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São Clemente Maria Hofbauer, um apóstolo incansável

15 de março, memória de São Clemente Maria Hofbauer, exemplo de constância e confiança diante das aparentes contradições no cumprimento do chamado divino. Não se há de poupar esforços quando se trata da causa de Deus, pois o mesmo Deus não poupou esforços por nossa causa.

hofbauer

Redação (15/03/2024 12:00, Gaudium Press) Desde o seu nascedouro, a Igreja sempre foi assistida pela própria mão de Deus representada nos diversos santos pastores que, com seus exemplos, arrastaram multidões. Nessa constelação de bem-aventurados temos São Clemente Maria Hofbauer.

 São Clemente nasceu no dia 26 de dezembro de 1751, em Tásswitz, na Morávia. Sua família, de condição bem modesta, era muito católica. Por isso, desde a infância deu-lhe formação inteiramente embebida do espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 Com a morte do pai, o Vigário de Tásswitz ficou responsável pela continuidade de seus estudos de Clemente. Com efeito, o principal papel que esse padre desempenhou na vida do santo foi o de despertar a sua vocação sacerdotal. Como naquela época a formação de um clérigo era muito custosa, entregou-se nas mãos da Divina Providência e começou a trabalhar como padeiro. “Maria, Teresa e Catarina Maul”[1], senhoras da alta sociedade de Viena, vendo que Clemente tinha uma admiração única pelo sacerdócio e o almejava com empenho, se ofereceram para pagar o estudo.

 A “deusa Razão” e a formação dos teólogos

Entretanto, era tempo de grandes calamidades. A França, a chamada Filha Primogênita da Igreja, estava às vésperas de uma revolução que iria perseguir e massacrar o clero. Em outros países, a corrente iluminista influenciava os estudos. Tradição da Igreja, sacramentos, oração, tudo isso era considerado inútil para quem tinha fé na deusa Razão. Nessa fase, encontramos São Clemente Hofbauer iniciando seus estudos.[2]

Contava ele quase 30 anos quando ingressou na Universidade de Viena, lugar onde também circulavam as ideias ateias influenciadas por aquele mesmo iluminismo. Se de um lado havia professores que mais tarde seriam excelentes prelados, de outro, havia hereges irredutíveis. Não durou muito para que os estudantes encabeçados por Hofbauer começassem as defesas da ortodoxia. Depois de dois anos de Filosofia dirigiu-se para Roma a fim de concluir seus estudos de Teologia.

As palavras comovem e os exemplos arrastam

Na Cidade Eterna estava o Papa Clemente XIV, perplexo com as calamidades que envolviam a Cristandade. Em Nápoles, encontrava-se Santo Afonso de Ligório, nonagenário preso a uma cadeira e impossibilitado de ampliar sua obra, a Ordem dos Redentoristas, que estava sob a ameaça de fechamento.

São Clemente Hofbauer chega a Roma, encontra-se com alguns redentoristas e pede que aceitem seu ingresso. Com o noviciado feito e o curso de Teologia completado, Clemente deseja ardentemente o sacerdócio.

No ano 1785 chega a tão almejada ordenação. “Pai, já é o Céu?!”, não é mais Clóvis que pergunta a São Remi, mas São Clemente a Santo Afonso.

Impulsionado pelo Espírito Santo, o novo sacerdote porta o estandarte redentorista até o norte da Europa; em Varsóvia, começa o apostolado.

 O Arcebispo, que tinha recebido uma carta de recomendação de Santo Afonso, o acolhe, e deixa sob os auspícios do recém-chegado a igrejinha de São Beno.

Nesse local sagrado, havia todos os dias duas pregações em polonês e duas em alemão, missas, confissões, atendimento de doentes, catecismo e assistência às crianças pobres. Pelo seu modo de viver, começou a trazer muitas vocações para a Ordem dos Redentoristas. Mesmo sem meios, tinha planos de fazer grandes coisas: construir um enorme orfanato e um colégio para crianças pobres, levar a ordem do Santíssimo Redentor para todo o norte da Europa. No entanto, incompreendido pelos seus irmãos de hábito, sempre afirmava: “Deus providenciará os meios”.

Depois de quase uma década em Varsóvia, foi perseguido, encarcerado por franceses e deportado para seu país natal. Parecia tudo acabado…

 Em 1808, São Clemente Maria Hofbauer chega a Viena e recomeça seu apostolado como diretor espiritual das Ursulinas. Apesar das provações, dizia: “se Deus não me tirou a liberdade de pregar, ainda posso fazer o bem.Que santo!, comentavam alguns; “Ele não tem formação!”, murmuravam outros, mas ninguém permanecia indiferente.

Quem está por trás da perseguição?

Logo começou novamente a perseguição, um cônego chamado Gruber[3] conseguiu do arcebispo um documento que proibia Hofbauer de pregar. Depois, em nova investida, o mesmo sacerdote quis expulsá-lo de Viena. Entretanto, isso só seria possível recorrendo ao Imperador que então se encontrava em Roma com o Papa. Não havia jeito, era preciso esperar…

O que estava por trás de tamanha perseguição? O cônego Gruber via sua igreja sempre vazia e, pelo contrário, a igreja das Ursulinas frequentemente repleta. Gruber não hesitou: procurou logo o arcebispo para acusá-lo, mas este não lhe deu razão pois conhecia bem a santidade de Hofbauer. Neste período, porém, o cônego descobriu que o Pe. Clemente tinha mandado uma carta de felicitação ao novo Superior Geral. Ora, não era permitido, por decreto imperial, mandar cartas para fora do território; essa foi a acusação que o levou a julgamento e condenação para ser deportado.

Vendo que o documento de sua deportação só precisava da assinatura do imperador, São Clemente ajoelhou-se diante da imagem de Nossa Senhora e em prantos entregou-se à vontade da Divina Providência.[4] Em audiência com o Papa, o imperador prometia ao Vigário de Cristo manter Hofbauer em Viena. Chegando à capital austríaca, o Imperador Frederico II convocou o Pe. Clemente para dizer-lhe: “Viena precisa de Hofbauer”. Apesar de tão excelente aprovação, faltavam ainda os papéis…

Com 68 anos, o santo adoeceu gravemente. No dia 15 de março de 1820, entregou sua alma a Deus. No momento em que fechavam seus olhos, chegava a seu leito um emissário do imperador para mostrar-lhe o documento que abria para a Congregação do Santíssimo Redentor as ‘portas’ do Império Austríaco.[5]

A Igreja celebra em todo o mundo a memória deste santo no dia 15 de março, lembrando aos fiéis de sua entrada na eternidade.

Por Antônio Coelho


[1] RAMOS, Tomás. Vida de San Clemente María Hofbauer. Madrid: El Perpetuo Socorro, 1909, p.45.

[2] As irmãs Maul consideravam o ensino da Universidade de Viena de grande realce, mas ignoravam a existência de professores heréticos nesse antro.

[3] Segundo o livro, São Clemente-Maria: Vanguardeiro da Congregação Redentorista de Janssen-Hunermann, o cônego Gruber era um prelado que afirmava ser importante para a Santa Igreja o conhecimento, apesar de estar, por vezes, dissociado de uma vida exemplar.

[4] São Clemente Maria Hofbauer achava que todos os problemas que estavam tendo os Redentoristas eram devidos a ele. Por essa razão, julgava estar traindo seu pai espiritual Santo Afonso.

[5] HUNERMANN, Janssen. São Clemente-Maria: Vanguardeiro da Congregação Redentorista. Trad. P. Xavier C.ss.R. Petrópolis: Vozes, 1953.

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