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São Raimundo de Peñafort: singrou o mar utilizando seu manto como vela

No dia 7 de janeiro, a Igreja celebra a memória de São Raimundo de Peñafort: diretor espiritual do rei, apóstolo das gentes, célebre canonista, professor, reformador dos costumes, protetor dos pobres, conciliador de litígios. Não havia campo de apostolado ao qual ele não se lançasse.

Foto: Wikipedia

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Redação (05/01/2024 19:21, Gaudium Press) São Raimundo de Peñafort que nasceu em 1175, num castelo situado próximo à Barcelona, Espanha. Seus pais, senhores do lugar, descendiam dos Condes de Barcelona e possuíam grande fortuna.

Tendo apenas vinte anos, tornou-se professor de Filosofia na Universidade de Barcelona. Naquela época, “Filosofia era uma matéria que despertava enorme atenção, apaixonava, porque as pessoas tinham elevação de alma, espírito metafísico. Aos vinte anos, lecionar Filosofia representava o auge do prestígio intelectual”.[1]

Em suas aulas, procurava iluminar a inteligência e fortalecer a vontade dos alunos visando a santidade deles.

Dirigiu-se a Bolonha, Norte da Itália, em cuja universidade doutorou-se em Direito canônico e Direito civil.  Aos 30 anos, recebeu a cátedra de Direito canônico dessa célebre instituição de ensino.

A pedido do Bispo de Barcelona, o Papa Honório III ordenou-lhe que regressasse à Espanha para ajudar na diocese e cuidar da educação do jovem Rei Jaime I de Aragão – Nordeste da Península Ibérica.

Ordenado sacerdote na Catedral de Barcelona, logo depois tornou-se cônego e arcediago. Atendia a todos que o procuravam com suma bondade, ajudava os pobres e visitava os doentes.

Em razão do desleixo existente em muitas igrejas, dedicou-se a aperfeiçoar a Liturgia. “E o zelo da casa de Deus, que o devorava, o levava a se aproveitar de todas as ocasiões para que o serviço divino fosse desempenhado com mais decência e majestade.”[2]

Ordem militar de Nossa Senhora das Mercês

São Pedro Nolasco, um nobre francês residente em Barcelona, considerando os sofrimentos morais e físicos dos católicos aprisionados pelos maometanos nos locais por eles dominados, reuniu um grupo de varões com o objetivo de formar uma Ordem militar para libertar os cativos.

Expôs seu plano a São Raimundo o qual se entusiasmou pela ideia e obteve o apoio de Jaime I. A Santíssima Virgem apareceu aos dois santos e os incentivou a realizar seus anseios.

Em 1218, na Catedral de Barcelona, com a presença do rei, de toda sua corte e grande número de fiéis, houve uma Missa solene celebrada pelo bispo, durante a qual foi fundada a “Ordem real e militar de Nossa Senhora das Mercês para a redenção dos cativos”. Os membros dessa Congregação passaram a ser chamados mercedários.

Pregador de Cruzada contra os mouros

Tendo conhecido pessoalmente São Domingos de Gusmão, em 1222, São Raimundo ficou tão maravilhado pelas suas virtudes que recebeu o hábito dos dominicanos aos 47 anos de idade. Seu exemplo atraiu para a Ordem dos Pregadores diversos personagens relevantes.

Querendo reparar a vaidade que tivera na vida passada, pediu ao Superior impor-lhe uma severa penitência.

Foi-lhe, então, ordenado que escrevesse uma “Suma dos casos de consciência” para auxiliar os confessores. Ele executou esse árduo trabalho ao longo de alguns anos, sem deixar de cumprir com esmero todos os ministérios sacerdotais.

Essa obra teve enorme repercussão e foi elogiada por diversas autoridades eclesiásticas.

Em 1229, o Papa Gregório IX enviou para a Espanha um cardeal, como Legado, a fim de exortar os príncipes da região a continuar valentemente a luta contra os mouros.

