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Nossa Senhora das Dores

Deus envia sofrimentos àqueles a quem ama, e entre todas as  almas, depois da de Nosso Senhor Jesus Cristo, a mais amada por Deus foi a de Maria Santíssima, invocada sob Nossa Senhora das Dores.

Nossa Senhora das Dores - Casa São Pedro, Mairiporã (SP) Foto: Sebastián Cadavid

Nossa Senhora das Dores – Casa São Pedro, Mairiporã (SP) Foto: Sebastián Cadavid

Redação (15/09/2024 06:00, Gaudium Press) Celebra-se, no dia 15 de setembro, a festa de Nossa Senhora das Dores, colocada com muita propriedade logo depois da festa da Exaltação da Santa Cruz. Essa festa mariana foi estendida a toda a Igreja por Pio VIII, em agradecimento pela intercessão da Santíssima Virgem na libertação de Pio VII.

Enganam-se aqueles que julgam que a Virgem Maria teve em sua vida uma única ocasião de dor correspondente à Paixão e Morte de seu divino Filho. Esse momento foi realmente de uma dor suprema, a maior que jamais se tenha sentido no universo, abaixo da dor insondável de Nosso Senhor Jesus Cristo em sua humanidade santíssima.

Com efeito, foi uma dor tão grande que recapitulou todas as dores do universo. Tudo quanto os homens sofreram desde a queda de Adão e sofrerão até o último instante em que houver homens vivos na Terra, vai ser incomparavelmente menor do que a dor que Nossa Senhora sofreu.

Contudo, erraria quem pensasse que Ela padeceu essas dores durante a Paixão, mas fora daquele período não teria sofrido mais. E, portanto, sua vida teria transcorrido na calma, inundada pelo contentamento de ser Mãe do Salvador quando, de repente, chegou aquela dor lancinante que durou até a Ressurreição de Nosso Senhor, mas depois passou o sofrimento e Ela teve novamente uma vida alegre.

Na realidade isso não se deu e é um modo completamente equivocado de considerar as dores de Nossa Senhora.

Referindo-se às Sete Dores de Nossa Senhora, explica D. Guéranger que a Igreja se deteve no número sete pelo fato de este exprimir sempre a ideia de totalidade e universalidade, ou seja, todas as dores.

Sofrimento: prova do amor de Deus

DolorosaComo Nossa Senhora é o espelho da sabedoria e da justiça que reflete em Si tudo o que é de Nosso Senhor Jesus Cristo, Ela foi a “Mulier dolorum”, a Mulher, a Dama das dores e teve a sua vida inteira pervadida pela dor, pelo sofrimento.

De fato, na apresentação do Menino Jesus no Templo, com trinta e três anos de antecedência, o profeta Simeão prenunciou para Maria Santíssima um sacrifício: “Uma espada transpassará tua alma” (Lc 2, 35). Ou seja, Ela teria um dos sofrimentos mais atrozes que uma pessoa pode suportar.

Compreende-se que, até para a alma imaculada da Santíssima Virgem, a previsão forte, corajosa e razoável da dor vindoura era um elemento para uma crescente união com Deus, a qual Ela já possuía num grau insondável desde o primeiro instante de seu ser.

Entretanto, essa profecia de Simeão foi intencionada para que Ela carregasse essa dor durante trinta e três anos, na compreensão de que o ser humano nasceu para sofrer; é normal que sofra, que é preciso aceitar a dor por inteiro antes dela vir, e, quando chegar, que ela nos encontre calmos, fiéis, sobranceiros e heroicos. Assim se deve ser diante do sofrimento, pois estamos recebendo uma prova do amor que Deus tem por nós.

Equilíbrio diante da dor

Com efeito, a Mãe das mães possuía um instinto materno equilibrado e perfeitíssimo, proporcionado à grandeza de seu Filho. A perspectiva da Morte de Jesus se apresentava como uma terrível coroa de espinhos com a qual o Pai cingira seu Imaculado Coração e que, aos poucos, tornava-se mais apertada. Tratava-se de um tormento interior comparável somente ao do próprio Redentor.

