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O Domingo de Ramos nos Evangelhos

De onde Jesus vinha? O que faria em Jerusalém? Por que tamanha multidão? Estas perguntas muitas vezes não se sanam apenas ao acompanharmos a liturgia diária da Semana Santa. Contudo, à luz dos quatro Evangelhos, possuem suas respostas. 

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Redação (24/03/2024 08:17, Gaudium Press) Há cerca de um mês, o Divino Redentor havia realizado o mais estrondoso de seus milagres: a ressurreição de Lázaro, há quatro dias morto. E a notícia deste acontecimento despertara contra Nosso Senhor um ódio mortal por parte da sinagoga. (Cf. Jo 11,1-25)

Foi então que os sumos sacerdotes e os fariseus resolveram lançar a sentença de excomunhão contra Jesus[1], decretando sua sentença de morte.

Por este motivo, Nosso Senhor se refugiou em Efrém, cidade vizinha do deserto e muito próxima do Jordão. Ali, permaneceu rezando e preparando-se para a grande hora que estava por vir.

Por fim, despontou a lua de abril, e os emissários do supremo conselho fizeram chegar, a todo a povo, a notícia de que, dentro de quatorze dias, celebrar-se-ia a Páscoa. Começou, então, grande fluxo de caravanas com destino a Jerusalém.

Contrariamente ao que pensavam os apóstolos, Jesus também manifestou seu desejo de subir para a Cidade Santa. Era, de fato, um lance muito arriscado, pois todos sabiam que o Sinédrio o buscava para matar. Porém, não fora precisamente para esta hora que ele viera ao mundo?

“Eis que subimos a Jerusalém”

Avisados pelo Mestre, puseram-se todos a caminho. A multidão peregrina imediatamente se juntou a eles, curiosos de conhecer quem era este que ressuscitava os mortos.

Durante o percurso, Jesus chamou os apóstolos em particular e fez-lhes o terceiro anúncio de sua paixão dizendo: “Eis que subimos a Jerusalém. Tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do Homem será cumprido. Ele será entregue aos pagãos. Hão de escarnecer dele, ultrajá-Lo, desprezá-Lo; baterão n’Ele com varas e O farão morrer; e ao terceiro dia ressurgirá”. (Lc 18,31-33)

Tão claro aviso, contudo, não foi compreendido pelos que o seguiam. A tal ponto que, pouco depois, se aproximam os filhos de Zebedeu e, representados por sua mãe, suplicam ao futuro rei os lugares de maior destaque em sua futura corte…

Quando estavam já próximos de Jericó, Jesus opera a cura de Bartimeu, um cego que não cessava de clamar: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” (Lc 18,39)

Chegando a esta cidade, o Bom Mestre encontra-se com um chefe dos publicanos, chamado Zaqueu, e pede-lhe hospedagem em sua casa. O pedido foi aceito com imensa alegria e sincero desejo de conversão. (Cf. Lc 19,1-10)

No dia seguinte, como a multidão se iludisse com o aparente sucesso que esperava o Messias ao entrar em Jerusalém, o Mestre contou-lhes a parábola do nobre que viaja para receber das mãos de seu suserano o governo da terra em que habita, confiando a dez servos uma moeda de prata que deviam fazer render até seu retorno. Enquanto viajava, a população se revoltou contra o futuro governante e mandou embaixadores a fim de impedir sua investidura. Estes, entretanto, fracassaram e o nobre retornou para tomar posse de seu reino. Ao chegar, descobriu que um dos seus servos tinha rendido mais dez moedas; outro mais cinco; e outro nada rendera. A este ele castiga, bem como àqueles que tramavam contra sua posse. (Cf. Lc 19,11-27)

Clara alusão à ingratidão e revolta do povo contra seu Rei que, em breve, faria sua viagem para junto do Pai Celeste; mas que um dia voltaria para prestar contas.

Após isso, seguido pelas multidões, Jesus continuou seu caminho.

