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Papa Francisco inicia novo ciclo de catequeses

 “Não devemos esperar ser perfeitos e ter percorrido um longo caminho atrás de Jesus para dar testemunho d’Ele; o nosso anúncio começa hoje, lá onde vivemos.”

Papa 2

Redação (12/01/2023 10:38, Gaudium Press) No novo ciclo de catequeses iniciado na Audiência Geral de quarta-feira, 11/01, o Papa Francisco abordou um tema que lhe é caro e muito importante para a sobrevivência e o desenvolvimento da vida cristã:  a paixão pela evangelização. Em seu pronunciamento, o Sumo Pontífice destacou o perigo do esmorecimento da fé diante da diminuição do zelo apostólico e do entusiasmo em pregar o Evangelho.

No início de seu sermão, o Papa destacou a importância da ação apostólica para a Igreja, colocando-a como uma dimensão vital. Lembrou que a Igreja nasceu apostólica e missionária e diferenciou o apostolado do proselitismo. “Ser missionário, ser apostólico, evangelizar não é o mesmo que fazer proselitismo, não tem nada a ver uma coisa com a outra. É uma dimensão vital para a Igreja”, enfatizou.

Missão apostólica: oxigênio da vida cristã

Tomando por base a realidade do que acontece no dia a dia de um cristão, e das transformações a que está sujeito o seu propósito missionário, ele explicou que “pode acontecer que o ardor apostólico, o desejo de alcançar os outros com o bom anúncio do Evangelho, diminua.”

Lembrando que, quando a vida cristã “perde de vista o horizonte do anúncio, ela adoece: fecha-se em si mesma, torna-se autorreferencial e atrofia-se”, o Papa destacou a importância da missão apostólica: “Sem zelo apostólico, a fé esmorece. Ao contrário, a missão é o oxigênio da vida cristã: a tonifica e a purifica.”

O Papa frisou a necessidade de se redescobrir da paixão pela evangelização e que as Escrituras e os ensinamentos da Igreja são as melhores fontes para manter aceso o zelo apostólico.

Uma Igreja extrovertida

 Usando o exemplo de que o Espírito Santo plasma a Igreja em saída, a Igreja que vai, e não apenas a Igreja que recebe, o Papa destacou a importância da alegria que deve estar presente na Igreja “a fim de que ela não permaneça fechada em si mesma, mas seja extrovertida, testemunha contagiosa de Jesus, destinada a irradiar a sua luz até aos extremos confins da terra”.

Ele lembrou também do risco da espera indefinida pelo momento propício e pela situação ideal para o começo da ação apostólica: “O seu zelo apostólico não começa num lugar novo, puro e ideal, mas lá onde vive, com as pessoas que conhece. Eis a mensagem para nós: não devemos esperar ser perfeitos e ter percorrido um longo caminho atrás de Jesus para dar testemunho d’Ele; o nosso anúncio começa hoje, lá onde vivemos. E não começa procurando convencer os outros, mas testemunhando todos os dias a beleza do Amor que olhou para nós e nos fez levantar”

Destacou a importância de que a Igreja não deve fazer proselitismo e recordou um ensinamento de Bento XVI a esse respeito: “A Igreja não faz proselitismo. Ao contrário, ela desenvolve-se por atração”.

Para ilustrar esse pensamento, o Papa relembrou um episódio ocorrido num hospital da Argentina. “Chegou um grupo de religiosas coreanas que não sabiam uma palavra de espanhol, mas logo os doentes se sentiram amados porque com seus gestos e olhares, elas tinham comunicado Jesus. Esta é a atração, contrária ao proselitismo. Este testemunho atraente e jubiloso é a meta para a qual Jesus nos conduz com o seu olhar de amor e com o movimento em saída que o seu Espírito suscita no nosso coração”.

Como somos vistos por Jesus

O Papa explicou como Jesus vê a cada um de nós: “Jesus vai à pessoa, ao coração: esta é uma pessoa, este é um homem, esta é uma mulher, Jesus vai à substância, ao substantivo, nunca ao adjetivo, deixa passar os adjetivos”.

Para ilustrar este raciocínio, lembrou o encontro entre Jesus e Mateus: “No episódio evangélico do chamado do apóstolo Mateus, tudo começa com Jesus, que ‘vê um homem’. Poucos viam Mateus como era: conheciam-no como aquele que estava ‘sentado no banco dos impostos’. Ele era cobrador de impostos, alguém que cobrava os tributos em nome do Império Romano, que ocupava a Palestina, um traidor do povo. Podemos imaginar o desprezo que o povo sentia por ele: era um ‘publicano’. Mas, aos olhos de Jesus, Mateus é um homem, com as suas misérias e a sua grandeza. Jesus não se limita aos adjetivos, Jesus sempre procura o substantivo. ‘Este é um pecador, este é um tal…’ são adjetivos”

E frisou que a diferença está no olhar de Jesus e que tudo, na missão de um cristão, começa a partir desse olhar, que aprendemos com Jesus: “Enquanto entre Mateus e o seu povo há distância, Jesus aproxima-se dele, porque cada homem é amado por Deus. Este olhar de Jesus que é belíssimo, que vê o outro, quem quer que seja, como destinatário de amor, é o início da paixão evangelizadora.” 

A mudança provocada por Jesus

Dando continuidade à sua exortação, o Papa Francisco disse que o olhar, a maneira como devemos ver o outro, seguindo o exemplo de Jesus, é a primeira parte da ação. Em seguida, deve haver um movimento na direção do outro.  Jesus faz um movimento em direção a Mateus e o convida a segui-lo, com isso, o incita a também fazer um movimento.

Jesus foi aonde Mateus estava, na coletoria de impostos, sentado em sua posição, que era uma posição de poder. Jesus o olhou, o tocou com esse olhar e lhe fez o convite irresistível: “Segue-me!”. E, segundo o texto bíblico, Mateus ‘levantou-se e o seguiu’.

O Papa apresentou uma pergunta: e uma resposta: “O texto diz: ‘levantou-se’. Por que este detalhe é tão importante? Porque naquela época quem estava sentado tinha autoridade sobre os outros. Em síntese, quem estava sentado tinha poder. A primeira coisa que Jesus faz é separar Mateus do poder: do estar sentado para receber os outros, o coloca em movimento rumo aos outros; o faz deixar uma posição de supremacia para o colocar no mesmo nível dos irmãos e para lhe abrir os horizontes do serviço. É isto que Cristo faz, e isto é fundamental para os cristãos”.

E concluiu dizendo que Jesus vai até a casa de Mateus e ali, Mateus prepara-lhe ‘um grande banquete’, do qual ‘participa uma grande multidão de publicanos’. Mateus regressa ao seu ambiente, mas volta mudado e com Jesus”. A lição que deve ser tirada deste exemplo é que, ao olhar e ao movimento, Jesus acrescentou uma meta, e é este o rumo que devemos seguir: ver o outro, fazer um movimento em direção ao outro e seguir uma meta.

Para isso, convidou todos os católicos a se fazerem as seguintes perguntas: “Como vemos os outros? Quantas vezes vemos os seus defeitos e não as suas necessidades; quantas vezes etiquetamos as pessoas pelo que fazem ou pensam! Até como cristãos, dizemos: é ou não é dos nossos? Este não é o olhar de Jesus: Ele olha sempre para cada um com misericórdia e predileção”.

 

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