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São Fernando de Castela: um guerreiro angélico

São Luís IX, Rei da França, promoveu duas Cruzadas e teve um primo que efetuou muitas guerras contra os muçulmanos, jamais perdendo uma batalha: São Fernando de Castela.

São Fernando de Castela – Catedral de Sevilha, (Espanha) – Foto: Francisco Lecaros

São Fernando de Castela – Catedral de Sevilha, (Espanha) – Foto: Francisco Lecaros

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Redação (17/03/2024 09:03, Gaudium Press) “São Tomás de Aquino e o Beato Giovanni de Fiesole foram chamados, respectivamente, o Doutor e o pintor Angélicos. (…) [E] houve guerreiros angélicos como São Luís IX e São Fernando de Castela”. [1]

As circunstâncias e o nome do local em que São Fernando nasceu mostram como Deus o preparava para o combate. Em 1199, seus pais Afonso IX, Rei de Leão, e Berenguela, filha do Rei de Castela, viajavam pelo Noroeste da Espanha. Em certo momento, precisaram acampar ao lado da estrada e Fernando veio à luz, nas proximidades de uma cidadezinha chamada Peleas del Arriba – Lutas de Cima – na Província de Zamora.

Cura milagrosa

Quatro anos depois, o casamento de seus pais foi anulado pelo Papa Inocêncio III, em razão do parentesco de ambos. Afonso voltou para Leão, e Berenguela para Castela levando consigo Fernando e outros três filhos.

Berenguela deu-lhes excelente formação católica, e Fernando se destacava por sua inocência e demais virtudes. Porém foi atingido por grave doença que lhe causou chagas em todo corpo.

Aflita, sua mãe chorava muito e uma de suas criadas recomendou-lhe que levasse o menino a uma igreja onde havia uma bela imagem de Nossa Senhora. Ela assim o fez, chegou no local à noitinha e pediu que todos se retirassem.

Colocou seu pequeno filho quase agonizante diante do altar da Virgem, prosternou-se e, derramando torrentes de lágrimas, suplicou-Lhe que o curasse.  Fortalecida pela Fé, confiança e serenidade, ergueu-se e verificou que as chagas haviam desaparecido e o menino estava totalmente curado.

Rei de Castela e Leão

Sendo adolescente, a pedido de seu pai Fernando mudou-se para Leão, onde recebeu aulas de ciências e manejo de armas. Era aplicado nos estudos e brilhante na arte da guerra. Sempre voltado para Deus, ele poderia rezar: “Bendito seja o Senhor, meu rochedo, que adestra minhas mãos para o combate e meus dedos para a guerra” (Sl 143,1).

Nas disputas campais com outros cavaleiros sempre os vencia com garbo. E, no ambiente mundano da corte, manteve total fidelidade à prática da virtude.

Com a morte de seu avô Afonso VIII, em 1214, Berenguela tornou-se Rainha de Castela e mandou emissários a Leão a fim de trazerem Fernando. Face à negativa de Afonso IX, ele conseguiu fugir e regressou para junto de sua mãe.

Em 1217, Fernando foi coroado rei de Castela, mas seu pai se uniu a conspiradores que moveram guerra contra ele. O jovem monarca os derrotou em batalhas nas quais seu progenitor não estava presente. Com a intervenção do Papa Honório III, a paz entre Leão e Castela foi restabelecida.

Três dias depois de ter sido armado cavaleiro na capela de um mosteiro, em 1219, São Fernando casou-se com Beatriz da Suábia, filha do Duque da Suábia – Sul da Alemanha – e Rei dos romanos, numa solene cerimônia realizada na Catedral de Burgos.

Com a morte de seu pai, em setembro de 1230, ele tornou-se também Rei de Leão. Em seu escudo real, mandou que gravassem o lema “Dominus adjutor meus — O Senhor é a minha força” (Sl 27, 7).

Nunca perdeu uma batalha

Assim que se restabeleceu a ordem em seus domínios territoriais, o Santo concentrou sua atenção num objetivo: derrotar os mouros que tantos malefícios haviam causado à Espanha.

