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Salada Mista

Há muitas pessoas capazes de acreditar em qualquer coisa, em extraterrestres e discos voadores, mas que não conseguem acreditar no Deus único e verdadeiro, que se fez Homem e morreu na cruz para nos salvar.

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 Redação (10/09/2023 15:08, Gaudium Press) Recentemente fui convidado a uma casa para tratar de negócios. Na véspera da visita, conheci a esposa do empresário com quem estava desenvolvendo um projeto, uma senhora jovem e muito simpática, ao lado de quem fiquei bastante à vontade, e não demorou para ela me confidenciar um assunto delicado sobre a sua saúde.

Contou-me que atravessara um verdadeiro martírio, sendo submetida a um delicado tratamento para extirpar um câncer, que, embora em fase de remissão, a obrigava a conviver com diversas sequelas. Obviamente, condoí-me com a situação e solidarizei-me com ela, apesar de que, diante de casos assim, não se tenha muito o que falar.

Em dado momento, ela me disse que não costumava abrir essa questão para muitas pessoas, mas que resolveu contar o caso para mim porque o seu marido dissera que eu era um homem religioso, fazendo-a acreditar que eu compreenderia que havia melhorado não pelo tratamento em si, mas sim pelo fato de ela ser uma mulher de muita fé.

Achei interessante o seu depoimento, mas, no dia seguinte, quando cheguei à sua casa para a reunião, sendo conduzido à sala principal, concluí que ela não me tinha dito exatamente a verdade. Não se tratava de ser uma mulher de fé, mas uma mulher de “muitas fés diferentes”.

Sincretismo religioso

Logo à entrada da casa, em cima de um aparador, havia uma imagem de Buda, sobre uma travessa repleta de moedas. Do lado direito da estátua, um elefante, de costas para a porta e, do lado esquerdo, uma grande figa preta e vermelha, amarrada por algumas fitinhas coloridas.00

Na parede fronteiriça à entrada, duas gravuras em alto-relevo de divindades hindus. Acima da estante, um quadro com a pintura de um anjo; na prateleira lateral, um crucifixo, ladeado por mais duas pequenas imagens de divindades hindus e, no centro, uma Bíblia aberta no salmo 91, hábito comum entre pessoas protestantes.

Do sincretismo, aqui não falta nada, pensei, mas faltava… No corredor que levava para os quartos, outro aparador com uma imagem de Nossa Senhora das Graças, ladeada por outra um pouco maior de São Jorge, com um terço pendurado e um gatinho da sorte, em cuja boca estava inserida uma varetinha de incenso aromático. No chão, um vaso com um pé de pimenta vermelha e outras plantas que desconheço. No meio do corredor, pendendo de um fio de nylon, uma pequena mandala feita de vidro e pedaços de espelho.

Valei-me, Deus! – pensei, enquanto mentalmente evocava meu Anjo da Guarda e rezava uma Ave-Maria.

Quem cultua muitos deuses, não serve a nenhum

A primeira imagem que me veio à cabeça, apesar da simpatia e hospitalidade da dona da casa, foi a da Rainha Jezabel, que corrompeu o Rei Acab, seu marido, levando-o a prestar culto a Baal e outras divindades pagãs, comprometendo a nação de Israel.

Quando o marido entrou na sala, a mulher pediu licença e se retirou. Creio que o espanto estivesse estampado em meu semblante, pois o homem logo me disse para não reparar. “De meu aqui, só a Bíblia”, disse, apontando para a Sagrada Escritura com as páginas amareladas, sinal de que, há muito tempo, estava aberta no mesmo salmo, usado como uma espécie de amuleto. Explicou-me que era um homem convertido, batizado nas águas, mas que respeitava as crenças da esposa; afinal, “coitadinha, ela já sofreu tanto, tem fé à sua maneira”.

Cogitei lhe dizer que não, que sua esposa não tinha fé, mas se apegava a diversas muletas para tentar resolver uma situação que lhe causava sofrimento: o seu problema de saúde. Porém, eu estava na casa dele e o mínimo que se espera de uma visita é o respeito ao anfitrião.

Compadeci-me daquela senhora tão consumida pelo desespero e pelo desejo de sarar que atirava para todos os lados, numa enorme salada mista de crenças, abrindo mão do simples e certo: Jesus Cristo, o único Deus verdadeiro.

Deus me livre! Padre não!

Não pude evitar a impressão negativa de que aquela Bíblia da estante deveria ser a única da casa, pois, se houvesse outra, o homem, que se dizia crente, deveria lê-la e perceber o grande equívoco de sua esposa, cuidando de conseguir a salvação daquela pobre alma.

Nossa reunião de negócios prosseguiu e, em dado momento, a esposa, muito solícita, entrou na sala com uma bandeja de café e um prato com pedaços fumegantes de bolo.

– Ela é uma grande mulher, tenho muito medo de perdê-la. O câncer é uma doença ingrata, que o dinheiro não consegue vencer.

– Vou rezar por sua esposa, mas, se o senhor me permite um conselho, creio que ela deveria procurar um sacerdote e fazer uma boa confissão, isso aliviaria o seu coração.

– Deus me livre! Padre não! A Palavra diz que maldito é o homem que confia no homem, devemos confessar nossos pecados somente a Deus e não a outro homem que também é pecador.

– Bem, já que o senhor citou as Sagradas Escrituras, não lhe incomoda tantas imagens de credos diferentes?

– Ah, isso é besteira! Ela não faz por mal, coitadinha, e as imagens não passam de barro e madeira.

Continuamos a conversa de negócios por mais algum tempo e, quando ele me acompanhou até a porta, tocou em meu ombro e disse:

­– Na verdade, seu Afonso, esses amuletos todos me incomodam, eu repreendo, em nome de Jesus! Tenho dó de contrariá-la e oro para que ela se converta. Mas essa história de confissão, de jeito nenhum! Não quero minha mulher metida com a Igreja Católica, os padres…

Extraterrestres e discos voadores

Apenas fiz um sinal com a mão para que ele parasse. Ele entendeu e se calou. Saí de lá meio aturdido, pensando que há muitas pessoas capazes de acreditar em qualquer coisa, em extraterrestres e discos voadores, mas que não conseguem acreditar no Deus único e verdadeiro, que se fez Homem e morreu na cruz para nos salvar.

Não dei continuidade ao negócio que tínhamos começado, e o homem também não me procurou mais, talvez por medo de que eu pudesse ser uma “má influência” para a sua esposa, tentando convencê-la a procurar o Sacramento da Reconciliação, não para se curar do câncer, mas para curar a própria alma, perdida em meio a tantos caminhos que não podem conduzi-la a lugar algum.

Infelizmente, essa senhora é apenas uma entre tantas pessoas que confundem ter muita fé com cultuar muitos “deuses”. A impressão que tive foi a de que ela era como alguém sentado a uma grande mesa, cercado de iguarias, mas morrendo de fome, porque nenhuma delas serve para ser comida.

Que Deus tenha misericórdia de nossa ignorância e se compadeça de nós!

Por Afonso Pessoa

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