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Santo Hugo incentivou a I Cruzada

Abade de Cluny durante 60 anos, Santo Hugo deu grande desenvolvimento a essa Instituição religiosa e participou do Concílio de Clermont, no qual o Beato Urbano II proclamou a maravilhosa epopeia das Cruzadas.   

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Redação (18/10/2022 15:47, Gaudium Press) Nascido em 1024, no castelo de Semur, na Borgonha, Leste da França, Hugo descendia de uma grande família nobre. Sendo ainda menino, foi estudar em Auxerre, cujo bispo era seu tio.

Desejava ardentemente ser monge, mas seu pai não o permitiu. Então, tendo apenas 15 anos, fugiu do castelo em que residia e entrou no Mosteiro de Cluny, onde Santo Odilon o acolheu e convenceu seu progenitor. Progrediu de tal modo na virtude que Santo Odilon o nomeou Prior, o mais importante cargo depois do de Abade.

Abade aos 25 anos de idade

 Em 1049, Santo Hugo foi enviado para a Alemanha a fim de obter a conciliação entre o Imperador Henri III, o Negro, e religiosos que haviam se revoltado contra ele.  Agindo com sabedoria obteve a paz, mas durante esse tempo Santo Odilon faleceu.

Santo Hugo regressou a Cluny e todos os monges o elegeram abade, tendo ele apenas 25 anos de idade.

Logo após sua eleição, participou de um Concílio em Reims convocado pelo Papa São Leão IX para tratar dos escândalos praticados por eclesiásticos; muitos deles eram simoníacos, viviam na impureza, e não poucos cometiam os mais nefandos pecados.

Afirma um biógrafo de Santo Hugo que este pronunciou um brilhante discurso nesse concílio, e “foi graças a ele principalmente que houve o sucesso completo dessa assembleia, a qual expulsou do Santuário os simoníacos e os fornicadores”.[1]

No ano de 1050, realizou-se um Concílio em Tours – Oeste da França – que condenou o teólogo Bérenger, o qual, entre outras abominações, defendia o amor livre e negava a Presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia.

 O Arquidiácono Hildebrando – que depois se tornou Papa com o título de Gregório VII – foi designado por São Leão IX para orientar os trabalhos desse Concílio.

Em sua viagem, ele visitou a Abadia de Cluny, onde assistiu uma reunião feita por Santo Hugo, na qual explicava a Regra. Hildebrando narrou depois que, durante a exposição, viu Nosso Senhor aconselhando Santo Hugo.

Expulsou o demônio que investia contra um Papa

Em 1051, Henrique III teve um filho, e tal era sua admiração por Santo Hugo que lhe pediu para ser padrinho de Batismo da criança. O Abade viajou para Colônia e ministrou o Sacramento para o menino, que recebeu o nome de Henrique. Posteriormente, este sucedeu seu pai com o título de Henrique IV e se tornou, devido a seus nefandos pecados, um dos homens mais execráveis daquela época.

Um ano depois, o Papa São Leão IX ordenou a Santo Hugo que se dirigisse à Hungria a fim de fazer cessar uma guerra entre o rei desse país e o Imperador Henrique III.

O monarca húngaro ameaçava reconduzir ao paganismo aquele país que o grande Santo Estevão conquistara para a Igreja. Santo Hugo, com suas orações e atividades durante longos meses, conseguiu realizar um acordo mediante o qual Henrique III consentiu em dar uma de suas filhas em casamento ao filho e sucessor do Rei da Hungria.

Entre outros dons, Santo Hugo possuía o de exorcizar os demônios.

O Papa Estêvão IX, que governou a Igreja de agosto de 1057 a março de 1058, ordenou a Santo Hugo que o acompanhasse em sua viagem a Toscana, Oeste da Itália. Em Florença, o Papa pressentiu que iria falecer em breve e disse ao Abade de Cluny:

“Peço ao Senhor que eu morra em vossos braços. Assim que vós me deixais só, o inimigo do gênero humano me cerca com visões terríveis; quando vos aproximais ele desaparece.”[2]

Poucos dias depois, Estevão IX morreu tendo apenas 38 anos de idade. Ele lutara pela supremacia do poder papal contra os que pretendiam subordiná-lo ao poder temporal, e depôs de seus cargos todos os clérigos concubinários. Diz-se que foi assassinado pelos inimigos da Igreja.

Participou do Concílio de Clermont

Em 1095, o Papa Beato Urbano II, que fora monge cluniacense, dirigiu-se a Clermont – Centro da França – a fim de pregar a Cruzada contra os maometanos que perseguiam atrozmente os católicos na Terra Santa.

Passando pela Borgonha, ele visitou o Mosteiro de Cluny e fez com que Santo Hugo o acompanhasse até Clermont para participar do Concílio.

Entusiasmado pela guerra contra os infiéis a fim de libertar a Igreja, Santo Hugo incentivou seus monges a que – embora não pudessem batalhar corporalmente – aconselhassem os fiéis a participarem da Cruzada ou, não o podendo, fizessem sacrifícios e orações nessa nobilíssima intenção.

O Papa Pascoal II, que também havia sido monge de Cluny, no ano de 1106, esteve nessa Abadia e ordenou que Santo Hugo o acompanhasse nas visitas que pretendia fazer em diversas cidades da França.

Três anos depois, Santo Hugo visitava o mosteiro feminino de Marcigny, situado na atual região de Borgonha-Franco Condado e que era dirigido por monges da Ordem de Cluny. Pressentindo que a morte se aproximava, ele reuniu todos os monges e religiosas e pediu-lhes perdão por suas faltas cometidas ao longo dos 60 anos em que foi abade.

Depois, foi conduzido à igreja do mosteiro onde entregou sua alma a Deus, em 29 de abril de 1109, aos 85 anos de idade. Sua memória é celebrada em 29 de abril.

Quando Santo Hugo faleceu, a Ordem de Cluny possuía 1.450 casas, habitadas por 10.000 monges, sendo 815 mosteiros na França e os outros na Alemanha, Itália, Inglaterra e Espanha.[3]

Mas seu sucessor Pons de Melgueil, sétimo abade de Cluny, escravizado pelo orgulho, precipitou-se no cisma e morreu excomungado.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1875, v. XXI, p. 142.

[2] DARRAS. Op. Cit., v. XXI, p. 294.

[3] Cf. PIGNOT, Jean-Henri. Histoire de l’ordre de Cluny, depuis la fondation de l’abbaye jusqu’à la mort de Pierre-le-Vénérable (909-1157). Paris : Durand, Libraire. 1868, v. 2, p. 16,23,33; Cf. DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja dos tempos bárbaros. São Paulo: Quadrante. 1991, v. II, p 593.

 

 

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