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Seriedade no ver, julgar e agir

Todo homem deve procurar cumprir a tarefa ou exercer a função com seriedade. De Deus tudo recebemos e a Ele pertence tudo quanto fazemos, porque até as nossas capacidades pessoais e nosso próprio trabalho foram criados para sua glória. 

Talentos

Redação (06/11/2021 16:58, Gaudium Press) A rapidez frenética da modernidade torna difícil a reflexão sobre os acontecimentos cotidianos. Daí o fato de o homem contemporâneo tender à superficialidade de pensamento e não analisar em profundidade as consequências, boas ou más, de seus próprios atos.

Ora, tudo nesta vida é sério, pois somos criaturas de Deus e “é nEle que temos a vida, o movimento e o ser” (At 17, 28). Assim, o mais trivial dos nossos atos tem relação com realidades altíssimas, e pode nos acarretar graves consequências ou colocar-nos diante de onerosas responsabilidades, se não for devidamente executado.

Por isso, essa seriedade no exercício de uma função exige de nós, em primeiro lugar, uma inteira objetividade. É preciso ver a realidade como ela é, sem véus nem preconceitos, e sem permitir que seja distorcida por ansiedades ou frenesis.

Dessa coerência no ver e no julgar, emanará a seriedade no agir. O que se tem a fazer deve ser começado logo, executado por inteiro, sem perda de tempo e sem interrupções desnecessárias.

Somos árvores cujos frutos são pobres, pecos e, frequentemente, podres

Não esqueçamos, entretanto, que, sem o auxílio da graça, a natureza humana é incapaz de praticar estavelmente a própria Lei Natural, e até de fazer algo meritório para a salvação eterna. Por nossa natureza decaída, somos árvores cujos frutos são pobres, pecos e, frequentemente, podres.

Só quando a seiva da graça circula com força no caule e nos galhos dessa árvore, alcançando até mesmo as folhagens mais distantes da raiz, produzimos frutos abundantes e bons.

Tudo o que temos vem de Deus

Cada um de nós é um servo de Deus que, de si mesmo, nada tem. Na ordem da natureza, recebemos do Criador o ser que Ele ideou para nós desde toda a eternidade, munido de determinados atributos e dons.

Junto com a existência, Ele nos deu também todos os bens necessários, tanto materiais quanto espirituais.

De nossos pais recebemos a geração humana, mas não a alma, a qual nos é infundida pelo próprio Deus e elevada à vida sobrenatural pelo Batismo. A partir desse momento, o rico legado de Cristo para sua Igreja fica direta e imerecidamente à nossa inteira disposição: sua doutrina, os sacramentos, as graças, os benefícios decorrentes dos seus méritos, etc.

Os dons são distribuídos de forma desigual

Somos meros administradores, e cada qual deverá prestar contas na proporção do valor que lhe foi confiado. Não há, portanto, motivo para inveja, queixa ou, menos ainda, revolta. Ao receber de Deus dons, não nos cabe perguntar se outros receberam menos ou mais, mas aplicar-nos em retribuir-Lhe da forma mais completa, segundo as nossas próprias aptidões, estando sempre prontos a prestar contas desses talentos, e perguntando-nos frequentemente: “O que faço com os benefícios que de Deus recebi?”.

Deus outorga os dons em função de sua própria glória

Deus, ao distribuir seus dons entre nós, seus servos, não se atém a critérios humanos, mas o faz segundo seu beneplácito, visando sua própria glória.

Os dons naturais ou espirituais que Ele nos outorga não vêm pautados pelos nossos desejos, aptidões ou méritos. Pelo contrário, Deus nos dota de qualidades em função da glória que para nós reservou no Céu.

Assim, nossa inteligência, vontade e sensibilidade, nossa mentalidade e nosso caráter nos são dados com vistas ao trono que devemos ocupar na eternidade.

Nossa natureza e nosso espírito são por Ele preparados para receber os dons sobrenaturais com que quer nos ornar, e todas as graças e benefícios com os quais Ele nos enche ao longo da vida estão orientados nesse mesmo sentido.

Somos membros de um só corpo

A Igreja forma um corpo no qual cada membro tem uma função diferente. Deus adapta as graças às diversas funções e exige que cada um se aplique, na sua finalidade específica, dentro desse Corpo Místico.

Cada um de nós tem, portanto, uma missão específica. E não podemos querer — por egoísmo, ou por ambicionar uma função que não nos foi atribuída — prejudicar a harmonia desse conjunto criado por Deus em sua infinita Sabedoria.

A partir do recebimento do uso da razão, devemos entregar-nos à causa de Deus e trabalhar unicamente por ela. E, assim que cada um de nós se dá conta de qual é sua missão específica e quais as responsabilidades a ela inerentes, deve começar a agir sem demora, utilizando todos os dons que a Providência lhe deu para cumpri-la nesta vida.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP.

Texto extraído, com adaptações, do livro O inédito sobre os Evangelhos. Vol 2.

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