Nossa Senhora sofria com paz e calma, mas a dor se alastrava até as últimas fímbrias de seu ser. Todas as potências de sua alma se abalavam ao pensar no que viria. E a consideração que mais Lhe fazia padecer era a impotência ante a Cruz de seu Filho: Ela devia aceitar uma a uma cada amargura, renovando seu “fiat” após os golpes e as ofensas, e deitando seu amor sobre aquelas dores que causavam inteira repulsa a seu instinto materno.

Isso, porém, não A impedia de detestar o pecado que seria cometido, a ofensa inimaginável contra a Providência que significaria o deicídio. Nesses instantes, frêmitos serenos e cristalinos de indignação tomavam seu Sapiencial e Imaculado Coração.

Entretanto, às reflexões que Ela dedicava à Paixão redentora unia-se outra, perfumada de vitória. “Deus sempre triunfa!”, pensava. “Virá uma gloriosa vitória, que superará em muito a terrível derrota da Cruz!” Então sua alma se enchia de esperança e de alegria ao considerar a Ressurreição.

Todavia, a Ressurreição devia ser conquistada pela Virgem em união com Nosso Senhor. À medida que nela pensava, sua fé se desenvolvia, alcançando píncaros jamais imaginados pela mente humana. E, ao mesmo tempo, Ela comprava uma fé inabalável nesse triunfo para as gerações dos séculos vindouros.

Permaneceu de pé ao lado da Cruz

Nossa Senhora DolorosaDo alto da Cruz, Jesus contemplava a multidão que O rodeava e, no centro, sua Mãe. Com indizível compaixão Ela permanecia de pé (cf. Jo 19, 25), tendo ao seu lado São João. Não seria mais belo se Maria estivesse prosternada ou ajoelhada?

Não, porque Ela participava daquela imolação. Sua postura significava que vivia a Paixão junto com seu Filho, enquanto sócia privilegiada da Redenção, procurando servir-Lhe de sustento e de consolo.

Transida de tristeza, padecia em Si todas as dores, sendo considerada pelo populacho como a mais desprezível entre as mulheres da terra, a Mãe de um verme crucificado. Que tragédia maior poderia Lhe advir? Ver Jesus chagado de alto a baixo, sem forças e erguido no madeiro: dor dilacerante que, sem uma graça especial, A teria prostrado por terra!

Como afirmam com muita propriedade São Bernardo e Santo Afonso Maria de Ligório, todos nós, quando passamos por algum drama, encontramos alívio ao voltar nosso olhar para o Divino Crucificado. A única criatura humana privada desse alento foi Maria, uma vez que contemplá-Lo consistia para Ela em mais um motivo de sofrimento. Apesar disso, Ela conservou sempre uma imensa dignidade.

Chorava, mas com serenidade imperturbável pois, se a dor era profunda, sua fé se mostrava ainda maior. E em nenhum momento perdeu o equilíbrio ou Se deixou levar pelo desespero, como aconteceria ao geral das mães em circunstâncias similares.

A atitude de Nossa Senhora constituiu uma grande consolação para o Homem-Deus: sua compaixão O fortalecia, suas lágrimas suavizavam-Lhe o Sagrado Coração, sua firmeza O animava a prosseguir até o fim. N’Ela via a perfeita correspondência a tudo o que havia dado à humanidade desde a Encarnação.

N’Ela seu Sangue rendia frutos em plenitude. Mas, sobretudo, no Imaculado Coração de Maria encontrava refletida sua própria Paixão! Ambos os Corações, que formam um só, foram juntos cravados na Cruz e ali aguardavam a gloriosa Ressurreição.

Firmeza de Maria

Sofrimentos inenarráveis invadiram a alma santíssima de Maria nesse lance derradeiro, conforme comenta Dr. Plinio: “Fazendo uma comparação entre o cálice que Jesus Cristo bebeu no Horto das Oliveiras e a presença de Nossa Senhora aos pés da Cruz, o primeiro não era prenunciativo dessa presença? Não foi exatamente Ela quem deu forças ao Filho? Agora, em certo momento, sua presença se torna insensível para Ele. Pode-se imaginar qual foi então a dor d’Ela?”.

