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Quod vadis e Tre Fontane

Pedro perguntou a Jesus: Senhor, para onde vais? E Jesus respondeu: “Vou a Roma para ser crucificado de novo.”  O primeiro Papa compreendeu o significado dessas palavras e voltou para Roma. 

Pedro perguntou a Jesus: Senhor, para onde vais? E Jesus respondeu: "Vou a Roma para ser crucificado de novo." O primeiro Papa compreendeu o significado dessas palavras e voltou para Roma.

Redação (03/06/2020 09:00, Gaudium Press) Estando São Paulo preso no Palácio de Herodes, em Cesareia, chegaram a esse local ímpios judeus procedentes de Jerusalém, cujo objetivo era tirar-lhe a vida. Face às falsas acusações que lhe faziam diante do governador, o Apóstolo apelou a César, ou seja, ao Imperador romano.

Um Anjo aparece a São Paulo

Após alguns dias, o Rei Herodes Agripa II e Berenice, sua irmã, foram visitar o governador; sabendo que São Paulo ali se encontrava, o monarca quis ouvi-lo. O Apóstolo fez uma narração sobre sua vida de fariseu, sua conversão e as tramas dos judeus para matá-lo.

Agripa II ficou impressionado e chegou a dizer: “Esse homem bem que poderia ser posto em liberdade, se não tivesse apelado para César” (At 26, 32). Mas nada fez para de fato libertar São Paulo, que ficou preso durante dois anos (cf. At 24, 27). Berenice era irmã de Agripa II e levou vida tão indecente que foi denominada “Cleópatra” da família dos Herodes.

O governador de Cesareia mandou que o Apóstolo embarcasse num navio o qual faria a viagem até Roma; acompanharam-no São Timóteo e São Lucas, que depois narrou com detalhes os fatos acontecidos.  Era um navio de tamanho considerável, pois levava 276 passageiros e carregamento de trigo.

Passado algum tempo, São Paulo advertiu o comandante a respeito do grande perigo em que se encontravam, mas ele não acreditou. Certo dia, desencadeou-se violenta tempestade e os marinheiros começaram a jogar a carga no mar.

O Apóstolo foi, então, até o meio do convés e disse:
“Amigos, se me tivésseis escutado e não tivésseis saído de Creta, teríamos evitado este perigo e prejuízo. […] Esta noite apareceu-me um Anjo do Senhor ao Qual pertenço e a Quem adoro. O Anjo me disse: ‘Não tenhas medo, Paulo. Deves comparecer diante de César, e Deus concede a ti a vida de todos os teus companheiros de viagem’” (At 27, 21-24).

Em Roma, escreve a epístola aos hebreus

Após quatorze dias em que eram lançados de um lado para o outro do navio, este se desconjuntou e os passageiros, a nado ou agarrados em pranchas, conseguiram chegar à Ilha de Malta.

O chefe da ilha, Públio, acolheu em sua casa São Paulo com seus dois acompanhantes e os tratou com toda consideração. O pai de Públio estava doente e o Apóstolo curou-o; sabendo disso, muitos enfermos procuraram São Paulo e todos foram curados milagrosamente. Bastante tempo depois, Públio tornou-se Bispo de Malta, segundo uma tradição local.

Após permanecerem três meses na Ilha de Malta (cf. At 28, 11), eles embarcaram em outro navio com destino a Roma, onde foram recebidos pelos cristãos lá residentes. De fato, no dia de Pentecostes, alguns judeus que tinham ido de Roma a Jerusalém se converteram e, voltando para a capital do Império, formaram o núcleo da primeira comunidade cristã. São Pedro também se encontrava em Roma.

Devido aos préstimos do governador de Cesareia e do comandante do navio, que o acompanhou em toda essa epopeia, São Paulo não ficou numa prisão comum, cujas condições eram horríveis, mas numa casa particular, onde recebia todos os que o procuravam e lhes fazia explicações sobre Nosso Senhor e sua doutrina (cf. At 28, 30).