A traição se consuma

Enquanto a turba se dirigiu imediatamente a Jerusalém, Nosso Senhor resolveu passar a noite e o sábado em Betânia, na casa de seu amigo Lázaro, a qual se situava muito próxima da Cidade Santa, aos pés do Monte das Oliveiras.

Foi ali que, no dia seguinte, convidado por Simão, o Leproso – chamado assim porque era leproso antes de ser curado pelo Mestre – Jesus foi a um banquete em sua casa, em companhia Lázaro, Marta e Maria, bem como dos Apóstolos.

Nesta refeição, Maria Madalena quebrou um valiosíssimo vaso de alabastro e ungiu os pés de Jesus, secando-os com os seus cabelos. A esta belíssima manifestação de amor e servidão, o traidor, Judas, não pôde tolerar e, sob o pretexto de uma falsa preocupação pelos pobres, manifestou seu descontentamento pelo aparente desperdício. Saindo dali, o Iscariotes foi apresentar-se aos sumos sacerdotes a fim de consumar a infame traição.

No dia seguinte, em Jerusalém, era grande o número de pessoas que, sabendo da chegada iminente do grande taumaturgo, acorriam ao Monte das Oliveiras a fim de presenciar sua entrada na Cidade.

Saindo de Betânia, e passando por Betfagé, Jesus mandou que dois de seus discípulos trouxessem-lhe um jumentinho para que dele se servisse para entrar na Cidade Santa. De fato, era esta a cavalgadura dos antigos reis de Judá.

Às vésperas da Paixão, aclamado pelas multidões

Começava o cortejo real. Ao ver Jesus vindo num jumentinho e tendo por destino a Cidade de Davi, a turba irrompeu em gritos de júbilo: “Bendito o rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória no mais alto dos céus!”. (Lc 19,38) E: “Bendito o Reino que vai começar, o reino de Davi, nosso pai! Hosana no mais alto dos céus!”. (Mc 11,10) E, cortando ramos das árvores, estendiam-nos ao chão juntamente com seus mantos, para servirem de tapete real. Alguns fariseus, entretanto, pediram a Jesus que mandasse a multidão se calar, mas ele respondeu: “Digo-vos: se estes se calarem, clamarão as pedras!” (Lc 19,40)

Quando Jesus avistou Jerusalém, chorou e se lamentou: “Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!… Mas não, isso está oculto aos teus olhos. Virão sobre ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; eles destruirão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada”. (Lc 19,42-44)

Mesmo aclamado pelas multidões o Mestre não tinha ilusões sobre o que lhe esperava. Por isso, apenas chegou a seu destino, ergueu uma súplica ao Pai pedindo-lhe, não que o livrasse desta hora, mas que o Seu nome fosse glorificado. Uma voz, vinda do céu, respondeu então: “Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo.” (Jo 12,28)

Como a multidão ouvisse a voz, Nosso Senhor advertiu-os que esta falara sobretudo por causa deles, para que, ao menos no último momento, cressem verdadeiramente n’Ele e no Pai que O enviou.

Todavia, seus corações estavam por demais endurecidos….

Despedindo a multidão, Jesus se dirigiu ao Templo a fim de rezar. Contudo, não se deteve lá por muito tempo. Retornando a Betânia, passou a noite em oração.

Nos dias subsequentes, ainda lhe esperavam muitas lutas e sofrimentos.

 

Por Thiago Resende


[1] “A excomunhão era publicada, ao som de trombetas, pelos sacerdotes que presidiam à assembleia das quatrocentas sinagogas de Jerusalém.  Refere o Talmude que Jesus foi assim declarado solenemente excluído da sinagoga e proclamado digno de morte, como feiticeiro e sedutor do povo”. In.: BERTHE, Augustin. Jesus Cristo: vida paixão e triunfo. Trad.: Antônio Azeredo e José Narciso Soares. Porto: Civilização editora, 2000, p. 230.

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