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Santa Clara de Montefalco

Muito maiores que as belezas do universo material são aquelas existentes nas almas dos santos. A vida de Santa Clara de Montefalco, cuja memória a Igreja celebra no dia 17 de julho, está repleta de maravilhas.

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Redação (17/08/2023 10:22, Gaudium Press) Santa Clara de Montefalco nasceu no ano de 1268 em Montefalco, cidade da Úmbria, na Itália, e morreu em 1308. Ela conservou, durante toda sua vida, um grande ardor na oração.

Na idade de cinco anos, compreendendo os perigos da vida no mundo, ela pediu a sua irmã, Joana, para admiti-la na pequena comunidade que essa irmã Joana dirigia, e que seguia as regras da Ordem Terceira de São Francisco. Contudo, a irmã só atendeu a esse pedido um ano mais tarde.

Uma vez, na idade de nove anos, ela deixou, ao dormir, seu pequeno pé descoberto sair da cama. A sua irmã Joana, que observou, repreendeu-a, e lhe disse que isso não era conveniente a uma virgem. A pequena Clara teve tanto pesar que, depois disso, ela sempre envolvia muito rigorosamente seus pés, antes de dormir.

Ademais, ela não permitia nem sequer às religiosas de tocá-la com a mão. Ela recomendava às suas filhas nunca descobrir seu próprio corpo, mesmo na obscuridade. Ela observava isso tão estritamente para si mesma, que nunca quis mostrar ao médico nenhuma parte de seu corpo sem um véu.

Ela dizia também que as virgens não devem ter familiaridade nem com homens, nem com mulheres casadas, porque essa integridade perfeita dá a imortalidade ao corpo, que embalsamado pela flor da virgindade é preservado, assim, de toda corrupção.

Com a morte de sua irmã, Joana, ela foi eleita abadessa, e preencheu esse cargo com tanta prudência que jamais o demônio pôde enganá-la por qualquer artifício que fosse. Ao observar que ela era muito assídua na contemplação da Paixão de Jesus Cristo, o demônio apareceu-lhe certa vez sob a forma de um crucifixo, com o corpo completamente descoberto a fim de despertar nela, por essa via, pensamentos ignóbeis. Mas a virgem reconheceu a arma do adversário e deu risada. O demônio, furioso, desapareceu.

Deus lhe deu uma tal inteligência a respeito das coisas divinas que ela ousou combater uma heresia de seu tempo, participando de discussões e acusando publicamente um de seus adeptos de mentira e de dissimulação.

Ela conhecia o pensamento oculto das pessoas e, por vezes, tinha o dom de profecia.

Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele mesmo, veio uma vez lhe dar a Comunhão.

Após a morte, seu corpo permaneceu incorrupto

Ela teve, certo dia, um ligeiro movimento de impaciência em relação a uma irmã, que lhe assegurava que, apesar de seus esforços, não encontrava nenhuma suavidade na oração.

Santa Clara de Montefalco cargando la cruz junto a Cristo Museo Thyssen Bornemisza Madrid Espana FL mjvfNão foi necessário mais do que isso para que ela fosse imediatamente privada, ela mesma, de toda consolação, acabrunhada de penas interiores. A noite escura em que foi mergulhada não durou uma semana, nem um mês, mas onze anos inteiros. Depois dessa noite espiritual, o Divino Sol inundou sua alma com sua imortal claridade, e ela se viu elevada por uma concatenação de êxtases, parecendo pertencer mais ao Céu do que à Terra. Nesse estado ela ouvia o concerto dos Anjos, via o Menino Jesus na manjedoura do pobre estábulo de Belém, os Magos ajoelhados para adorar o Menino Jesus.

Certo dia, ela ouviu essas palavras dos lábios de Nosso Senhor:

— Vem Clara, vem! Tua vinda me será agradável.

— Senhor — respondeu ela — eu desejaria me dissolver para me unir a Vós.

— É preciso esperar mais um pouco, minha filha. Teu dia não chegou — respondeu o Senhor.

Uma outra vez o Senhor lhe apareceu na figura de um peregrino, carregando uma cruz sobre os ombros, e lhe disse:

— Minha filha, procurando o que poderia te oferecer de mais agradável a teu coração, pareceu-me que minha Cruz seria a coisa que mais te conviria. Recebe-a, oscula-a e dá-me teu coração, a fim de que possas morrer para a Cruz, sobre a Cruz.

Ela morreu no ano de Nosso Senhor de 1308, no dia seguinte da festa da Assunção, na idade de quarenta anos. Seu corpo foi enterrado em seu mosteiro, onde repousa ainda hoje. Conservado intacto, e com a carnatura flexível como se acabasse de ser sepultado ontem, seu corpo é branco como o alabastro. Sua completa conservação foi constatada de novo sob o pontificado de Pio IX, de feliz memória.

