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O milagre eucarístico de Daroca

Alguém poderá se perguntar: por que em tempos de Fé robusta se davam milagres portentosos com relativa frequência e, na sociedade materialista de hoje, os milagres são tão escassos, ou quase inexistentes?

O milagre eucarístico de Daroca

Redação (09/06/2020 17:00, Gaudium Press) Enquanto seguimos sentindo o vazio da presença Eucarística (teremos em junho a emblemática procissão de Corpus Christi pelas ruas de nossas cidades e povoados?), saíamos do prosaico do dia a dia que nos toca viver e nos desloquemos no espaço e no tempo: vamos para Espanha, ou para “as Espanhas” do século XIII.

Daroca, um lindo povoado medieval de Aragão que foi aldeia celta e posteriormente cidade romana, situada uns 80 quilômetros de Zaragoza, foi escolhida por Deus para ser custódia de um portentoso milagre eucarístico. Ainda hoje, apesar da descristianização generalizada, em Daroca se celebra com solenidade (ao menos se celebrava até o ano passado…) a Semana Santa e o Corpus Christi.

daroca

O Padre encontrou as hóstias empapadas de sangue

Os muçulmanos, em seu empenho de conquistar toda a península ibérica, rondavam pelas proximidades de Daroca. As tropas cristãs de Aragão se organizaram então para defender e reconquistar suas terras. Católicos de Daroca, Teruel e Calatayud se dispunham para a batalha; era o dia 23 de fevereiro de 1239.

Um sacerdote de Daroca celebrava a Missa e consagrava seis hóstias destinadas à Comunhão dos capitães daquelas tropas. De repente, um ataque do inimigo o obrigou a suspender a Missa, tendo o sacerdote que sair apressado até um monte próximo, para esconder as formas já consagradas, envolvidas em corporais.

Milagre de Daroca

Neste ataque os cristãos foram vitoriosos, e os comandantes pediram ao sacerdote para receber a Comunhão em ação de graças pela vitória obtida. O Padre Mateo Martínez foi até onde havia escondido o Santíssimo Sacramento para evitar que fosse profanado, e, Oh maravilha!, encontrou as seis Hóstias empapadas em sangue e presas nos corporais.

Com os corporais manchados de sangue e convertidos em estandartes, novas vitórias

Os chefes de guerra se encantaram ao ver o milagre, e o tomaram como um sinal de que seriam vitoriosos em futuras investidas. Pediram ao clérigo que levantasse os corporais manchados de sangue em uma moldura, e erguê-los como um estandarte. Com ele voltaram à batalha, obtendo novas vitórias.

Milagre de Daroca 2

Os seis comandantes eram de diferentes lugares e, naturalmente, cada um desejava que os corporais fossem à sua própria cidade, para serem honrados na respectiva Catedral ou templo. Discutiam e discutiam… ninguém cedia, e não se colocavam de acordo. Decidiram então fazer um sorteio. E a própria cidade de Daroca acabou sendo escolhida para ser a sede daquele tesouro tão valorizado.

Os corporais ficam em Daroca

Mas… dois dos chefes não aceitaram. Então, foi proposta uma singular solução: os corporais seriam colocados no lombo de uma mula árabe, capturada na conquista, que nunca antes havia pisado em terras cristãs. A deixariam vagar durante o tempo e os lugares que quisesse, e onde se detivesse definitivamente seria o lugar escolhido para a permanência das relíquias. Se executou esse plano.

corporais de daroca

A mula com o tesouro nas costas se colocou a caminho e andou durante doze dias uma distância de duzentos quilômetros, bordeando cidades, sem entrar em nenhuma. Por fim, caiu exausta diante da Igreja de São Marcos… na cidade de Daroca à qual retornara! Ali ficaram então os corporais que mais tarde foram levados para a hoje Basílica de Santa Maria dos Sagrados Corporais, onde são venerados em uma capela ornada com pinturas que evocam o milagre.

Há interessantes tradições que foram transmitidas por gerações sobre a viagem da mula; contam que em sua travessia ocorreram vários milagres: cânticos de anjos, demônios que abandonaram possessos, conversões etc.

Urbano IV recebe outro sinal para estabelecer a festa de Corpus Christi

Alguns anos após o milagre, em 1261, uma comitiva de Daroca viajou até Roma para informar Urbano IV -um Papa amante da Eucaristia- sobre o milagre eucarístico de sua cidade. Este Pontífice foi contemporâneo da religiosa Santa Juliana de Cornillón, de Liège, Bélgica, que tanto trabalhou pela instituição de uma festa própria para o Santíssimo Sacramento. Naquela época, Urbano IV, que antes foi cônego em Liège, se encontrava em Orvieto, onde declarou autêntico outro famoso milagre eucarístico, o de Bolsena, e instituiu, em 1264, a Festa de Corpus Christi. O milagre eucarístico de Daroca foi considerado como mais um sinal do Céu para que a festa de Corpus Christi, hoje Solenidade, fosse estabelecida.

São Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino, que providencialmente estava na ocasião com o Papa, compôs hinos para a Missa própria de Corpus. Mais tarde, o doutor e Santo dominicano seria nomeado padroeiro da cidade de Daroca. E em 1444, o Papa Eugênio IV concedeu indulgências e jubileus a serem celebrados em Daroca. Foi este Pontífice que declarou autênticos outros milagres eucarísticos: o de Walldurn, na Alemanha; e o de Ferrara, na Itália. Eram épocas de Fé ardente…

A relação entre Fé e milagres

Alguém poderá se perguntar: por que em tempos de Fé robusta se davam milagres portentosos com relativa frequência e, na sociedade materialista de hoje, os milagres são tão escassos, ou quase inexistentes? Os milagres não tocariam os corações e avivariam a Fé adormecida das pessoas?

Claro que não. Porque os milagres são, precisamente, presentes de Deus para as almas que têm Fé, que estão dispostas a acreditar. “Se eles não escutam a Moisés e aos profetas, mesmo que alguém ressuscite dentre os mortos, eles não acreditarão”, disse Abraão ao homem rico da parábola que queimava no inferno (Lc, 16, 31).

A Santa Missa é, pois, a mais bela expressão externa em honra de Deus, uma vez que é por Ele mesmo oferecido enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

De qualquer forma, a cada dia, a toda hora e em milhares de lugares, acontece um milagre muito maior e mais impressionante do que todos os outros: a transubstanciação. Na Missa, pelas palavras da consagração proferidas pelo próprio Cristo através da voz do sacerdote, e por obra do Espírito Santo, o pão e vinho se convertem no Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor.

Não se valoriza devidamente este milagre supremo e outros são considerados inúteis!

Mairiporã, junho de 2020

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

(Publicado originalmente em www.opera-eucharistica.org)

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