São Beda, o Venerável, e São Bonifácio
Houve dois santos que marcaram de modo esplendoroso o século VIII: São Beda, o Venerável, e São Bonifácio.
Redação (03/03/2022 11:47, Gaudium Press) Numa obscura aldeia do Norte da Inglaterra, nasceu Beda em 673. Aos sete anos de idade, foi apresentado pelos pais a São Bento Biscop, que o fez receber instrução gratuita num mosteiro, no qual desde logo se apaixonou pelo canto gregoriano.
Estudou com afinco diversas matérias, progrediu nas virtudes e foi ordenado sacerdote. Dedicou-se ao ensino, atraindo centenas de discípulos dos mais variados pontos da Inglaterra que vinham assistir suas exposições.
Escreveu obras sobre exegese da Sagrada Escritura, Gramática, Poesia, Retórica, Astronomia, Filosofia, Aritmética, Geometria. Redigiu também “História eclesiástica da nação dos anglos”, um livro que coroou sua prodigiosa carreira literária.
Foi o verdadeiro pedagogo não só da Inglaterra, mas da Alemanha através de São Bonifácio, e influenciou, de certo modo, a própria França, onde Alcuíno difundiu seus ensinamentos na escola palatina de Carlos Magno.
Sendo já sexagenário, adoeceu e perdia a respiração constantemente. Mesmo assim, ele discorria sobre os temas solicitados pelos discípulos e ditava-os. Deitado no solo de sua cela, voltado para a capela onde estava o Santíssimo Sacramento, começou a cantar Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo e entregou sua alma a Deus, em 735.
Ainda em vida, ele recebeu o título de “venerável”.
Venerabilidade e espírito católico
Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“O que é uma pessoa venerável? É aquela dotada de uma especial profundidade de espírito adquirida pelo estudo, pela experiência, pela meditação; que possui uma têmpera, uma constância e uma força de vontade incomuns, por onde, mesmo em circunstâncias adversas, com sacrifício de sua saúde, de seu conforto, de sua riqueza, de sua própria existência, tendo traçado uma linha de conduta boa, segue-a até o fim.
“A presença da pessoa venerável incute respeito, os outros amam de ver aquela venerabilidade e têm uma tendência natural a prestar reverência, a obsequiar, como quem pratica um ato de justiça. É próprio ao espírito da Igreja Católica comunicar uma nota de venerabilidade a tudo.”
“Como eu gostaria de tê-lo conhecido, como me atrai imaginar seu porte que é mais de um monumento do que de gente; quando um homem adquire tal ar, fica parecido com uma catedral!
“Então, vendo São Beda, o Venerável, ajoelhar-me diante dele, oscular seus pés e implorar que ele me obtivesse de Nossa Senhora algo dessa venerabilidade, sem a qual não se tem o espírito católico.”
Lutou contra os bárbaros e os clérigos imorais
Nessa mesma época viveu São Bonifácio, nascido em 672, na Inglaterra, originário de distinta família. Desde criança, estudou num mosteiro no qual fez grandes progressos na vida espiritual e intelectual. Aos 30 anos de idade, foi ordenado sacerdote.
Desejoso de fazer apostolado na Alemanha, dirigiu-se a Roma e foi recebido pelo Papa São Gregório II, o qual o designou para evangelizar aquele país.
São Bonifácio vai para a Turíngia, centro da Alemanha, onde encontrou sacerdotes casados e que pregavam heresias. Ele “tinha que lutar não só contra os costumes bárbaros dos idólatras, mas contra os escândalos dos bispos, padres, monges ali estabelecidos”.
A fim de aperfeiçoar sua ação em defesa do bem e de combate ao mal, ele escreveu aos bispos e abades de mosteiros da Inglaterra, pedindo cópias das obras de São Beda, que havia falecido recentemente. Dizia ele que esse Santo “brilhava […] na casa do Senhor, como uma tocha de ciência eclesiástica”.
Sagrado bispo, continuou com afinco seu apostolado com os idólatras da Germânia. Muitos se converteram, mas um bom número deles ainda adoravam árvores.
Derrubou um carvalho considerado sagrado
Pleno de Fé e com ardente desejo de esmagar a idolatria, São Bonifácio resolveu derrubar um gigantesco carvalho existente nas proximidades da atual Fritzlar – região central da Alemanha – e considerado sagrado. Milhares de pagãos apareceram armados para impedi-lo.
Mas o Santo não se deixou amedrontar. Ele mesmo, com um machado, desferiu alguns golpes no carvalho, e Deus enviou um impetuoso vento que lançou a árvore no chão. Todos os pagãos se converteram. E com a madeira do carvalho foi construído um oratório em honra ao Apóstolo São Pedro.
Com o extraordinário aumento do número de católicos, muitas igrejas foram construídas. Então, São Bonifácio dirigindo-se aos bispos, abades e superioras religiosas da Inglaterra, pediu-lhes que enviassem pessoas para ajudá-lo.
Muitos homens e mulheres anglos para lá se dirigiram. E um nobre das proximidades da Germânia trouxe seu filho jovem a fim de ser formado por São Bonifácio. Posteriormente ele fundou, sob a orientação do Santo, a Abadia de Fulda, a qual se tornou famosa no mundo inteiro.
Em 737, o Papa São Gregório III nomeou São Bonifácio legado papal, o qual passou a dirigir treze dioceses germânicas.
Desejando sempre a conversão das almas, em 755, São Bonifácio foi à Frígia, Norte da Holanda, acompanhado de diversos sacerdotes e diáconos. Na clareira de uma floresta, foi armado um altar para a celebração da Missa. De repente, surgiu uma multidão de pagãos armados de lanças que mataram o Santo e outros clérigos. Tinha ele 83 anos de idade.
Sabedores desse morticínio, católicos de todas as partes vieram armados para o local e exterminaram aqueles criminosos. Diz um autor que São Bonifácio “morreu como um soldado no campo de batalha”.
Roguemos a esses valorosos homens de Deus que nos obtenham a graça de crescermos no espírito de oração, na luta contra a ditadura do relativismo que hoje impera, tendo sempre em vista a glória da única Igreja de Cristo e nossa santificação.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
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