos forças suficientes para renunciar aos nossos desejos e ao nosso hábito de pedir o que achamos que seja adequado para nós, apenas fiquemos em silêncio. O resto, Deus fará.

Por Afonso Pessoa

 

 

 

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