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Muitas cegueiras e uma cura

Podemos facilmente notar que não havia apenas um cego no Evangelho de hoje, mas muitos: apenas um era cego de corpo, mas muitos eram cegos de alma. Ao primeiro, Jesus curou; aos outros, não. Por quê?

Cura do cego de nascenca Catedral de Green Bay Estados Unidos Foto Thiago Tamura

Redação (19/03/2023 09:01, Gaudium Press) O terceiro domingo do Advento e o quarto domingo da Quaresma são os únicos dias do ano em que o sacerdote pode se revestir de paramentos róseos. A razão é simples: a Igreja deseja que, em nossas almas, algo dos gáudios natalinos e das vindouras alegrias pascais se unam à mortificação e à penitência.

Por isso, este domingo também é conhecido como “domingo lætare”, o “domingo da alegria”.

A cegueira do corpo

O Evangelho de hoje é de tal modo atraente que seríamos tentados a transcrevê-lo todo aqui. Mas infelizmente não é possível, pois ele é tão rico em ensinamentos quanto em palavras: é um Evangelho bem longo, com 41 versículos. Enfim, contentar-nos-emos com um breve resumo.

Era dia de sábado. Enquanto caminhava, Jesus avistou um cego de nascença e teve compaixão dele. Muitos julgavam que tal moléstia era um castigo por seus pecados ou pelas faltas de seus ancestrais. Contudo, Nosso Senhor disse que sua doença serviria para que as obras de Deus se manifestassem nele. “Dito isso, Jesus fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego” (Jo 9,6). Depois, mandou-o lavar-se na piscina de Siloé: o cego o fez, e voltou enxergando (Cf. Jo 9,7).

Ninguém podia acreditar no que se passara, pois desde seu nascimento, aquele homem nunca enxergara. Os fariseus, porém, cheios de inveja, disseram-lhe que o Divino Mestre não poderia ter operado aquela cura em dia de sábado. Então, começou uma calorosa discussão entre eles e o cego que fora curado. Mas como não tinham argumentos lógicos, apelaram ao recurso da força: expulsaram-no da comunidade! (Cf. Jo 9,8-34)

Por fim, Jesus perguntou ao cego que fora curado, se ele cria no Filho do Homem. Ao que respondeu: “Quem é, Senhor, para que eu creia nele?” Jesus, então, disse: “Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo”. “Eu creio”, disse ele, prostrando-se diante de Jesus (Jo 9,35-38).

Após isso, Nosso Senhor disse que viera “para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos” (Jo 9,39). Sentindo-se atingidos, os fariseus perguntaram: “Porventura nós também somos cegos?” Ao que Jesus respondeu: “Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis ‘nós vemos’ o vosso pecado permanece” (Jo 9,41).

A cegueira de alma

Neste Evangelho, pode-se facilmente notar que não havia apenas um cego, mas muitos: um era cego de corpo, os outros o eram de alma. Ao primeiro, Jesus curou; aos outros, não. Por quê? Por uma razão muito simples.

O cego de nascença sabia-se cego – tanto é assim que se colocou no caminho onde Jesus deveria passar. Os fariseus, porém, eram cegos de uma “cegueira espiritual”, como o provam as suas palavras: “porventura nós também somos cegos?”. Ao que respondeu nosso Senhor: “Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis ‘nós vemos’ o vosso pecado permanece” (Jo 9,40-41).

Reconhecer as próprias falhas e os próprios pecados é a primeira condição para ser curado. Seria absurdo, por exemplo, que alguém que sofresse de uma doença mortal, afirmasse gozar de plena saúde e rejeitasse qualquer medicamento. Neste caso, a cura seria impossível.

E qual é o resultado desta cegueira? Em primeiro lugar, a pessoa não tem uma noção exata de si mesmo: ilude-se com qualidades que não tem, não reconhece os seus pecados, e vive numa contínua tensão, pois teme ser descoberta.

Além disso, este gênero de almas está jugulado pelo orgulho. Ao deparar-se com uma alma íntegra, ou que lhe sobrepassam em qualidades, são logo dominadas pelo mesmo vício dos fariseus: a inveja.

Este vício é terribilíssimo! É a ele que se devem tantas perseguições injustas, tantas calúnias, tantas rivalidades e, inclusive, tantos homicídios que se deram ao longo da História. Com efeito, o que ganha o invejoso por causar prejuízo aos outros? Mesmo que ele consiga prejudicar o seu “inimigo”, como fizeram os fariseus com Nosso Senhor, terá a tristeza de carregar por toda a vida o remorso de seu próprio pecado.

É dessa tristeza que a Igreja quer nos afastar neste domingo. Ela nos diz, com bondade maternal: “Lætare, alegrai-vos! Reconhecei vossos pecados, pedi a vossa cura. Pois se assim o fizerdes, sereis libertos de vossa cegueira e, com o olhar purificado, podereis contemplar a bondade de Jesus. Não mais sereis dominados pela tristeza do egoísmo e da inveja, e, mesmo que tenhais de passar por muitas tribulações, jamais sereis privados do gáudio virtuoso e santo de quem está em paz com a própria consciência e com Deus”.

Que Nossa Senhora e o Patriarca São José nos auxiliem na obtenção de tais graças.

Por Lucas Rezende

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