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Papa sobre o caso Rupnik: não tive nada a ver com isso, foi o tribunal da Companhia

Em uma entrevista com Nicole Winfield, da AP, Francisco falou sobre numerosos temas, inclusive o caso do artista jesuíta acusado de abusos.

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Redação (26/01/2023 10:38, Gaudium Press) Em sua primeira entrevista após a morte de Bento XVI, concedida a Nicole Winfield, da Associated Press, o Papa Francisco abordou vários temas, entre eles o chamado Caso Rupnik, o sacerdote jesuíta artista, acusado por várias ex-religiosas que se referem a abusos psicológicos e sexuais, quando faziam parte da Comunidade Loyola, na década de 90. Rupnik foi excomungado por ter dado absolvição sacramental a um cúmplice em maio de 2020, mas sua excomunhão foi levantada um mês depois. Ademais, em outubro do ano passado, o Dicastério para a Doutrina da Fé declarou a prescrição dos fatos pelos quais ele estava sendo investigado, e que “não se pode proceder a nenhum julgamento”, conforme declarou na época a Companhia de Jesus.

Na transcrição da entrevista da AP para o espanhol, Nicole Winfield pergunta ao Papa “como foi decidida esta solução?” do caso do jesuíta, ao que o Papa respondeu que “não tenho certeza de como foi o caminho, porque foi o tribunal da Companhia. Mas uma coisa que o General da Companhia tinha, que eu o louvo, é que ele deu a instrução do processo, a parte da instrução, ao responsável por esses assuntos jurídicos dos dominicanos. A instrução foi feita pelos dominicanos. Eu não me meto nisso. Isso foi ótimo. A coisa estava em processo por um caso que foi resolvido. Não sei como, mas foi arranjado no sentido de acordo mútuo. Eu acho que uma indenização foi paga, mas o acordo não está claro para mim, mas foi resolvido. Mas, nesse meio tempo, surge aquilo de 25 ou 30 anos na Eslovênia. Ou seja, ele se espalha, percebe-se que está diante de uma pessoa muito limitada, que são poderosos, às vezes.

Reparar o delito

Sobre essas “limitações” que “tornam essas pessoas delinquentes”, o Papa disse mais adiante que, “nisto, ajuda muito distinguir entre pecado e delito. Os pecados são sempre perdoados. Somos todos pecadores. Mas o delito, sim eu te perdoo, mas tu pagas, tu reparas o delito. E nisso deve ser muito claro. Ops, eu te perdoo, não faças mais isso. Não, não, não! Agora tu consertas e vê como consertar. E alguns devem deixar o estado clerical porque não podem continuar numa situação pastoral deste tipo”.

A jornalista da AP indaga prontamente se “neste caso, o senhor teve algum papel na decisão?”, ao que Francisco responde “Nada. Eu estava envolvido em um pequeno processo que chegou à Congregação da Fé no passado, mas nada aconteceu comigo. Que continue com o tribunal normal, porque se não se dividem as vias processuais, tudo se confunde. Tudo no mesmo canal. Ou seja, eu não tive nada a ver com isso. Eu sempre mandei para lá porque tinha começado aí, então, que eles o terminem lá. Terei que ver se o padre Rupnik recorre. Porque, aí sim, tem que se recorrer aqui, mas não o fez, não o fez. Se o apelo vai para a Doutrina da Fé, aí se faz o Vaticano”.

O jornalista Winfield lembrou a Francisco que o caso, “o dicastério [para a Doutrina da Fé] declarou-o prescrito”, e que muitos lamentam porque “o dicastério decidiu não revogar a prescrição”.

Francisco responde que “nisto há uma conduta geral, seja a presunção de inocência ou a prescrição, são armas legais de garantia. Eu cuido delas, eu cuido delas. Ou seja, a presunção de inocência e tantas outras que existem. Porque se começarmos a sair dessas garantias, a justiça se torna muito manipulável. Não tolero a prescrição quando há um menor envolvido. Isso sim, eu pego imediatamente. Neste caso, não, o que não impede que a pessoa seja processada. Mas fora dessa acusação que já prescreveu. A prescrição é uma garantia”.

“[…] Mas isso não significa que lavamos as mãos do problema. Há um problema pastoral muito grave. Portanto, há milhares de caminhos para avançar com processos canônicos, com punições, reduções a um estado laico, que não tem que seguir esse caminho de revogação da prescrição. Agora, se tem um menor, eu sempre pego (o caso), ou com um adulto vulnerável. Eu sempre pego. Foi uma surpresa para mim, realmente. Essa situação, uma pessoa, um artista desse nível, pra mim foi uma surpresa muito grande, e uma dor, porque essas coisas magoam”.

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