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Não será uma catástrofe que porá fim à humanidade

 Muito já se falou sobre o fim do mundo. Catástrofes naturais, doenças e guerras deixam os seres humanos de sobreaviso.  Mas será que essas são ameaças reais?

Foto: Andy Kelly/ Unsplash

Foto: Andy Kelly/ Unsplash

 Redação (01/06/2023 09:37, Gaudium Press) Fenômenos da natureza incontroláveis, aquecimento global, desmatamento, novas doenças, guerras, violência desenfreada e até mesmo a precipitação de asteroides sobre a Terra são, sim, perigos reais e podem ameaçar a vida no planeta, mas é muito provável que nem tudo isso junto possua o poder destruidor que tem o próprio homem. Se não houver uma intervenção divina, a nossa espécie está ameaçada de extinção por si mesma e esse processo está muito acelerado.

Há poucos meses, foi feito o lançamento do mais avançado modelo de Inteligência Artificial, o ChatGPT (transformador pré-treinado generativo). Logo após a divulgação deste produto, fomos pesquisar e escrevemos um artigo a respeito (https://gaudiumpress.org/content/inteligencia-artificial-uma-realidade/), publicado em 2 de fevereiro, poucos dias depois da realização do Fórum Econômico Mundial, em Davos, onde o lançamento da nova IA teve destaque na pauta de discussões. Naquele momento, a nova ferramenta ainda estava começando a ser conhecida e explorada, e hoje, apenas três meses depois, uma quantidade incalculável de pessoas já está dominando o seu uso, como se ela sempre tivesse existido.

Lançado há menos de seis meses

O ChatGPT foi lançado oficialmente no dia 30 de novembro de 2022, ou seja, há seis meses. É algo novíssimo e já passou por vários aperfeiçoamentos. No mês de março, entrava em ação o modelo ChatGPT-4, com uma tecnologia avançada, bem mais eficiente que o inicial, disponível para assinantes do ChatGPT Plus, a um custo de 20 dólares por mês.

Esse modelo promete levar as interações homem/máquina a um nível inimaginável. O objetivo dos autores da tecnologia é criar interações mais “naturais e realistas” entre seres humanos e máquinas. O ChatGPT-4 já gera texto que imita a conversa humana, tornando-o quase indistinguível daquele escrito por uma pessoa real. Ele é capaz de entender o contexto, o tom e a intenção; ou seja, em pouquíssimo tempo, ele estará apto a responder adequadamente, com base em cada situação, uma vez que ele se retroalimenta e “aprende” mais a cada interação. De acordo com os criadores e também com os críticos, que alertam para os perigos dessa tecnologia, “as possibilidades do ChatGPT são infinitas.”

A novidade do GPT4: aplicativo de voz para smartphones

Por enquanto, a comunicação com a ferramenta se dá por escrito e a plataforma é até bem rudimentar, bem simples e ainda está sujeita a algumas falhas – pelo menos na versão de teste, aquela que as pessoas ficam felicíssimas em poder usar gratuitamente, sem perceber que estão se colocando a serviço da OpenAI (criadora do ChatGPT) e da Microsoft, o principal investidor desta tecnologia.

Porém, antes mesmo de as pessoas aprenderem a pronunciar ChatGPT sem travar a língua, no último dia 18, foi lançada a sua versão por voz, para celulares, o que amplia exponencialmente o uso da IA que poderá ser utilizada em qualquer lugar, inclusive, em movimento. Se para uns isso parece ótimo, para outros, parece terrível.

Por enquanto, a tecnologia estará disponível apenas para o sistema IOS (sistema operacional dos iPhones), mas já está sendo finalizada a versão para o sistema Android. A novidade está disponível apenas nos Estados Unidos, mas os criadores anunciaram que ela se expandirá para outros países nas próximas semanas.

Do homo sapiens ao “homo inutilis”

Depois de termos evoluído, segundo a Ciência, desde o homem de Neandertal, começamos a assistir a autodegeneração do homo sapiens sapiens para o homo celularis, uma subcategoria que já sofre transformações em sua estrutura física, andando cada vez mais curvado, com a cabeça pendente, parecendo mais próximo de nossos “ancestrais primatas” que do homo erectus. E talvez essa nova categoria se degenere ainda mais para o “homo amorphous” (destituído de caráter, natureza ou organização que possam ser definidos), e se tornará, já de acordo com a classificação feita pelas máquinas – uma vez que estará privado do uso de sua inteligência natural e totalmente dependente da inteligência delas – o “homo inutilis” ou “homo descartabilis”, uma espécie totalmente desnecessária e sem utilidade para os monstros que ela mesma criou e para os quais entregou a primazia sobre si.

