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O inferno existe ou Jesus mentiu?

Deus desejar, por amor, que todos os seus filhos se salvem, não quer dizer que todos eles se salvarão ainda quando escolham deliberadamente o pecado.

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Redação (29/10/2022 16:22, Gaudium Press) Terminei o último artigo adiantando o assunto deste, algo que não costuma ser usual. Afinal, cada dia é um dia, e fatos e fatos se sucedem, encaminhando as diretrizes da escrita. Porém, há tempos, algumas perguntas têm ecoado em minha mente, sobretudo após assistir, na internet, alguns conteúdos dito católicos: O inferno está vazio? O fogo do inferno é metafórico? O inferno é apenas uma figura de linguagem, o elemento de uma parábola? O inferno existe ou Jesus mentiu?

Muitos papas e teólogos da envergadura de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino se preocuparam em afirmar que o fogo do inferno é real e corpóreo e, durante muito tempo, não se questionou essa verdade de fé, até que, por conveniência, começaram a surgir heresias se contrapondo a isso e a mais moderna delas é a de que todos serão salvos porque o inferno não existe.

O mesmo destino?

Obviamente, é muito consolador acreditar que, não importa o que façamos, Deus é misericordioso e levará a todos para o Céu. Algo que funciona mais ou menos como a progressão continuada adotada no ensino: não importa se o aluno aprenda ou não, se tire boas notas nas provas ou se esteja sempre abaixo da média, no fim, todos passam de ano, todos são aprovados, porque o sistema educacional estabeleceu que a reprovação é nociva para as crianças e os jovens, e leva à evasão escolar – e porque, por razões de política internacional, há um incentivo para que a educação seja conduzida dessa maneira, e isso não acontece apenas no Brasil.

Embora eu não seja um pedagogo, convivo com muitos educadores que afirmam que essa política, longe de melhorar os alunos desinteressados e indisciplinados, acaba desestimulando os estudiosos e dedicados, e fazendo um nivelamento por baixo, piorando cada vez mais o nível do ensino. Afinal, se fazendo ou não a lição, estudando ou não, tendo bom ou mau comportamento nas aulas, todos vão passar de ano do mesmo jeito, para que estudar, se esforçar, obedecer?

O mesmo se dá com a crença no inferno. Que sentido tem agir bem, ser correto, digno, evitar as ocasiões de pecado, amar o próximo, ser piedoso, rezar, frequentar os sacramentos, fazer caridade, sacrifícios e renúncias se, no fim, os mais santos e os piores pecadores terão o mesmo destino?

Houve épocas em que as heresias eram fervorosamente combatidas, cristãos heroicos eram capazes de dar a própria vida no combate das heresias, todavia, hoje, a simples menção dessa expressão soa abusiva e ultrapassada, e crenças absurdas e anticristãs se espalham até mesmo entre membros do clero.

O inferno é uma metáfora?

A inexistência do inferno não é uma posição defendida pela Igreja, mas, infelizmente, há padres muito conhecidos, formadores de opinião, que propagam que o inferno é uma metáfora ou, se concordam que ele existe – afinal, é difícil negar um conceito que aparece mais de 50 vezes na Bíblia – afirmam que ele está vazio. Com isso, depõem contra Deus, que teria criado algo inútil e sem finalidade, além de afirmarem que Jesus mentiu, já que foi Ele quem mais advertiu sobre a existência do inferno e a possibilidade de condenação eterna.

Evitando apoiar-me apenas em opinião própria, proponho uma reflexão sobre as afirmações de alguns pensadores católicos, embasadas no Magistério da Igreja. Segundo o Cardeal Gaspani, teólogo tomista, no Cathecismus Catholicus, aprovado pela Santa Sé, com relação ao inferno deve-se crer, com fé divina:

1º – Que existe o inferno constituído pelos demônios e pelos que morreram em pecado mortal, mesmo que fosse um só.

2º – Que, no inferno, os condenados são atormentados por dupla pena: a de dano e a pena de sentidos, sendo esta principalmente de fogo.

