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Frei Cantalamessa: “O coronavírus despertou o homem do delírio de onipotência”

“A pandemia de coronavírus nos despertou bruscamente do perigo maior que sempre correram os indivíduos e a humanidade, o do delírio de onipotência”.

“A pandemia de coronavírus nos despertou bruscamente do perigo maior que sempre correram os indivíduos e a humanidade, o do delírio de onipotência. ”

Cidade do Vaticano (Segunda-feira, 13-04-2020, Gaudium Press) Falando para os que acompanhavam sua última meditação da Quaresma, proferida na Sexta-feira da Paixão do Senhor (10/04), durante a Liturgia da Paixão e da Adoração da Cruz, na Basílica de São Pedro, Frei Raniero Cantalamessa tratou do tema “Eu tenho um desígnio de paz, não de sofrimento.”
Tem todo o propósito recordar trechos desta meditação, uma vez que ela nos coloca diante dos efeitos da cruz e do sofrimento numa semana Santa em que uma pandemia sem precedentes cobre o mundo todo, sem respeitar fronteiras e diferenças.

O sentido da dor foi mudado pela cruz

O pregador da Casa Pontifícia inicia afirmando que “A cruz é melhor compreendida pelos seus efeitos do que pelas suas causas. E quais foram os efeitos da morte de Cristo? Justificados pela fé nele, reconciliados e em paz com Deus, repletos de esperança de uma vida eterna”, respondeu.

Continuando, ele referiu-se à situação causada pela pandemia de coronavírus, e destacou:
“Há um efeito que a situação em andamento nos ajuda a colher em particular:
A cruz de Cristo mudou o sentido da dor e do sofrimento humano. De todo sofrimento, físico e moral. Ela não é mais um castigo, uma maldição. Foi redimida pela raiz, quando o Filho de Deus a tomou sobre si. E não só a dor de quem tem fé, mas toda dor humana. Ele morreu por todos. “Quando eu for elevado da terra, disse Jesus, “atrairei todos a mim”. Todos, não somente alguns!” [ Conheça outra Pregação de Frei Cantalamessa ]

O sofrimento: “sacramento universal de salvação”

“Sofrer, escrevia São João Paulo II do seu leito no hospital após o atentado, significa tornar-se particularmente receptivo, particularmente aberto à ação das forças salvíficas de Deus, oferecidas em Cristo à humanidade”.
Graças à cruz de Cristo, o sofrimento se tornou também ele, à sua maneira, uma espécie de “sacramento universal de salvação” para o gênero humano”, relembrou o frei capuchinho.

Somos mortais, uma recordação que o coronavírus trouxe

“Qual é a luz que tudo isso lança sobre a situação dramática que a humanidade está vivendo? ”, perguntou Cantalamessa:

“Também aqui, mais do que para as causas, devemos olhar para os efeitos. Não apenas os negativos, dos quais ouvimos todo dia as tristes manchetes, mas também os positivos, que somente uma observação mais atenta nos ajuda a colher”, respondeu ele, ressaltando:
“A pandemia de coronavírus nos despertou bruscamente do perigo maior que sempre correram os indivíduos e a humanidade, o do delírio de onipotência.”
“Bastou o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus, para nos recordar que somos mortais, que o poderio militar e a tecnologia não bastam para nos salvar.”

O pregador da Casa Pontifícia recordou verdades que não se pode desprezar quando a devastação do coronavírus coloca a humanidade diante da cruz do sofrimento:

“Deus é nosso aliado, não do vírus! Se esses flagelos fossem castigos de Deus, não seria explicado por que eles caem igualmente nos bons e nos maus, e por que geralmente são os pobres que têm as maiores consequências. Eles seriam mais pecadores que outros?”

Aquele que chorou um dia pela morte de Lázaro chora hoje pelo flagelo que caiu sobre a humanidade. Sim, Deus “sofre”, como todo pai e toda mãe. Quando descobrirmos um dia isso, teremos vergonha de todas as acusações que fizemos contra ele na vida. Deus participa da nossa dor para superá-la.
“Deus, escreve Santo Agostinho, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar do mal o bem”. (JSG)

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