Foto: Courtney Clayton/ Unsplash

Foto: Courtney Clayton/ Unsplash

Hoje, ao andarmos na rua, irmos a restaurantes, espaços de lazer, shows, ambientes de trabalho e, mesmo em nossas casas, o uso do celular é dominante. Crianças que ainda nem sabem falar já sofrem crise de abstinência se lhes tiram os celulares das mãos. Nenhuma droga na história da humanidade produziu tamanha dependência. Desta vez não escapou ninguém: crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, cultos, ignorantes; todos estão presos nessa teia e sequer desejam dela se libertar.

As pessoas ficam juntas, porém, separadas. Nas ruas, nos espaços de lazer, em casa, já não conversam, não se olham, não interagem. O mundo está naquele pequeno aparelhinho que funciona como um controle remoto de zumbis. As pessoas conversam muito, têm milhões de amigos (seguidores), mas todos virtuais. Vão a concertos, assistem a palestras, conversam com psicólogos, fazem consultas médicas, trabalham, vendem, compram, namoram e se relacionam na rede, cada vez mais distantes uns dos outros na vida real. Imaginemos agora, quando já não serão necessárias outras pessoas para se conversar, pois a própria Inteligência Artificial cumprirá esse papel. Um sistema que será quem quisermos que ele seja.

Filmes antigos sobre algo novo

Há dois filmes muito interessantes sobre este tema. Um deles, chamado Ela, de 2013, já previa o relacionamento afetivo entre humanos e máquinas. Um filme que vale a pena assistir. O outro, Ex Machina, de 2015, apesar de possuir um conteúdo menos recomendável, também provoca uma profunda reflexão, pois, no enredo, um jovem é desafiado a passar um período isolado com algumas “pessoas” e descobrir, entre elas, quem é humano e quem é máquina. Filmes de 2013 e de 2015, em nossa cultura de descartáveis, já são considerados bem antigos, mas eles retratam muito bem o que estamos começando a vivenciar.

Jovens, cada vez mais jovens, têm se tornado adeptos do uso do ChatGPT para trabalhos escolares, pesquisas, produção de textos, resolução de problemas matemáticos. Tive a oportunidade de observar o funcionamento da ferramenta; é espantosa a velocidade com que ela responde às questões e a aparente assertividade que utiliza, e isso porque ainda estamos apenas na fase de testes iniciais. Minha definição é radical e única: é algo demoníaco!

Como profissional da escrita, assusta-me ver escritores produzindo e-books que ensinam como usar a ferramenta para escrever histórias e livros, aconselhando o seu uso, algo pior do que pendurar o pescoço numa corda e saltar no vácuo, porque, ao fazer isso, o indivíduo mata apenas a si mesmo, mas, ao ensinar e aconselhar o uso do ChatGPT para produzir literatura, assassina uma categoria inteira, mata a própria arte que, aliada à fé, é o que de mais precioso existe na espécie humana.

Para que catástrofes e cataclismos?

Para que catástrofes? Para que cataclismos? Para que corpos celestes colidindo com a Terra? Para que pandemias? Para que guerras? (aliás, como escrevemos no artigo citado no início, a IA também pode ser utilizada com êxito, na programação de ações e táticas militares, ou seja, ela pode perfeitamente conduzir uma guerra, sem a nossa belicosidade, portanto, com muito mais eficiência, porque não haverá sentimentos e questões humanas envolvidas). Enfim, para que qualquer intervenção externa radical, se estamos colocando passivamente nossos pescoços na guilhotina, apenas com o especial cuidado de ficar numa posição que permita tirar uma selfie?

Pensem na quantidade de filhos que não estão nascendo (falarei especialmente sobre isso num próximo artigo); na quantidade de jovens que estão sendo dizimados pelo uso das novas drogas, como a K9, que vicia e mata rapidamente, e tem vitimado inclusive crianças; nas pessoas que continuam morrendo de inanição pela falta de alimentos.

Estamos numa curva descendente e, os que ficarem, em sua maioria, com suas novas opções de vida, não se reproduzirão e aceitarão de bom grado um total controle feito pela Inteligência Artificial, porque a perfeição da vida lhes parece ser não pensar, não sentir culpa, não criticar, não ser criticado, enfim, não enxergar. Por isso Nosso Senhor Jesus Cristo costumava dizer: “Quem tem olhos para ver, veja”, numa referência ao predito pelo Profeta Ezequiel: “[…] habitas em meio de uma casta de recalcitrantes, de gente que tem olhos para ver e não vê nada, ouvidos para escutar e nada ouve; é uma raça de recalcitrantes” (Ez 12, 2).

Quem sabe sejamos salvos por nossos cachorros, que tratamos melhor que aos humanos; pelo menos eles têm afeto por nós, dependem dos nossos cuidados e nos protegem dos perigos. A Inteligência Artificial – como o ChatGPT e tudo o que ainda está por vir – não tem afeto, é autônoma, portanto, não depende de nossos cuidados, e jamais nos protegerá dos perigos que nós mesmos criamos.

Lamentável. Que Deus tenha compaixão de nós!

Por Afonso Pessoa

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