Primogênito dos filhos espirituais de Maria Santíssima

Nossa Senhora via em São João Evangelista o primeiro elo de uma corrente de devotos da Santa Mãe de Deus, o primogênito de seus filhos espirituais.

 

 Redação (31/07/2020 11:00, Gaudium Press) São João Evangelista, o Discípulo Amado, obteve as mais extraordinárias graças: durante a Santa Ceia reclinou-se sobre o peito de Nosso Senhor, ouvindo as pulsações de seu Sagrado Coração; aos pés da Cruz, recebeu por Mãe a própria Nossa Senhora e depois conviveu com Ela até o dia de sua Assunção.

São João consagrou-se a Nossa Senhora como escravo

Durante a Paixão, todos os Apóstolos fugiram exceto o Discípulo Amado o qual acompanhou Maria Santíssima.

Pregado na Cruz no alto do Calvário o Redentor disse a Nossa Senhora, referindo-se a São João: “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19, 26). Logo após a Morte de Nosso Senhor, o Discípulo Amado dirigiu-se a Ela chamando-A “Mãezinha”. “Inaugurava-se então um convívio perfeito entre Mãe e filho, que se prolongaria ao longo da História nos fiéis que se reconhecessem no Apóstolo e compreendessem terem sido entregues como filhos a Maria Santíssima e a Ela recebido como Mãe.

“Depositado o Corpo de Jesus no sepulcro, Nossa Senhora dirigiu-Se para casa em companhia do Discípulo Amado.”

Compreendendo a grandeza da Santíssima Virgem e amando-A, São João se consagrou a Ela como escravo. “Nossa Senhora via nele o primeiro elo de um filão marial, o primogênito de seus filhos espirituais, no qual zelava por todos os que haveriam de se consagrar a Ela como escravos até o fim dos tempos.”

Em Jerusalém, o ódio dos judeus contra os cristãos aumentou, sobretudo após a conversão de São Paulo. Certo dia, o Redentor apareceu a Maria Santíssima e Lhe recomendou mudar-Se para Éfeso que era, então, a segunda cidade do Império Romano, apenas sobrepujada por Roma.

O Discípulo Amado levou a Éfeso “Nossa Senhora, acompanhada por algumas Santas Mulheres que passariam a morar com Ela para servi-La em suas necessidades.

Participava dos colóquios entre Jesus, Maria e José

“Em Éfeso, enfim, São João pôde desenvolver um apostolado em torno da pessoa de Nossa Senhora sem os atavismos judaicos. Dali surgiu uma devoção sincera, que beneficiou todo o Corpo Místico de Cristo e atraiu graças novas. Por meio delas Maria guiou misticamente a Igreja, dando-lhe os rumos que a Providência desejava.”

A Santíssima Virgem “era visitada diariamente por seu Divino Filho e São José, acompanhados de incontáveis espíritos angélicos.

“A conversa durava algumas horas e, por vezes, o próprio Jesus manifestava o desejo de que São João dela participasse. Maria enviava, então, um de seus Anjos para buscá-lo. O Discípulo Amado alimentava grande expectativa por esse convívio celeste e se extasiava com tudo quanto via e ouvia. Quando acontecia de Nosso Senhor não o chamar, logo depois ele recebia da Mãe de Deus um pormenorizado relato.”

Esse convívio sacral descortinou para São João vastos horizontes, proporcionando-lhe um senso teológico mais penetrante que o dos demais Apóstolos.

Lançado numa caldeira de óleo fervente

O Discípulo Amado, acompanhado de São Timóteo – a quem São Paulo escrevera duas epístolas e se tornara Bispo de Éfeso –, fez intenso e frutuoso apostolado nessa cidade, onde havia um enorme templo dedicado à deusa Diana.

Em suas pregações eles bradaram contra os pecados do povo, especialmente o de idolatria. Muitos pagãos se converteram e o templo de Diana ficou vazio.

O Imperador Domiciano ordenara a perseguição contra os cristãos, e São Timóteo morreu lapidado.

São João havia ressuscitado um morto em Éfeso e era muito respeitado pelo povo.  Por isso não o mataram, mas o levaram preso até Roma para ser julgado por Domiciano, o qual mandou que cortassem seus cabelos brancos, o flagelassem e o conduzissem à Porta Latina da Muralha Aureliana, para ser lançado numa caldeira de óleo fervente.

Deus, então, operou um milagre. Segundo São Jerônimo e Tertuliano, ele saiu dessa caldeira mais forte do que antes. Posteriormente, foi construída nesse local uma capela chamada San Giovanni in Oleo.

Vendo esse fato maravilhoso, o povo aos gritos pediu ao imperador que poupasse São João. Então, Domiciano exilou-o para a Ilha de Patmos, situada no Mar Egeu .

Estrelas que serão varridas do céu

Nessa pequena ilha ele escreveu o Apocalipse, palavra derivada do grego que significa “revelação”. É um livro profético que narra, de modo simbólico, os principais acontecimentos ocorridos no passado, no presente e até o fim do mundo.

Bartolomeu Holzhauser (1613-1658), sacerdote alemão que recebeu inspirações divinas para interpretar o Apocalipse, comentando o trecho: o dragão, “com a cauda, varreu a terça parte das estrelas do céu, atirando-as sobre a terra” (Ap 12, 4), explica:

O dragão significa o demônio. Pelas estrelas do céu, deve-se entender os religiosos e eclesiásticos que, devido aos horrores existentes no mundo, numa certa época, se corromperão. E entregar-se-ão às voluptuosidades da carne. “Então, o celibato e a santa virtude da castidade serão considerados como um escândalo e um objeto de derrisão. […]

“Eles cometerão grandes escândalos; seduzirão os povos e as nações, e perseguirão seus irmãos e superiores que não quiserem andar na via de suas abominações.”

Afirma Dr. Plinio Correa de Oliveira que São João Evangelista “conhecia, entre outras coisas, o processo em nossos dias da Revolução e da Contra-Revolução. Ele via no futuro as figuras malditas do Renascimento, do Protestantismo, da Revolução Francesa e do comunismo. Descortinava também as almas benditas preparadas por São Luís Grignion de Montfort, cuja pregação foi uma espécie de luta ideológica ancestral da Chouannerie  ; via as almas da Contra-Reforma, como também as almas dos movimentos contrarrevolucionários posteriores; contemplou nossas almas e as almas que vão nos suceder numa luta até o fim do mundo”.

São João morreu aos 99 anos de idade. Peçamos-lhe que nos obtenha a graça do aumento da devoção a Nossa Senhora, e a certeza de que Ela em breve esmagará os demônios e seus asseclas que promovem o mal em toda a Terra.

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História da Igreja – 20)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens. São Paulo: Arautos do Evangelho. 2020, v. II, p. 467.539.547 passim.

2 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris : Louis Vivès. 1869, v. VI, p. 471-472.

3 – HOLZHAUSER, Bartolomeu. Interprétation de l’Apocalypse, renfermant l’histoire des sept âges de l’Église Catholique. Paris: Louis Vivès.1856. v. II, p. 71-72.

4 – Movimento católico que se opôs pelas armas contra os revolucionários de 1789.

5 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Mirante altíssimo e grandioso. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano XXII, n. 261 (dezembro 2019), p. 29.