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São Simão Stock restabeleceu a Ordem do Carmo

Devido às perseguições dos maometanos contra os católicos na Terra Santa, a Ordem do Carmo passou por enormes dificuldades, sobretudo após a tomada de Jerusalém por Saladino, em 1187.

Foto: Catedral de Autun França/ Sergio Hollmann

Foto: Catedral de Autun França/ Sergio Hollmann

Redação (08/11/2023 09:51, Gaudium Press) Nossa Senhora, Patrona da Ordem do Carmo, suscitou um varão da mais alta nobreza da Inglaterra que revigorou essa Instituição, a qual corria sério risco de desaparecer: São Simão Stock.

Nasceu ele, em 1164, num castelo situado no condado de Kent – Sudeste de Londres –, governado por seu progenitor. Católicos fervorosos, seus pais lhe deram excelente formação religiosa. Sendo ainda criança, começou a rezar o Pequeno Ofício à Santíssima Virgem e, com seis anos, compreendia o latim.

Residiu durante vinte anos num tronco de uma árvore…

Aos doze anos, após ter lido um livro sobre a Imaculada Conceição, fez voto de virgindade e, além dos estudos, intensificou suas orações e penitências, fugindo de todas as ocasiões que poderiam macular sua ilibada pureza.

Seu irmão mais velho levava uma vida mundana, apesar das graves censuras do pai. Por inveja de Simão, que era muito benquisto, começou a armar ciladas para perder sua castidade; depois passou a caluniá-lo e agredi-lo fisicamente.

A fim de preservar sua alma, inspirado pela Santíssima Virgem, resolveu viver numa floresta nas proximidades de Oxford – Noroeste de Londres –, onde encontrou uma gigantesca árvore com uma cavidade no tronco, na qual colocou um crucifixo e uma imagem de Nossa Senhora e ali passou a morar. Alimentava-se de ervas, raízes amargas e frutos silvestres.

Transcorridos vinte anos, a Santíssima Virgem apareceu-lhe e revelou que ele deveria unir-se à Ordem do Carmo, quando esta viesse da Terra Santa para a Inglaterra; enfrentaria muitas contradições, mas Ela o reconfortaria de modo especial.

Foi ordenado sacerdote e começou o esperar a vinda dos carmelitas, que somente quinze anos depois chegaram ao país.

… e seis anos no Monte Carmelo

Em 1212, alguns frades provenientes do Monte Carmelo, em Israel, se estabeleceram num bosque das cercanias de Aylesford, condado de Kent. São Simão para lá se dirigiu e recebeu o hábito carmelitano. Por obediência, foi estudar em Oxford e obteve o título de Doutor em Teologia.

Tendo sido fundado um eremitério de carmelitas em Norwich – Leste da Inglaterra –, ele mudou-se para lá. Em 1215, São Brocardo, Superior da Ordem do Carmo, o nomeou Vigário-Geral para toda a Europa, onde o número de conventos havia se multiplicado.

Algum tempo depois, ele viajou para o Monte Carmelo a fim de participar do Capítulo geral, reunido a fim de tratar da gravíssima situação da Ordem, perseguida pelos maometanos que multiplicavam seus ataques e haviam matado muitos frades carmelitas. Decidiu-se que todos os carmelitas da Terra Santa emigrariam para a Europa.

Estando ainda os monges no Mosteiro de Monte Carmelo, os muçulmanos fizeram uma investida naquela região, ceifando a vida de grande número de católicos. Juntamente com alguns frades, São Simão fugiu para o porto São João d’Acre, situado nas proximidades e que era dominado pelos católicos.

Após a retirada dos maometanos daqueles territórios, o Santo permaneceu por seis anos no Monte Carmelo, levando uma vida de oração e penitência no local onde o Profeta Elias, que viveu no século IX antes de Cristo, observara a nuvenzinha prefigurativa de Nossa Senhora.

Quando os Cruzados anglos resolveram regressar de navio à Inglaterra, o Superior dos carmelitas, Beato Alain, bem como São Simão e outros frades os acompanharam e chegaram em Aylesford.

Terríveis perseguições contra a Ordem do Carmo

Em 1245, o Beato Alain renunciou e foi eleito para o cargo de Superior, por unanimidade de votos, São Simão Stock que estava com 80 anos de idade. Sob sua direção, o número de carmelitas aumentou notavelmente, de modo especial na França onde obtiveram o apoio do Rei São Luís IX.

Conforme Nossa Senhora dissera quando lhe apareceu na floresta próxima a Oxford, a Ordem do Carmo passou por terríveis perseguições visando sua extinção. Imerso em grandes sofrimentos de alma, mas pleno de confiança na Mãe de Deus, ele compôs em seu louvor o belo hino Flos Carmeli – Flor do Carmelo.

Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

“A Ordem do Carmo estava transformada em destroços que boiavam sobre um mar revolto, e não era mais um navio, com uma estrutura jurídica coesa e uniforme, capaz de conservar um espírito, de promovê-lo e transmiti-lo à posteridade.

“E foi nessa situação que ele, rezando a Nossa Senhora com muita devoção, pediu que Ela não deixasse morrer a Ordem do Carmo. No auge dessa aflição em que se encontrava o Santo, a Mãe de Deus lhe apareceu e deu-lhe o Escapulário do Carmo.”[1]

Escapulário, sinal de salvação

Estando no convento da Ordem, em Aylesford, a Santíssima Virgem lhe apareceu em 16 de julho de 1251, vestida com o hábito dos carmelitas, coroada de estrelas reluzentes e com o Menino Jesus em seus braços. Em suas mãos virginais, segurava um escapulário e o entregou ao Santo, dizendo algumas palavras.

Nesse mesmo dia, São Simão escreveu e entregou ao seu secretário e confessor uma carta dirigida a todos os seus irmãos de hábito, na qual consignava a mensagem que a Virgem Maria lhe comunicou:

 “Recebe, meu amado filho, este escapulário de tua Ordem, como sinal distintivo e a marca do privilégio que Eu obtive para ti e todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos e garantia de uma paz e uma proteção especial até o fim dos séculos. (…) Quem morrer revestido deste hábito será preservado do fogo eterno.”[2]

Os escapulários passaram a ser distribuídos em toda a Cristandade e a Ordem do Carmo teve um prodigioso desenvolvimento.  Em fins do século XIII, havia mais de 7.000 mosteiros e eremitérios, com cerca de 180.000 religiosos.

Apesar de sua idade avançada – mais de 90 anos –, São Simão Stock passou a visitar mosteiros carmelitas da Escócia, Irlanda, Bélgica. Ao chegar no convento de Bordeaux – Sudoeste da França –, ele entregou sua santa alma a Deus, dizendo “Ave Maria”.

Diversos papas incentivaram o uso do escapulário. João XXII – que governou a Igreja de 1316 a 1334 – concedeu o privilégio sabatino: quem o portar piedosamente, esforçando-se em cumprir os Mandamentos, será assistido por Nossa Senhora especialmente na hora da morte. Se for para o Purgatório, no sábado seguinte ao seu falecimento, Ela o retirará desse lugar de sofrimento e o conduzirá ao Céu.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja

 


 [1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Simão Stock recebe a libré de Nossa Senhora. In Dr. Plinio. n. 194 (maio 2014), p. 31.

[2] GUÉRIN, Paul. Les petits bollandistes. Vies des Saints. 7. ed. Paris: Bloud et Barral,1876, t. V, p.592.

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