Em seu coração, os instrumentos da Paixão

clara montefalcoA santa alma de Clara, deixando seu corpo, nele fixou sinais evidentes de sua glória. E como as irmãs conhecessem sua terna devoção para com a Paixão, e tinham ouvido Clara dizer várias vezes, antes de sua morte, que ela carregava Jesus Cristo crucificado em seu coração, elas foram tomadas de desejo de se inteirarem exatamente desse fato, antes de confiar seu corpo à terra. Decidiram, portanto, fazer a autópsia e examinar o mistério de seu corpo, constatando que seu coração estava muito inchado e tinha o tamanho da cabeça de uma criança pequena. Ademais, uma região estava completamente dura.

Segundo os médicos, é impossível a uma criatura humana viver nesse estado. Abriram o seu coração e nele encontraram, naturalmente em ponto pequeno, os instrumentos da Paixão. Uma irmã dividiu o coração em duas partes, e sua mão foi tão feliz que nenhum dos instrumentos da Paixão que ali estavam foi atingido. As irmãs, profundamente surpresas e felizes, deram graças a Deus pelo fato.

Na parte direita apareceu marcada a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, preso à Cruz, mais ou menos da grossura de um polegar. Nosso Senhor tinha os braços estendidos, a cabeça inclinada à direita, avançando um pouco sobre os ombros. O flanco direito era lívido com a chaga aberta e sangrando. Em torno dos rins havia um tecido manchado de sangue. Havia também, nessa parte do coração, três nervos aos quais estavam presos três pregos duros e pontudos, um deles notavelmente maior que os outros. Por cima dos pregos, um nervo cor de ferro, terminado em ponta dura. Essa ponta era aguda, penetrava como ferro, e representava a lança com a qual Longinos tinha transpassado o flanco do Salvador.

Enfim, na mesma parte do coração, estava ainda uma bola de nervos menores, representando a esponja com a qual o fel e vinagre foram dados a Nosso Senhor. Na parte esquerda se encontravam os açoites: eram cinco nervos entrelaçados com muitos nós e reunidos por um cabo comum. Depois do açoite se encontrava um nervo maior, representando a coluna da flagelação, cercada por nervos sangrando, figurando as cordas com as quais o Senhor foi amarrado. Por cima da coluna, a coroa de espinhos, formada por nervos entrelaçados como espinhos duros e pontudos. Todas essas insígnias, ainda que formadas de carne, eram duras como os instrumentos reais da Paixão de Nosso Senhor.

Quando as religiosas viram todas essas maravilhas com respeito e admiração, informaram — na ausência do Bispo de Spoleto — ao seu vigário Béranger, que fez um exame minucioso e pôde se inteirar da realidade do que acaba de ser dito. Ele espantou-se, sobretudo com o fato de que esses instrumentos, separados do coração, tinham tomado consistência pela dureza da madeira e da pedra. Várias dessas insígnias foram postas nas mãos do Papa João XXII, quando ele fez o exame da vida de Clara, para a beatificação.

Símbolo da Santíssima Trindade

As irmãs recolheram o sangue que corria do coração quando ele foi aberto e o puseram em uma ampola de vidro.

O sangue difundiu, nesse momento, um odor suave. Ele permanece coagulado até hoje. E quando uma tempestade grave ameaça a Igreja, vê-se que esse sangue se agita e se põe em ebulição, o que significa a cólera de Deus.

A região endurecida foi aberta igualmente e examinada pelos médicos. Ali encontraram três pequenas esferas, cor de cinza e manchadas de vermelho. Eram todas as três da mesma grossura e do mesmo peso, duras como sílex, e colocadas em forma de triângulo. Elas representavam manifestamente o mistério da Santíssima Trindade, sendo absolutamente iguais umas às outras em tudo. O que causa maior admiração é que cada uma dessas bolas era exatamente do mesmo peso que as outras duas.

Isso é mais notável, porque parece uma contradição: pondo numa balança de duas conchas as três bolas, cada vez que se punha uma bola separada, ela pesava tanto quanto as outras duas. Isso é altamente teológico, porque é outro modo de exprimir que as três Pessoas da Santíssima Trindade são tão iguais entre si, que não se pode dizer que duas valham mais do que uma. O que é o auge, o suprassumo da igualdade.

E ao ser colocada numa das conchas da balança uma das bolas e, na outra, uma pedra ou qualquer objeto de peso igual, e que se acrescentasse as outras duas esferas na balança, onde já havia uma, a balança permanecia imóvel como na primeira operação.

Sem dúvida, um verdadeiro milagre.

Era um sinal manifesto da Santíssima Trindade; una quanto à essência, diversa quanto às Pessoas. Uma das três bolas partiu-se por si mesma no momento em que a França, maculada pela heresia de Calvino, causou tantos males à Igreja.

Santa Clara de Montefalco foi canonizada por Leão XIII, no dia 8 de dezembro de 1881.

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