3º – Que as penas que os condenados do inferno cumprem são eternas e jamais terão fim, nem serão atenuadas.

4º – Que não são as mesmas penas para todos, mas diversas, conforme o número e a gravidade dos pecados, que mereceram a condenação eterna.

Existem vários conceitos sobre a materialidade do fogo do inferno, uma vez que as almas são incorpóreas, portanto, não poderiam sofrer danos provocados pelo fogo. Como ele é, nós não podemos saber, e nem faz muita diferença que saibamos, porque isso é uma coisa que só saberemos indo para lá, uma matéria sobre a qual prefiro passar a eternidade na ignorância.

Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras

Quaisquer ponderações a este respeito são meramente especulativas, no entanto, duvidar da existência do inferno é o mesmo que negar o sacrifício da Cruz, o que não deve pesar muito para certos pensadores de clergyman, para os quais até mesmo a crucifixão pode ser considerada metafórica, assim como a ressurreição e a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, do jeito que a coisa vai, com padres mais preocupados em angariar votos para esse ou aquele candidato do que em viver plenamente o sagrado Mistério da Eucaristia e a proclamação do Evangelho, não demora para que se comece a propagar que até mesmo a existência física de Jesus e Maria possam ser conceitos metafóricos.

Em sua carta aos Romanos, São Paulo anuncia que a bondade e a tolerância de Deus nos convidam ao arrependimento, mas adverte: “Pela tua obstinação e coração impenitente, vais acumulando ira contra ti, para o dia da cólera e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras.” (Rm 2, 5-6)

E é o mesmo Apóstolo quem afirma que “Ao nome de Jesus todo joelho se dobrará no Céu, na Terra e nos infernos” (Fl 2,10), o que demonstra que ele entendeu e acreditou na mensagem de Jesus, ou talvez, de acordo com raciocínio dos modernos teólogos de Internet, não apenas Jesus mentiu, como seus principais seguidores e pilares da Igreja se equivocaram.

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino defenderam a existência do inferno e das penas eternas. Estariam também enganados esses grandes estudiosos, homens plenos em santidade e sabedoria?

Reza o Credo de Santo Atanásio, que faz parte da liturgia e da doutrina da Igreja, que “todos os homens irão ressuscitar com seus corpos e dar conta de seus próprios atos; e os que fizeram o bem, irão para a vida eterna; os que fizeram o mal, ao contrário, ao fogo eterno. Esta é a fé católica: todo o que não a crer fielmente não poderá salvar-se“.

E esse conhecimento assim prosseguiu, até que, baseados em conceitos não católicos, alguns religiosos decidiram abolir o inferno e a danação eterna, em nome de um Deus amoroso e bom.

Não há a menor dúvida de que Deus, que é, sim, um Pai amoroso, justo e bom, não deseja que nenhum de seus filhos se extravie do caminho. É seu desejo que todos se salvem e, para isso, Ele deu a Si mesmo, Seu próprio Filho, acabando a vida numa infame cruz. Mas, Ele desejar, por amor, que todos os seus filhos se salvem, não é o mesmo que dizer que todos eles se salvarão ainda quando escolham deliberadamente o pecado. A semeadura é livre, a colheita, obrigatória e quem planta urtigas não colherá girassóis.

Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos” (Mt 25,41).

O Filho do homem enviará os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que faz cair no pecado e todos os que praticam o mal. Eles os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13, 41-42).

Essas afirmações podem ser dolorosas, mas elas não são Fake News, e advertências não faltam para que evitemos tal destino para nossas almas. Negar que o inferno existe não faz com que ele não exista, da mesma forma que a criança com medo do escuro, ao fechar os olhos, não faz com que o escuro desapareça.

Iniciei esta reflexão com perguntas, e com perguntas a encerro: quem nega o inferno, realmente acredita em Deus? Afinal, a quem serve aquele que diz que o inferno não existe, ainda que seja um padre quem o diga? E, se muitas almas incautas caminham para o inferno por acreditar em qualquer coisa, sem critério, certo é que, lá, lhes farão companhia aqueles que as levaram a crer em tal heresia.

Por Afonso Pessoa

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