Com efeito, Seu supremo padecimento consistia em sentir a própria axiologia rachada ao discernir no divino olhar do Filho essas provações, não poder Se aproximar para consolá-Lo, para atenuar suas dores, para assegurar-Lhe que nem Deus nem Ela O haviam desamparado, e ainda ter de consentir no contrário. A Mãe Dolorosa, porém, soube esperar contra toda esperança, confiar no absurdo, avançar em meio ao desmentido.

A cada minuto que passava as dores de Jesus aumentavam, e a cada gemido lançado de seus divinos lábios Maria recebia um novo golpe. Mas Ela perseverava firme. Por fim, quando Nosso Senhor percebeu que havia chegado sua hora, exclamou: “Tudo está consumado” (Jo 19, 30). E, depois de dar um dolorido brado que ecoou por todo o universo, concluiu com suave tom de voz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). Inclinando a cabeça, expirou.

Pode-se dizer, figuradamente, que a alma de Nossa Senhora morreu com Jesus. Ninguém mais do que Ela era capaz de abarcar a grandeza daquele mistério, ao qual se acrescentava o fato de esse mesmo Deus ser seu Filho amadíssimo… Consumida pelo infortúnio e vertendo preciosas lágrimas, por muito pouco não perdeu os sentidos ante a consumação do divino holocausto, o que fez as Santas Mulheres se aproximarem para ajudá-La.

Mais uma vez, porém, Ela permaneceu de pé ao lado da Cruz, como um estandarte vitorioso a proclamar a fé nas glórias da Ressurreição, que somente n’Ela perseveraria acesa com perfeição nas próximas trinta e seis horas.

Padecimentos de alma

Virgem pe cruzNunca ninguém sofreu tanto, com tanto domínio dos acontecimentos, compreendendo tanto a lógica do que se passava, com tanta força e sobranceria, com tanto ódio ao mal, quanto Nossa Senhora.

Entretanto, Deus Pai pediria ainda a Nossa Senhora um sacrifício final pelo nascimento da Igreja. Quando no divino Corpo não restava mais Sangue a ser derramado pela Redenção dos homens, Longinos feriu com sua lança o costado adorável de Jesus, transpassando o Sagrado Coração e, em consequência, também o Coração Imaculado de Maria. Repleta de dor, Ela sentiu consumar-se a profecia de Simeão, cujo gládio Lhe arrancava o último gemido.

A água que saiu do lado do Salvador curou a cegueira do centurião e deu-lhe o inestimável dom da fé (cf. Jo 19, 34- 35; Mc 15, 39). Mas as lágrimas vertidas por Maria com essa dor derradeira uniram-se ao Sangue e à linfa de Jesus, fazendo nascer a Santa Igreja.

Se é verdade que Nossa Senhora não sofreu fisicamente – no que se refere a seu corpo virginal, sem atentar para sua finíssima sensibilidade –, Ela suportou uma plenitude de padecimentos de alma inatingível por qualquer criatura humana.

Mais ainda, Ela penetrava na alma de seu Divino Filho e discernia a imensidade do seu sofrimento ao pesar os pecados da humanidade decorrentes da rejeição de tantos tormentos.

Desejando amenizar ao máximo essa dor, em seu amor materno pelo gênero humano, Ela pediu por todos os que viriam, juntando suas preces e lágrimas ao Preciosíssimo Sangue redentor. Por isso se pode afirmar com segurança que os benefícios por nós recebidos no plano da graça foram também conquistados pela Mãe Lacrimosa.

Assim, no caminho que temos de atravessar, sobretudo nas dores que a vida nos reserva, lembremo-nos de que Nossa Senhora pode nos obter a força para vencer qualquer dificuldade e sustentar-nos em todos os sofrimentos.

 

Texto extraído, com adaptações, do livro Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens. Parte II. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP;

Extraído de conferências de 17/3/1967 e 9/4/1965. Plinio Corrêa de Oliveira

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