São José: sublime missão de instruir o Divino Infante
Nos dois milênios de História da Igreja, pouco ou quase nada se comentou a respeito da figura de São José. Como muitos dos mistérios de Deus, isso estava reservado para as glórias do futuro do Corpo Místico de Cristo.
Redação (19/03/2023 09:54, Gaudium Press) Embora envolto num profundo silêncio, São José possui uma excelsa missão no plano da Encarnação. No povo hebreu cabia sobretudo ao pai o encargo de instruir os filhos, especialmente os varões, naquilo que concernia à Religião.
Por mais que a piedade católica muitas vezes nos faça ver, com os olhos da alma, o Menino Jesus nos braços de Maria sendo educado e formado num sublime convívio entre Mãe e Filho, encontramos na Escritura a determinação divina, estabelecida por Moisés, de que o pai ensinasse a seu filho tudo quanto se referia à Lei e ao culto: “Quando teu filho te perguntar mais tarde: ‘Que são estes Mandamentos, estas leis e estes preceitos que o Senhor, nosso Deus, nos prescreveu?’ Tu lhe responderás…” (Dt 6, 20).
José “era justo” (Mt 1, 19). Com esse simples mas quão profundo adjetivo, o Evangelista define e apresenta a figura do esposo de Maria. Ora, sendo justo, a José cabia uma observância irrepreensível da Lei e, portanto, competia a ele instruir o Divino Infante.
Que bela cena terá sido a primeira Páscoa em que o Menino Jesus levantou-Se, como prescrevia a Lei, e antes de comerem o cordeiro – pré-figura d’Ele mesmo! – indagou a seu pai: “O que significa isso?”
Com que enternecimento e emoção São José Lhe explicou todo o rito judaico! Com que palavras mostrou nas pré-figuras a imagem daqueles dias que em Nazaré eles já começavam a viver!
Mestre e Conselheiro do Verbo Encarnado
Com muita antecedência, o profeta perguntara: “Quem instruíra o espírito do Senhor? Que conselheiro o teria orientado? Com quem aprendeu ele a bem julgar, e os caminhos da justiça a discernir? Quem as veredas da prudência lhe ensinou, ou os caminhos da ciência lhe mostrou?” (Is 40, 13-14).
E a resposta se encontrava naquela humilde casa: José! Somente José foi achado digno diante de Deus para ser o Conselheiro da Sabedoria Eterna.
Aquele que entregara as tábuas da Lei a Moisés escuta de José o que fazer para, em sua humanidade, agradar a Deus! Aquele que iluminara os profetas aprende com José a interpretar as palavras das profecias! Aquele que imprimira sua imagem em todo o universo é ensinado por José a admirar os seus próprios reflexos na criação!
O Criador Se abandona nos braços de Maria; a Sabedoria Eterna recebe instrução dos lábios de José!
Exemplo de virtude, serenidade e confiança
“Quando Jesus começou o seu ministério, tinha cerca de trinta anos, e era conhecido como filho de José” (Lc 3, 23). Que homem extraordinário foi este, de cuja personalidade o Verbo Encarnado quis haurir algo para a sua humanidade? O que havia de tão precioso em José, que Deus Pai desejava transmitir a Jesus? Ao contemplar um e outro, seria possível não ver e sentir neles uma profunda, absoluta, divina relação? O que de mais augusto José comunicou a Jesus? O ofício? A Lei? A instrução? Certamente não.
Em Nazaré, o Homem-Deus recebia a melhor das aulas: o bom exemplo. Exemplo de virtude, exemplo de serenidade, exemplo de confiança. Ele, que já conhecia São José desde toda a eternidade, podia ali contemplar, de sua natureza humana, aquele “divino” varão cujo abandono nas mãos da Providência enternecia seu Sagrado Coração.
Jesus aprendeu com ele a contemplar Maria
Contudo, de todos os dons e grandezas depositados por Deus na alma de São José, um se apresentava substancialmente inseparável de sua missão. E foi para transmiti-lo de forma íntegra a Jesus que José aplicou toda a sua vida: o amor e a devoção a Maria Santíssima!
Com José o Menino Jesus também aprendeu a considerar as qualidades e perfeições de sua Mãe. O Verbo onisciente de Deus não precisava de nenhuma mediação para contemplar Aquela que O gerara. Não precisava, mas quis fazê-lo através dos olhos de seu pai virginal.
E José, alter ego – outro eu – do Divino Paráclito, receptáculo vivo do amor do Padre Eterno por Maria, trairia sua própria missão se não aplicasse todos os meios a fim de atrair as almas para Ela e torná-La mais amada. A missão de São José começa na Sagrada Família, pois Jesus foi o primeiro a ser conduzido por ele a Nossa Senhora.
“O Santo Patriarca foi para com sua Esposa um autêntico escravo de amor […]. Analisou meticulosamente os dons e virtudes de Maria; procurou com empenho imitá-La em sua dedicação a Jesus Cristo; não deixou passar um só gesto ou palavra sem dedicar-Lhe toda a admiração”.
Ao longo dos séculos, e por toda a eternidade, São José sempre será “o pai perfeito, o mediador poderosíssimo, o mestre mais sábio, o defensor incansável, o modelo de escravidão a Jesus nas mãos de Maria”, aquele que utiliza os infinitos recursos depositados por Deus em suas mãos para coroar a Santíssima Virgem no interior de todos os corações!
Por Pe. Lucas Garcia Pinto, EP
Texto, extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 207, março 2007.
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