Preparação para Pentecostes
Por que e como devemos nos preparar para a Festa de Pentecostes?
Redação (27/05/2023 08:26, Gaudium Press) Estavam os apóstolos preparados para sua sublime vocação?
Era de supor que, após três anos de convívio diário com Nosso Senhor Jesus Cristo, estivessem preparados para a missão que lhes cabia, de firmar e expandir a Santa Igreja.
Contudo, não o estavam. Em várias passagens do Evangelho, vemo-los repletos de fragilidades. Logo após episódios, sermões e milagres impressionantes, não se punham a fazer comentários sobre a grandeza das palavras ou dos gestos do Mestre, mas sim a discutir a respeito de quem seria o primeiro-ministro num suposto reino temporal que, acreditavam, Cristo iria fundar…
Quando Jesus lhes dizia que estavam para se cumprir as profecias a respeito de sua Paixão, Morte e Ressurreição, eles nada entendiam (Lc 18, 31-43), voltando a disputar sobre quem seria o maior (Mc 9, 31-35). A mãe de João e Tiago aproximou-se um dia de Jesus, acompanhada pelos dois filhos, para Lhe pedir que reservasse para eles os dois primeiros cargos do futuro reino (Mt 20, 2028).
No fim da Santa Ceia, logo após a saída de Judas, houve um diálogo revelador. Depois de Pedro dizer que estava disposto a dar a vida pelo Mestre — declaração que Jesus não aceitou, profetizando-lhe a tríplice negação —, Tomé manifestou sua cegueira sobre os acontecimentos iminentes, e Filipe demonstrou não estar plenamente consciente da divindade de Jesus, pedindo-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”. Ao que Nosso Senhor replicou: “Há tanto tempo estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai… Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim?” (Jo 14, 2-10).
Por que os Apóstolos não compreendiam?
Esta era a situação daqueles que Jesus Cristo convocara para serem as colunas de sua Igreja. Não O compreendiam. Por quê? Entre as várias explicações possíveis, três parecem de maior peso.
Em primeiro lugar, o ser humano, debilitado após o pecado original, não tem apetência de elevar as vistas para as verdades superiores. Seu gosto está em voltar-se para cogitações meramente práticas, concretas, atraído pelos aspectos medíocres da vida.
Por isso não se dá conta daquilo de grandioso para o qual é chamado. Este problema se coloca de forma mais aguda para quem tem vocação incomum, como ocorreu com os apóstolos: não percebiam que lhes cabia a maior missão da história.
Outra explicação é de natureza psicológica. A sociedade de Israel era bem hierarquizada, tendo no topo a raça dos sacerdotes, e depois toda uma coorte de pessoas vinculadas com o sacerdócio ou a realeza, como os escribas, os fariseus e a classe mais abastada.
De outro lado, a Galileia era uma região desprezada, considerada “bárbara” e ignorante. Ora, os apóstolos eram quase todos galileus e pescadores. Sentiam-se, portanto, em certa inferioridade. Agora lhes aparecia a oportunidade de subirem aos primeiros cargos do novo reino…
Faltava-lhes o amor
Por fim, faltava-lhes um amor ardoroso por Nosso Senhor. Se o tivessem, todo o resto se resolveria. Não adiantava assimilarem a doutrina, nem mesmo ter fé e esperança, pois essas virtudes de nada valem se não são acompanhadas pela caridade.
Nem após a Ressurreição de Nosso Senhor desapareceram essas fragilidades. A incredulidade de São Tomé é exemplo característico. Passou o Senhor entre eles mais quarenta dias, e fez lhes revelações e deu ensinamentos. Não adiantou.
Com o que continuavam preocupados? Com a restauração do reino de Israel… Ainda no momento da Ascensão, quando o Divino Mestre lhes fala da vinda próxima do Espírito Santo, eis como reagem: “Então os que se tinham congregado, interrogavam-No dizendo: Senhor, porventura chegou o tempo em que restabelecereis o reino de Israel?” (At 1, 6).
Preparação para a vinda do Espírito Santo
Imediatamente antes da Ascensão, Jesus havia ordenado aos apóstolos que não se afastassem de Jerusalém, pois dentro de poucos dias seriam batizados no Espírito Santo. Voltaram, então, para a Cidade Santa, e subiram ao andar superior do cenáculo: “Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele”.
Vemos também como os apóstolos conheciam o valor da oração. Por meio dela se preparavam para receber o Espírito Santo. E “perseveraram unanimemente”, ou seja, estavam concordes, e, além disso, estavam juntos, porque a oração de vários unidos pelo amor de Jesus Cristo e em função d’Ele tem esta promessa: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18, 19).
Estavam recolhidos, modo excelente de preparação para grandes acontecimentos. O próprio Jesus passara 40 dias no deserto, antes de iniciar sua vida pública.
Embora não se possa dizer que os apóstolos estivessem melhores do que antes, haviam tomado, assim, uma atitude sapiencial. A graça de Pentecostes será, de algum modo, o desabrochar de uma flor, cuja semente vinha germinando em suas almas.
Intercessão de Maria
Quer dizer, apesar de essa graça ter sido gratuita, uma iniciativa de Deus, eles, em certa medida, prepararam o caminho para ela. Por fim chegamos a um ponto fundamental: oravam com Maria.
Eis a condição indispensável para receber as graças do Espírito Santo. Como esposa d’Ele, Nossa Senhora deve Lhe ter pedido que descesse sobre os apóstolos. Reunindo-se com a Santíssima Virgem, os apóstolos obtiveram graças que liberaram suas almas dos últimos obstáculos para se beneficiarem com Pentecostes.
Enviai o Vosso Espírito
Para aproveitarmos convenientemente as graças da comemoração de Pentecostes, que se aproxima, consideremos a maravilha da ação santificadora do Espírito Santo em nossas almas.
Quão necessitado está o mundo, na situação presente, de um sopro especial d’Ele para mudar os corações e renovar completamente a face da Terra!
Peçamos à divina Esposa do Paráclito, Mãe e Senhora nossa, que nos obtenha a graça da vinda o quanto antes deste Espírito regenerador à nossas almas, conforme suplica a Santa Igreja: “Emitte Spiritum tuum et creabuntur, et renovabis faciem terræ” — “Enviai o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da Terra”.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.5, maio 2002.
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