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São Domingos de Gusmão: extirpador de heresias

Grande amigo de Simon de Montfort, São Domingos de Gusmão combateu rijamente os albigenses pelo exemplo de sua própria pessoa, bem como através de argumentos e grandes milagres.

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Redação (03/10/2023 11:42, Gaudium Press) Nasceu em 1170 na cidade de Caleruega, Norte da Espanha, da qual seu pai era prefeito. Sua mãe, “a Beata Joana de Aza, pouco antes do nascimento do menino, sonhou que dava à luz um cão forte, que latia muito e tinha agarrado nos dentes um facho de fogo com o qual corria, incendiando o mundo inteiro”.[1]

Domingos cresceu com aquela imagem do sonho da mãe e, mais tarde, fundou uma Ordem mendicante, os Domini canes – cães do Senhor –, porque iriam pela face da terra ladrando contra o mal e pregando a Doutrina católica.  O nome dessa família religiosa é Ordem dos Pregadores, mais conhecida como Ordem Dominicana.[2]

Dos 14 aos 23 anos, estudou em Palência. Após concluir o curso de Teologia, o Bispo de Osma o nomeou para importantes funções em sua diocese, onde nosso Santo viveu durante nove anos.

Em 1205, a pedido de Afonso VIII, Rei de Castela, o bispo foi à Dinamarca para cumprir uma missão diplomática e levou consigo São Domingos. Em seguida, viajaram a Roma. O Papa Inocêncio III os recebeu em audiência e ordenou que fossem ao Sul da França a fim de pregarem contra os albigenses.

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, analisando um quadro de São Domingos pintado pelo Beato Fra Angélico, que era dominicano, comentou:

 “Ele irradia uma luz que não é física, mas espiritual. Não se trata do viço da mocidade, também presente nele; é uma espécie de luz interior, mais ou menos indefinível decorrente de uma extraordinária lucidez e de uma clara visão das coisas.”[3]

Livro salta das chamas e permanece intacto

465px Berruguete ordealAtendendo ao pedido papal, o Santo começou a pregar na França meridional, refutando os erros dos albigenses.

Certo dia, estes escreveram suas teses num livro de pergaminho, e São Domingos redigiu os argumentos comprobatórios da verdade católica, em outro volume. Lançados numa fogueira, à vista de todo o povo, o livro dos hereges foi reduzido a cinza, ao passo que o do Santo saltou das chamas e pousou intacto numa charrete que estava ao lado. Os albigenses jogaram‐no por três vezes ao fogo, e a mesma cena se repetiu.

O Santo tornou-se vigário geral da diocese de Carcassonne e por duas vezes recusou a dignidade episcopal. Após a Batalha de Muret, em 1213, estabeleceu-se na Catedral de Toulouse e teve o apoio caloroso de Simon de Montfort, que lhe doou o Castelo de Casseneuil.

Toques de sinos, terremoto, trovões e relâmpagos

Desejando ardentemente a perseverança dos católicos e a conversão dos albigenses, São Domingos passou três dias e três noites jejuando e rezando em sua cela, suplicando a intervenção de Nossa Senhora.

Na madrugada do terceiro dia, Ela apareceu-lhe e disse:

– Sabes, meu querido Domingos, de que arma Se serviu a Santíssima Trindade para reformar o mundo?

– Ó Senhora, respondeu ele, Vós o sabeis melhor que eu, porque depois de vosso Filho, Jesus Cristo, fostes o principal instrumento de nossa salvação.

E a Virgem Maria afirmou:

– A peça principal da bateria foi a saudação angélica – a Ave-Maria –, que é o fundamento do Novo Testamento; portanto, se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos reza o Rosário.

Terminada a visão, os sinos da catedral começaram a tocar a todo volume, sem intervenção humana. Uma multidão compareceu ao templo e o Santo iniciou um sermão. Em certo momento, desatou uma espantosa tormenta com tremores de terra, trovões e relâmpagos; o sol se velou.

Uma imagem da Virgem que se encontrava no retábulo do altar-mor levantou três vezes os braços, pedindo a Deus que exercesse sua justiça com relação às pessoas que não se arrependessem e recorressem à sua proteção.

Em seguida, São Domingos orou e a tormenta cessou. Pôde ele, então, continuar sua homilia e o fez com tal unção que os presentes se comprometeram a rezar o Rosário diariamente.

Sonho do papa: dois varões sustentando a Igreja

505px Fra Angelico Saint Dominic adoring the Crucifixion San Antonino cloister close up Saint DominicEm 1215, Inocêncio III convocou o IV Concílio de Latrão. O Bispo de Toulouse foi a Roma levando consigo São Domingos. Recebidos pelo papa, o Santo fez-lhe uma exposição sobre sua obra, causando-lhe grande contentamento.

Nessa época, São Francisco de Assis havia fundado uma Ordem religiosa para combater a decadência moral e formar os católicos nas virtudes cristãs.

Inocêncio III tivera um sonho no qual via a Basílica São João de Latrão – a Catedral de Roma – em risco de ruir e dois varões a sustentavam em seus ombros. O pontífice compreendeu que eram São Domingos de Gusmão e São Francisco de Assis.

Tendo sido elaborada a Regra, a instituição fundada por São Domingos foi aprovada por Honório III, sob o nome de Ordem dos Pregadores.

O Concílio de Latrão recomendara que membros do clero se aprofundassem nos estudos teológicos para formar os fiéis e combater as heresias. Em obediência a essa norma, São Domingos enviou diversos monges a estudarem em universidades, entre as quais a de Bolonha e a de Paris.

Encontro de três Santos

Em fins de 1219, São Domingos foi a Roma e o Papa Honório III concedeu aos dominicanos a Igreja de Santa Sabina, nas proximidades do Monte Aventino. Estando na Basílica de São João de Latrão, ele encontrou São Francisco de Assis e Santo Ângelo Hierosolimita e os levou ao convento situado ao lado daquela igreja.

“Ali chegando, estando frente a frente, na cela de São Domingos, puseram-se os três de joelhos e passaram a noite enaltecendo as virtudes uns dos outros, em piedosas práticas e orações. Esta cela foi transformada em capela e existe ali uma inscrição comemorativa do histórico acontecimento”.[4]

Os dominicanos se propagaram em diversas regiões. Em 1221, realizou-se o II Capítulo da Ordem dos Pregadores em Bolonha, presidido por São Domingos. E no dia 6 de agosto desse ano, estando num convento dessa cidade, ele entregou sua alma a Deus. Sua memória é celebrada em 8 de agosto.

Santa Catarina de Siena (1347-1380), terciária dominicana, escreveu uma obra na qual afirma que a Virgem Maria fez dele o “extirpador das heresias”.[5]

Além da mãe de São Domingos, seu irmão de sangue também se santificou: Beato Manes de Gusmão, cuja memória é celebrada em 30 de julho.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. LACORDAIRE, OP, Henri-Dominique. Vie de Saint Dominique. 5.ed. Paris: Poussielgue-Rusand, 1857, t. I, p.154-155.

[2] Cf. CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. 2016, v. I, p. 106.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Um inocente que irradia luz espiritual. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano II, n. 17 (agosto 1999), p. 7.

[4] Cf. LEOINDELICATO, OCM, Egídio. Jardim Carmelitano, história chronológica e
geográfica.
Lisboa: Sylviana, 1741, t. II, p.220-221. Apud CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. 2014, v. IV, p. 244, 245

[5] SANTA CATARINA DE SIENA. O Diálogo, c. 36.

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