O Concílio de Trento esmagou o protestantismo
Na primeira metade do século XVI, gravíssima era a situação da Igreja e da Cristandade.
Redação (08/09/2025 09:58, Gaudium Press) Em 1527, sob o império de Carlos V, tropas comandadas pelo famoso Condestável de Bourbon invadiram Roma e realizaram uma chacina. Ele era um dos homens mais ricos da França; ao transpor a porta da cidade foi atingido por uma bala e caiu morto.
Dois anos depois, os turcos tomaram a Hungria e cercaram Viena com 300.000 maometanos. E 20.000 vienenses, valorosos católicos, derrotaram os agressores.
O protestantismo se espalhava por diversas nações, sobretudo na Alemanha e Inglaterra. O paganismo renascentista penetrava na literatura e nas artes.
Paulo III com Santo Inácio
Muito mais grave do que tudo isso era a situação da Igreja: clérigos e religiosos – até mesmo sumo pontífices – se deixavam arrastar pelas paixões desordenadas.
Eleito papa em 1534, Paulo III – que tivera três filhos bastardos – participava de brilhantes caçadas, celebrava em seu palácio festas com cantoras, dançarinas e bobos. Mandou decorar o Vaticano e o Castelo Sant’Ângelo “com afrescos de um evidente paganismo”.[1]
Atendendo pedidos de muitos membros do clero, entre os quais se destacava Santo Inácio de Loyola, bem como de religiosos e leigos, o pontífice decidiu realizar um Concílio ecumênico em Trento – Nordeste da Itália – a fim de condenar os erros e proclamar a verdade.
Não podendo ir à sua inauguração – em dezembro de 1545 –, pois estava enfermo, nomeou três legados que falaram sobre as devastações produzidas pelas heresias, as corrupções dos costumes, as divisões intestinas da Cristandade, e afirmaram que o clero tinha grande parte de responsabilidade na causa e no progresso de tantos males.
E recomendaram que fizessem penitências, entre as quais o jejum todas as sextas-feiras, em memória da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em Roma, estátua do papa é espedaçada
Contaminados pelo espírito revolucionário, soberanos católicos tomaram atitudes favorecedoras da heresia.
Protegidos pelo Imperador Carlos V, diversos líderes protestantes se dirigiram a Trento e inundaram a cidade com panfletos contendo seus nefandos erros doutrinários.
Seu sucessor, Ferdinando, fez coisa pior: pediu ao Concílio que aprovasse o casamento dos padres e permitisse aos hereges que administrassem os Sacramentos, na ausência de ministros católicos.
Devido a uma epidemia que grassava em Trento, em março 1547, as sessões conciliares foram transferidas para Bolonha. Mas devido às sérias discrepâncias entre prelados italianos e espanhóis, os trabalhos foram suspensos.
Em maio de 1555, foi eleito papa o Cardeal João Pedro Carafa, que escolheu o título de Paulo IV. Contava 79 anos de idade. Nomeou cardeais dois de seus sobrinhos: Carlos e Antônio. Em razão dos escândalos em que estavam envolvidos, ele os destituiu de seus cargos e determinou que se mudassem para longe de Roma.
Quando faleceu, em 1549, houve uma convulsão violenta em Roma, durante a qual uma centena de pessoas morreram, e sua estátua, existente numa praça da cidade, foi espedaçada.
Pio IV condenou à morte um cardeal
Pio IV
Após os pontificados de dois outros papas, em 1555, foi eleito Pio IV que tivera três filhos naturais. Ele reiniciou o Concílio, em 1562, aprovou decretos dogmáticos sobre a Missa, os Sacramentos, o culto aos Santos, o Purgatório, condenando assim a heresia luterana.
Assinou decretos para a moralização do clero – inclusive dos cardeais – e dos religiosos. Proibiu o casamento dos padres e incentivou a criação de seminários para a formação de sacerdotes. E impediu aos príncipes intervirem nas questões eclesiásticas.[2]
Contra seus sobrinhos, um deles cardeal, Pio IV tomou atitude de grande rijeza sobre a qual escreveu Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Acontecia que, não raro, a direção política da Santa Sé ficava entregue ao alvedrio absoluto dos sobrinhos do Papa. Este mal fez-se sentir com especial gravidade ao tempo de Paulo IV (Carafa), quando as deliberações de ordem política obedeciam ao ardil de Carlos Carafa, [cardeal], homem egoísta e sem consciência, que com grande habilidade conquistara toda a confiança do pontífice, seu tio.
“Foi assim que Paulo IV, levado a uma guerra nefasta e inútil contra a Espanha, viu seu curto pontificado de quatro anos cheio dos desmandos de seu sobrinho.
“Pio IV, meses depois de empossar-se da barca de Pedro, resolveu acabar com esta mácula da Igreja. Fez prender os Carafa e julgá-los com todo o rigor. Sem atender às instâncias mesmo de cardeais que imploravam indulgência para com o Cardeal Carlos Carafa, condenou-o à morte em 4 de marco de 1561, juntamente com João Carafa, e confiscou os bens da família”.[3]
Conversão do historiador von Pastor
Ludwig von Pastor (1854-1928), célebre historiador alemão protestante, havia afirmado que o Vaticano jamais abriria seus arquivos aos estudiosos, pois temia serem revelados horrores relativos aos papas.
Tendo Leão XIII mandado avisá-lo de que os arquivos lhe estavam inteiramente abertos, ele viajou a Roma e escreveu uma obra portentosa, em 39 volumes, intitulada “História dos Papas”.
Algum tempo antes de terminar seu trabalho, obteve uma audiência com o papa e declarou que desejava tornar-se católico. Impressionado, o pontífice perguntou-lhe qual a razão dessa sua atitude e ele respondeu:
“Santidade, eu me convenci de que a Igreja Católica é realmente uma instituição divina. Se nem Papas conseguiram destruí-la, é porque é divina mesmo!”[4]
O grande Papa São Pio X, em 1909, condecorou-o com a insígnia da Ordem de São Gregório Magno. E no ano seguinte, o Imperador da Áustria e Rei da Hungria Francisco José admitiu-o na nobreza, com o título de barão.
Suma Teológica de São Tomás colocada sobre o altar
Apesar da pressão malévola exercida por imperadores, reis, príncipes e, sobretudo, prelados, em favor dos hereges, “o protestantismo foi esmagado pelo Concílio de Trento”.[5]
Isso porque entre os padres conciliares houve varões plenos de sabedoria e de combatividade, tais como os Santos Carlos Borromeu e Pedro Canísio, que atuaram vigorosamente contra a decadência do clero e dos religiosos, e infligiram derrotas ao protestantismo.
“Durante o Concílio de Trento, a ‘Suma Teológica’ foi colocada sobre o altar, ao lado das Sagradas Escrituras, para indicar que era à luz da doutrina tomista que se deveria interpretar a Palavra de Deus”.[6]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja da Renascença e da Reforma (II). São Paulo: Quadrante. 1999, v. V, p.80.
[2] Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1884, v. 34, p. 89 – 574.
[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Legionário, São Paulo, 26-2-39.
[4] Linhas piedosas – A conversão de Ludwig von Pastor, 18-1-2017.
[5] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Dom Sebastião, um rei de sonhos. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XII, n. 137 (agosto 2009), p. 28.
[6] Calendário dos Santos. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XV, n. 166 (janeiro 2012), p. 21.
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