A seu pedido, Honório III promulgou uma bula de Cruzada pela qual todos aqueles que guerreassem contra os sarracenos na Península ibérica obtinham os mesmos privilégios outorgados aos que participavam das Cruzadas na Terra Santa.

Durante uns vinte anos, São Fernando promoveu guerras contra os pagãos e nunca perdeu uma batalha.

Em junho de 1236, conquistou Córdoba que era a capital de um antigo califado. A primeira providência que tomou foi transformar a grande mesquita em catedral. Seus sinos, dois séculos antes, haviam sido arrancados pelos maometanos da Basílica de São Tiago de Compostela. São Fernando obrigou que prisioneiros mouros, caminhando a pé, os levassem em seus ombros até aquele Santuário.[2]

Pouco tempo depois, tomou Jaén e fez com que a preciosa relíquia do Santo Rosto de Cristo fosse colocada no altar-mor da nova catedral dessa cidade.

Granada era a capital do reino mouro em Espanha. São Fernando não investiu contra ela porque seu rei foi “prestar-lhe homenagem, pagando-lhe grande soma de dinheiro anualmente e oferecendo-lhe tropas para suas empresas miliares”.[3]

Em 1248, conquistou Sevilha e ali instalou a corte real.

São Fernando, guerreiro invicto, tinha uma vida de intensa oração. Participava da Missa e rezava o Ofício divino diariamente. Com frequência acolhia os pobres, servia-lhes refeições e, em toda Quinta-Feira Santa, lavava os pés de doze deles.[4]

Símbolo do cavaleiro da luz

Estando sua nobre alma voltada para o maravilhoso, mandou construir as estupendas catedrais de Toledo e de Burgos, em estilo gótico. Ambas foram dedicadas a Nossa Senhora da qual era muitíssimo devoto.

Em 1252, sentindo a morte se aproximar, pediu os Sacramentos. O Bispo de Segóvia o atendeu em Confissão. Em seguida iniciou a celebração de uma Missa; na hora da Consagração, São Fernando se ajoelhou e recebeu a Comunhão.

Erguendo os braços, afirmou: “Eu Vos dou graças, Senhor, devolvo o reino que me concedestes com os frutos que pude alcançar e Vos ofereço minha alma”.[5]

Segurando nas mãos uma vela acesa, pediu aos clérigos que rezassem Ladainhas e cantassem o Te Deum. E sua santa alma foi conduzida ao Céu. Era o dia 30 de maio de 1252.

Na Catedral de Sevilha, abaixo da imagem da padroeira da cidade, a Virgem dos Reis, encontra-se seu corpo com uma placa na qual está escrito:

“Aqui jaz o muito honrado Rei Dom Fernando, senhor de Castela e de Toledo, de Leão, de Galícia, de Sevilha, de Córdoba, de Múrcia e de Jaén, o que conquistou toda a Espanha, o mais leal, o mais verdadeiro, o mais franco, o mais esforçado, o mais garboso, o mais ilustre, o mais sofrido, o mais humilde, o que mais temeu a Deus, o que mais Lhe prestava serviço, o que abateu e destruiu todos os seus inimigos, o que elevou e honrou todos os seus amigos, e conquistou a cidade de Sevilha, capital de toda a Espanha”.

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou:

“São Fernando de Castela, piedoso, puro, forte, majestoso, montando seu corcel, de lança em riste contra o adversário, é bem o símbolo do cavaleiro da luz”.[6]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Beato Fra Angélico, o São Tomás da pintura.  In Dr. Plinio. São Paulo. Ano VIII, n. 83 (fevereiro 2005), p 29.

[2] Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1882, v. 29, p. 78.

[3] VILLOSLADA, Ricardo Garcia. Historia de la Iglesia Católica – Edad Média. 3. ed. Madri: BAC. 1963, v. II, p. 405.

[4] Cf. CASTRO Y CABEZA, María del Carmen Fernández. Nuestra Señora en el arzón. Bilbao: El pan de los pobres. 2013,  p. 5.

[5] RICHARD, Javier A. Fernando III: Cruzado y Santo. Absalon Ediciones. 2011, p. 172.

[6] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. In Catolicismo. Campos dos Goitacazes, n. 171, março 1965.

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