O purpurado, que já conhecia São Raimundo, tomou-o para seu primeiro-assistente. Iniciou-se, então, a pregação do Santo para a Cruzada.

“Notem o bonito contraste: é um Santo de uma bondade angélica, que se senta junto ao catre de um doente e cuida dele com suma suavidade. Entretanto, convocado para defender a Fé católica, torna-se uma tocha ardente, estimulando todo mundo a lutar”.[3]

E ele caminhava sempre a pé, com um bordão e descalço, percorrendo distâncias enormes.

No final de 1229, Jaime I, com seu exército e um bom contingente de mercedários, conquistou Maiorca – a principal das Ilhas Baleares, no Mar Mediterrâneo, Leste da Espanha – cuja população católica estava escravizada pelos muçulmanos.

Prêmio de sua intransigência

Numa viagem a Maiorca, o Rei fez-se acompanhar por São Raimundo, mas levou clandestinamente no navio uma mulher da corte que era de maus costumes.

Após a chegada na ilha, o Santo, avisado do fato, exigiu que o soberano mandasse embora aquela mulher infame. Ele prometeu atendê-lo, entretanto não cumpriu sua promessa.

Indignado, São Raimundo pediu para voltar a Barcelona. O rei lhe negou a licença e proibiu secretamente, sob pena de morte, a todos os marinheiros que permitissem a saída dele do porto de Maiorca.

Tendo conquistado a confiança dos guardas, o Santo, acompanhado de um frade, caminhou por uma praia deserta e, em certo momento, disse: “O rei da Terra nos impede a passagem, o Rei do Céu suprirá”.

Fez o sinal da cruz, estendeu sobre as águas seu escapulário de lã que se tornou rígido, e pisou sobre o mesmo. Pediu a seu companheiro que o seguisse, mas este não teve coragem… ou melhor, faltou-lhe a Fé.

Suspendeu parte do manto para servir de vela e prendeu-a no bordão, como mastro. Um vento favorável movimentou seu “barquinho” rumo ao alto mar, deixando os guardas que o vigiavam estupefatos. Seis horas depois ele chegava a Barcelona, tendo percorrido aproximadamente 320 km.

“Era o prêmio da intransigência de São Raimundo de Peñafort: ‘Deus fará um milagre para mim, mas numa ilha onde há uma mulher de má vida não fico. Vou embora’”.[4]

Terceiro Superior Geral dos dominicanos

Chegando ao porto de Barcelona pela madrugada, revestiu-se do seu manto, o qual estava seco, tomou seu bordão e caminhou até o convento dos dominicanos, cuja grande porta abriu-se por si mesma. Ele entrou e silenciosamente foi à sua cela.

Ao raiar do dia, dirigiu-se ao superior, ajoelhou e pediu-lhe a bênção. Depois lhe narrou o que sucedera em Maiorca.

Tendo falecido o Beato Jordão da Saxônia, segundo Superior Geral dos dominicanos, São Raimundo foi eleito para sucedê-lo, em 1238. Mas, devido aos numerosos e importantes trabalhos que exercia pela Igreja e Cristandade, demitiu-se do cargo dois anos depois.

Passadas mais de três décadas, os Reis de Castela e Aragão souberam que o Santo estava à beira da morte. Então, com suas respectivas cortes, viajaram até o convento de Barcelona, onde ele se encontrava, para receber sua bênção.

E no dia em que completava 100 anos de idade, 6 de janeiro de 1275, após receber os sacramentos da Igreja, sua alma foi levada ao Céu.

Por Paulo Francisco Martos   

Noções de História da Igreja


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Raimundo de Peñafort, símbolo de uma época…  In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XV, n. 166 (janeiro 2012), p. 11.

[2] ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. I, p. 215.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Op. cit., p. 12.

[4] Idem. Ibidem, p. 15.

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