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São Bernardo de Claraval combateu a decadência de Cluny

São Bernardo fez com que o número de monges do Mosteiro de Claraval aumentasse prodigiosamente. Inclusive diversos nobres casados, com o consentimento de suas esposas, ali ingressavam como irmãos conversos e exerciam os trabalhos mais pesados.

Sao Bernardo no Concilio de Etampes

Redação (25/04/2023 10:37, Gaudium Press) A vida era realmente dura, mas o exemplo do santo abade a todos fortalecia. Porém, sucedeu que um de seus primos ainda adolescente, monge em Claraval, arrastado pela moleza mudou-se para Cluny, que estava em franca decadência, pois seu abade era o péssimo Pons de Melgueil, o qual foi posteriormente excomungado.

Preocupado pela sua salvação, São Bernardo enviou-lhe uma belíssima carta, na qual dizia, entre outras coisas:

“Vamos, soldado de Cristo, levanta-te, sacode tua poeira, retorna ao combate e faça esquecer por um redobramento de coragem a vergonha de tua derrota!”

O Santo ditou essa missiva a um monge ao ar livre. De repente, começou a chover e ele disse ao religioso: “Não se preocupe, continue a escrever!” Houve, então, um milagre: a água caiu em redor deles e o pergaminho permaneceu seco…

Pons não permitiu que a carta chegasse ao jovem. Mas seu sucessor Pedro, o Venerável, entregou-a ao destinatário e ordenou-lhe que voltasse para Claraval.

Santo Hugo de Châteauneuf

UgoAnonCerto dia, São Bernardo dirigiu-se a Grenoble – na Borgonha – a fim de conversar com Santo Hugo de Châteauneuf, bispo dessa diocese, que era bastante idoso e havia doado a São Bruno as terras onde foi erigida a Cartuxa.

Assim que viu o Abade de Claraval, que contava 32 anos de idade, Santo Hugo, tomado de admiração, prosternou-se aos seus pés. A partir de então, tornaram-se um só coração e uma só alma.

Santo Hugo excomungou o Imperador Henrique V, filho de Henrique IV, por ter aprisionado o Papa Pascal II que não lhe concedera autorização para efetuar investiduras eclesiásticas, como fazia seu infame progenitor.

Quando atingiu a idade de 80 anos, perdeu a memória de todas as coisas terrestres, mas não das orações, pois rezava sempre de cor os salmos com seus clérigos. Se, devido às fortes dores que padecia, dizia algumas palavras de impaciência, rogava aos eclesiásticos que lhe aplicassem a disciplina, ou seja, alguns golpes com uma varinha. Morreu em 1132 e sua memória é celebrada em 1 de abril.

Repercussão da carta de São Bernardo

Algum tempo depois, São Bernardo escreveu longa carta a Pedro, o Venerável, censurando vigorosamente a decadência de Cluny, do qual era abade. Pedro ficou tão impressionado que pensou em abandonar o abaciado e ingressar em Claraval.

Esse documento causou enorme repercussão. Pessoas da mais alta importância o leram e receberam insignes graças. Suger, Abade de Saint-Denis, em Paris, e principal ministro do Rei da França Luís VI, passou a ter uma vida de maior seriedade e corrigiu o relaxamento existente em sua abadia.

O Arcebispo de Paris, amigo pessoal do rei, abandou a corte e restabeleceu a disciplina no clero. Por isso foi despojado de seus bens, sofreu até ameaça de morte e refugiou-se na cidade de Sens, nas proximidades da capital. Para castigar os crimes cometidos contra Deus, lançou o interdito na arquidiocese de Paris, ou seja, ficou proibido celebrar Missas nas igrejas para o público, ministrar os Sacramentos e realizar sepultamentos eclesiásticos.[1]

O Bispo de Sens deixou o mundanismo no qual vivia e rogou a São Bernardo que lhe escrevesse normas a fim de bem exercer o episcopado, sendo plenamente atendido.

A pedido de vários prelados, São Bernardo foi com eles a Paris a fim de conversar com Luís VI, o Gordo, que estava perseguindo o arcebispo da capital. O Santo rogou-lhe que cessasse essa perseguição, pois do contrário seu filho primogênito morreria. Mas o rei não lhe deu atenção.

Alguns dias depois, o príncipe herdeiro, que contava 16 anos e já havia sido sagrado rei, cavalgava pelas ruas de Paris. De repente, um porquinho que havia escapado de um quintal se introduziu entre as patas do cavalo o qual, desvairado, se empinou e lançou o jovem ao chão, fazendo com que batesse com toda violência numa pedra. Gravemente ferido, o príncipe faleceu no dia seguinte. Era o ano de 1131. Intensamente chocado pelo fato, Luís, o Gordo, reconciliou-se com o Arcebispo de Paris.

Modelo de argúcia, intrepidez e capacidade de realização

Em 1128, o Papa Honório II convocou um concílio em Troyes – Leste da França – e ordenou a São Bernardo que a ele comparecesse. O principal tema tratado foi a respeito da Ordem de Cavalaria do Templo. Enviado pelo Rei de Jerusalém Balduíno II, estava também presente o Grão-Mestre Hugo de Payns. A pedido deste, o Santo redigiu um pequeno tratado, no qual afirma:

Os templários “podem combater os combates do Senhor com toda segurança. Que eles matem o inimigo ou morram sem nenhum temor! Sofrer a morte por Cristo ou dá-la, longe de ser criminoso é antes glorioso. O cavaleiro de Cristo mata conscientemente e morre tranquilo; morrendo ele trabalha por si mesmo, matando trabalha por Cristo. Sua morte é um triunfo porque o introduz na mansão das recompensas eternas”. [2]

Em 1130, com a morte de Honório II, foi eleito Papa Inocêncio II. Mas alguns cardeais descontentes nomearam um antipapa que adotou o nome de Anacleto II, iniciando um cisma causador de muitos males na Cristandade.

Luís VI convocou um concílio em Etampes, nas proximidades de Paris, a fim de se definir quem era o verdadeiro Papa. Aconselhado por diversos bispos, o rei rogou a São Bernardo que a ele comparecesse. Com sua brilhante exposição, todos se convenceram de que o verdadeiro Papa era Inocêncio II.

O Santo também visitou o Rei da Inglaterra Henrique I, o qual se encontrava na França, e o persuadiu de tal modo que o monarca se dirigiu a Chartres, onde estava Inocêncio II, prosternou-se a seus pés e lhe prometeu obediência.[3]

Como o Apóstolo das gentes, São Bernardo foi um “modelo de argúcia, intrepidez e capacidade de realização”[4] postas ao serviço da Igreja.  Que ele interceda por nós e confunda os inimigos da Esposa de Cristo para que ela seja glorificada.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. DICTIONNAIRE DE THÉOLOGIE MORALE, Editor: MIGNE, Jacques-Paul.  Paris: Ateliers catholiques. 1862, v. I, p. 1317.

[2] DICTIONNAIRE DE THÉOLOGIE CATHOLIQUE. Paris: Letouzey et Ané. 1910, v. II-1, coluna 754.

[3] Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1879, v. 26, p. 315-327; ROHRBACHER, René-François. Histoire universelle de l’Église Catholique. Paris : Louis Vivès. 1901, v. 7, p. 552-584.

[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Legionário. São Paulo, 20 janeiro 1946.

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