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Na trilha da santidade: o que determina que uma pessoa seja considerada santa?

Muitos desconhecem os procedimentos adotados pela Igreja, através da Congregação para as Causas dos Santos, nos processos de canonização. Mas, o que ninguém pode ignorar é que todos os seres humanos são convidados a serem santos.

Fra Angelico Todos os Santos 

Todos os Santos. Pintura de Fra Angelico

(Redação 01/01/2023 10:56, Gaudium Press) Muitos ignoram os motivos que levam Igreja a declarar uma pessoa santa e desconhecem os procedimentos adotados pela Santa Sé num processo de canonização. Estima-se que existam cerca de 20 mil santos e beatos reconhecidos pela Igreja Católica. Um número que parece grande, mas se torna muito pequeno se considerarmos apenas a população atual do planeta, que ultrapassou os oito bilhões – e, menor ainda, se estimarmos a quantidade de pessoas nascidas desde a Criação da humanidade.

Os processos de canonização são conduzidos pela Congregação para as Causas dos Santos, oriunda da Sagrada Congregação dos Ritos, instituição criada em 1588, pelo Papa Sisto V, com a finalidade de regulamentar esses procedimentos com a utilização de rigorosos critérios para a comprovação da santidade.

Como a Igreja determina a santidade de alguém?

Em primeiro lugar, é preciso compreender o que é a santidade. A igreja atribui o título de santo a uma pessoa que tenha vivido a fé de modo heroico, seja através do testemunho do martírio ou por seu modo de vida.

Quando surge alguém que faça jus ao título de santo ou santa, é realizado um processo conhecido como processo de canonização e, uma vez cumpridas todas as etapas formais, o “candidato” a santo tem seu nome inscrito no cânon, ou seja, na lista oficial da Igreja. A partir daí, o santo ou santa passa a ter direito ao culto público universal, a ter sua imagem colocada nos altares das igrejas, e objetos de seu uso pessoal, até mesmo partes de suas vestes ou de seus corpos (fragmentos de ossos, sangue, fios de cabelo) podem ser portados como relíquias pelos fiéis.

Mas, até chegar a esse patamar, há um longo caminho a ser percorrido. Um percurso que pode durar anos, décadas ou até mesmo séculos.

As etapas do processo de canonização

A primeira condição para o início de um processo de canonização é que o candidato a santo tenha sido batizado na Igreja Católica. Normalmente, os processos são abertos para contemplar pessoas que morrem com o fama de santidade. Não é incomum que algumas pessoas, pela retidão de seu procedimento, cumprimento das leis de Deus e prática da caridade sejam consideradas santas ainda em vida. No entanto, é condição sine qua non que a pessoa seja falecida. Não existem processos de canonização envolvendo pessoas vivas.

Uma vez que a solicitação chegue ao Vaticano e a abertura do processo seja autorizada, caberá ao Bispo da Diocese à qual a pessoa pertencia a escolha de um postulador, que ficará responsável por realizar os primeiros levantamentos sobre a vida dela.

Nessa fase inicial do processo, que acontece em nível diocesano, o candidato passará a ser chamado de “servo(a) de Deus”. Em seguida, será feito um rigoroso exame de sua vida e de suas virtudes. Se for uma pessoa com envolvimento eclesial, serão examinados também livros, sermões e outros documentos que ela tenha escrito.

Concluída essa etapa, toda a documentação é enviada à Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano. Tendo as virtudes aprovadas, o(a) servo(a) de Deus recebe o título de venerável, o que significa que passa a ser digno de veneração.

Quantos milagres são necessários?

A etapa seguinte é a beatificação, para o qual é exigida apresentação de um milagre alcançado pela intercessão do(a) venerável. A exigência do milagre é suprimida nos casos em que a pessoa tenha sido martirizada em defesa da fé.

Após o reconhecimento do milagre ou do martírio, a pessoa é considerada beata, ou bem-aventurada, que corresponde a estar feliz junto a Deus.

É comum nos depararmos também com o termo “causa de beatificação”, que não deixa de ser uma das etapas constantes do processo principal, de canonização.

O último passo é o reconhecimento de um segundo milagre alcançado pela intercessão do(a) beato(a). Só então o Papa declarará a pessoa como santa e modelo de vida cristã para todos os fiéis.

É certo que exista uma quantidade incalculável de santos e santas que não tenham passado por este processo e não sejam reconhecidos formalmente pela Igreja, que é muito rigorosa, criteriosa e prudente, preferindo ter um santo a menos em seu cânone do que cometer qualquer equívoco que possa abalar a fé.

O que é necessário para a comprovação de um milagre?

O procedimento para determinar um milagre envolve a investigação por parte de uma comissão formada por teólogos e cientistas especializados. Segundo a Igreja, quase a totalidade dos milagres estão relacionados à cura de alguma doença grave. Mas, para que a recuperação seja qualificada como divina, primeiro o doente precisa ter sido desenganado pelos médicos e, depois, completamente curado.

A cura deve ocorrer de forma espontânea e imediata, sem que nenhum médico ou especialista possa encontrar uma explicação possível para o fenômeno. Outro detalhe fundamental é que a pessoa que recebeu o milagre tenha pedido pela intercessão de um único “santo”, para que fique claro que o milagre se realizou por intermédio dele.

O advogado do diabo

Advogado do diabo ou promotor fidei (promotor da fé) era um membro do alto prelado com a incumbência de argumentar contra a canonização de um candidato, tentando descobrir quaisquer falhas de carácter, deturpação das provas a favor da canonização ou inconsistência nas provas dos supostos milagres.

Apesar do nome sui generis, o objetivo do advogado do diabo, cujo ofício foi instituído pelo Papa Sisto V, em 1587, era garantir a prevalência da verdade e assegurar que tais procedimentos não ocorressem sem causa merecida.

Essa função foi abolida pelo Papa São João Paulo II, em 1983, com o objetivo de tornar o processo de santificação mais simples, mais rápido, menos caro e mais produtivo. A partir dessa decisão foi que a compilação de evidências passou a estar a cargo dos Bispos locais. Sem dúvida, essa mudança facilitou o processo e permitiu o aumento no número das beatificações e canonizações.

Se formos considerar os papas mais recentes, São João Paulo II canonizou 482 santos, o Papa Bento XVI canonizou 45 e o Papa Francisco, mais de 900 (esse número elevado se deve à canonização massiva de 800 mártires italianos feita pelo Papa Francisco em 2013).

O primeiro santo brasileiro é Frei Galvão, canonizado pelo Papa Bento XVI em 11/05/2007, mas o número de santos, beatos, veneráveis e servos de Deus está na casa dos 200, sem considerar quase uma centena de “santos de consideração”, ou seja, aqueles que são vistos como santos pelos fiéis, embora ainda não tenham processos de canonização abertos.

Santidade, um privilégio?

A santidade é mencionada em várias passagens bíblicas, está explícita nos Evangelhos e nas Cartas de São Paulo e, inequivocamente expressa no Apocalipse de São João (Ap 6, 9-11; 7, 9-16).

Ser santo não é privilégio de poucos, mas convite para todos. Desde o nascimento, os seres humanos são chamados à santidade e, para ser santo, há uma receita muito simples: cumprir os mandamentos e fazer a vontade de Deus que está nos Céus.

Escolher esse caminho pode ser uma excelente decisão de Ano Novo!

Para saber mais a respeito de como trilhar bem a via da santidade, assista ao curso O caminho da santidade, baseado no livro O religioso santificado, de Santo Afonso Maria de Ligório e apoiado em extensa bibliografia católica. https://reconquista.arautos.org/curso/o-caminho-da-santidade/

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