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Santa Melânia possuía fabulosa fortuna

Possuir grande fortuna não é incompatível com a santidade. Santa Melânia era fabulosamente rica e pertencia a uma nobilíssima família senatorial da Roma antiga.

 Possuir grande fortuna não é incompatível com a santidade. Santa Melânia era fabulosamente rica e pertencia a uma nobilíssima família senatorial da Roma antiga.

Redação (17/05/2021, 17:10, Gaudium Press) A fim de termos uma noção do aspecto socioeconômico do Império Romano, focalizaremos a figura de Santa Melânia, que era fabulosamente rica e pertencia a uma nobilíssima família senatorial.

Um dos patrimônios mais ricos da aristocracia romana

Nasceu ela em Roma, em 383. Desde menina quis se consagrar a Deus, mas quando ela atingiu a adolescência seus pais fizeram-na casar com Valério Piniano, o qual tinha 17 anos de idade e possuía grande fortuna.

Depois de terem dois filhos que morreram ainda crianças, os esposos decidiram adotar vida religiosa. Ela começou a desfazer-se de seus bens para
se dedicar inteiramente à oração e ao estudo, mas foram necessários anos para conseguir doar sua fortuna.

Além de joias, pratarias e preciosidades artísticas, Melânia possuía latifúndios na Itália, Sicília, Gália, Espanha, regiões do Norte da África, Mesopotâmia – atual Iraque e Kuwait –, Síria, Palestina e Egito. Um palácio de sua propriedade em Roma ficou sem comprador, por não se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo, e o próprio Senado tratou da questão. Mas a Santa persistiu em seu intento, tendo-o levado a cabo após anos de luta.

Religiosa num convento em Jerusalém

À medida que ia vendendo seus bens, Santa Melânia erguia mosteiros, protegia os pobres, fazia doações às igrejas e resgatava prisioneiros. Esses negócios obrigavam-na a viajar muito, e ela procurava fixar residência em lugares onde o bispo levava vida ilibada e conhecia bem as Escrituras. Assim, teve contato com célebres varões de Deus, entre os quais Santo Agostinho.

Depois de ter resolvido todas as questões práticas, foi viver num mosteiro em Jerusalém, onde se dedicou à oração, ao jejum e aos estudos da Sagrada Escritura. Dado seu grande conhecimento de latim e grego, realizou notável trabalho de copista. Incentivou a reza do Ofício Divino durante a noite e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos.

Santa Melânia morreu em 439 e mereceu grande elogio de São Jerônimo que a citava como exemplo para suas dirigidas.

Seu esposo também foi para Jerusalém, onde viveu num mosteiro masculino e lá se santificou. Ambos constam do Martirológio romano e sua memória é celebrada em 31 de dezembro.

O luxo ordenado não é censurável

Sintetizamos a seguir os comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito dessa grande Santa.

Essa resenha biográfica só pode ser devidamente compreendida tomando-se em consideração o modo pelo qual as riquezas estavam distribuídas, tanto no Império Romano do Ocidente como no do Oriente.

De um modo geral, em tudo quanto se publica a respeito dos povos pagãos, a historiografia oficial é cheia de elogios aos romanos. Entretanto, a maior parte dos habitantes da cidade de Roma, e do Império Romano, era constituída de escravos. A lei, o senso jurídico dos romanos era fabuloso. Contudo, a maior parte da população estava colocada à margem da lei…

No mundo pagão, vemos se acumularem riquezas fabulosas sem qualquer proporção com a capacidade de fruir — ou mesmo de se ornamentar — do homem. O luxo ordenado não é censurável. Portanto, é compreensível que um potentado tenha grandes palácios. Mas que ele possua tantos palácios que não tenha tempo para conhecê-los nem para deles usar, tantas terras que não disponha de tempo para geri-las, evidentemente há uma desproporção entre ele e esses bens. E existe, portanto, um fenômeno de má distribuição.

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza média, por exemplo, Cícero, cujo inventário de bens era considerado como de uma fortuna mediana. Entretanto, era um nababo. Ele
mesmo reconhece, em cartas e outros documentos, não saber no que consistia a maior parte de seu patrimônio.

Dama de riquíssima família trabalhou para ser pobre

Santa Melânia realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja, que é a seguinte: uma nobre que deseja não só reduzir a sua fortuna a proporções humanas, mas doá-la inteiramente para praticar a pobreza.

Ela não podia dilapidar essa fortuna de um modo estúpido. Porque, por mais que quisesse ser religiosa e, portanto, pobre, ela era responsável perante Deus por essa fortuna. E deveria vendê-la e aplicá-la ordenadamente. Só depois de tudo vendido e bem aplicado, ela, em consciência, podia entrar para o convento.

Vemos, então, este fato que nas Histórias dos povos pagãos absolutamente não se encontra: uma grande dama, de uma grande família, trabalhando para ser pobre.

Ela perseverou durante anos, vendendo, aplicando, vendendo, aplicando. E enfrentando dificuldades, porque a venda dos seus bens produziu um certo regurgitamento no mercado, a tal ponto que um palácio dela valia tanto que não houve comprador. Pois bem, ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro.

Possuir grande fortuna não é incompatível com a santidade

O que devemos dizer, em nossa época, a respeito da biografia de uma Santa como esta? Sem dúvida, edifica muito, mas pede, de outro lado, um comentário.

Não podemos julgar que ser uma grande dama, senhora de muitos bens, é contrário à santidade, e que Santa Melânia deixou seu estado anterior por ser incompatível com a santidade. Isto é falso.

Uma grande dama dotada de muitos bens deve, isto sim, fazer grandes esmolas. Ela pode manter largamente sua posição social e a dignidade de sua categoria gozando de todos esses bens, mas doando, na medida do necessário, uma parte do supérfluo. Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se.

O gesto de Santa Melânia foi belo porque consistiu na renúncia de uma situação terrena boa, agradável, na qual ela poderia atingir a santidade. Para se santificar, ela deveria ter o desapego necessário das coisas da Terra, mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna.

Por causa disso houve na História numerosas rainhas santas, numerosos reis santos, pessoas que, do ponto de vista social, eram muito mais do que Santa Melânia e dispunham também de grande quantidade de dinheiro.

Ela, entretanto, foi chamada pela graça para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado, seguiu-o e santificou-se. E nisto ela andou perfeitamente bem, porque se deve fazer a vontade de Deus. E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa, porque a chamou para o estado religioso, que é mais perfeito. Ela, então, se santificou nesse estado com edificação para todos nós e até para a posteridade. Esta é a glória de um Santo[1].

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História da Igreja” – 51)

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[1] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santa Melânia: invencível e heroica. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XVII, n. 201 (dezembro 2014), p. 28-31.

 

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