Roma possuía nessa época um milhão de habitantes, com uma colônia judaica de 40 a 50 mil pessoas e uma dezena de sinagogas. Entre os que visitaram São Paulo, destaca-se Lino, membro da aristocracia romana o qual se converteu e tornou-se depois o segundo Papa: São Lino.

E nos intervalos em que não havia visita, ele escreveu diversas epístolas, entre as quais a dos hebreus, sua obra mestra, um tratado de Teologia onde demonstra a superioridade do sacrifício e do sacerdócio do Novo Testamento sobre o Antigo. “Esta doutrina São Paulo quis consigná-la de forma expressa e completa para opor-se eficazmente aos esforços dos obstinados judeus e ao perigo de apostasia de muitos judeus cristãos.”

Prisão Mamertina

Nessa casa o Apóstolo permaneceu durante dois anos, findo os quais foi libertado e dirigiu-se à Espanha, passando por Marselha, na França. Viajou também até Éfeso e a Ilha de Creta, onde ordenou bispos respectivamente São Timóteo e São Tito.

Vemos assim como ele, apesar de sua idade avançada, não diminuía em nada seu entusiasmo e dedicação, mas os aumentava progressivamente.  Que lição para nós!

No ano 64, Nero ateou incêndio em Roma e começou sua primeira perseguição à Igreja, condenando os cristãos a horrendos suplícios. Alguns eram crucificados, outros, embebidos de matérias inflamáveis, amarrados em estacas ao longo das ruas; ao cair da noite, ateavam-lhes fogo para servirem de tochas, enquanto Nero conduzia uma carroça e percorria aqueles locais assim iluminados.

São Paulo foi preso e conduzido para a capital do Império, onde foi lançado num cárcere como criminoso comum.

São Pedro se encontrava em Roma e, atendendo insistentes pedidos dos fiéis, resolveu fugir. Mas no início de sua caminhada Nosso Senhor lhe apareceu e o Papa Lhe perguntou: “Domine, quod vadis? – Senhor, para onde vais?” E Jesus respondeu: “Vou a Roma para ser crucificado de novo.”  Compreendendo o significado dessas palavras, São Pedro voltou a Roma . Precisamente nesse local existe a Igreja Domine quod Vadis; num de seus altares pode-se ver este milagre: as pegadas de Jesus!

Logo depois foi jogado na Prisão Mamertina, na qual converteu dois de seus carcereiros que foram ali mesmo batizados e posteriormente morreram mártires: São Processo e São Martiniano.  Milagrosamente, brotou nesse lugar uma fonte que jorra até hoje.

Tendo sido condenado à morte de cruz, ele mesmo pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, por se julgar indigno de morrer como o Redentor.

E São Paulo, por ser cidadão romano, não foi crucificado, mas decapitado. Segundo uma bela tradição, quando o carrasco cortou sua cabeça ela saltou e tocou três vezes o solo. De cada um desses pontos brotou uma fonte, e no local onde esse milagre ocorreu existe a Igreja São Paulo alle Tre Fontane – nas Três Fontes.

Ambos foram martirizados num mesmo dia do ano 67.

 

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 13)

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1- Cf. FILLION, Louis-Claude.  La sainte Bible avec commentaires – Actes des Apôtres. Paris: Lethielleux. 1889, p. 795.
2- Cf. FILLION, op. cit., p. 811.
3- Cf. LLORCA, Bernardino. História de la Iglesia Católica – Edad Antigua. 6. ed. Madri: BAC, 1990, v. I, p. 108. 117.
4- Cf. DANIEL-ROPS, Henri. L’Église des Apôtres et des martyrs. Paris: Arthème Fayard. 1957, p. 106.107.112.
5- LLORCA, op. cit., p. 110.
6- Cf. Idem, ibidem, p. 109.110.
7- Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959. v. XI, p. 322.
8- Cf. Idem, ibidem, p. 325.

 

 

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