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Morte de Godofredo de Bouillon

Após a Conquista de Jerusalém, muitos Cruzados voltaram para a Europa. Quando chegaram às suas terras, foram acolhidos com veneração: as pessoas ajoelhavam diante deles e osculavam aquelas mãos que haviam libertado o Sepulcro de Cristo.

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Redação (08/03/2023 20:19, Gaudium Press)  Na Terra Santa, a luta continuava. Derrotados pelos guerreiros da Cruz, os muçulmanos recorriam ao banditismo: assaltavam os católicos nas estradas, matando-os ou vendendo-os como escravos; frequentemente penetravam à noite nas cidades e cometiam assassinatos.

Diante desse perigo comum, os fiéis se fizeram soldados. Inclusive os religiosos que serviam em hospitais e hospedarias de peregrinos sentiram a necessidade de empunhar a espada para defender aqueles que abrigavam.

 Ordem militar de São João de Jerusalém

O frade italiano Gérard dirigia um hospital em Jerusalém, fundado havia algumas décadas por mercadores de Amalfi, importante porto do Sul da Itália, junto ao Mar Tirreno.

Durante o cerco da Cidade Santa pelos Cruzados, o valoroso Gérard lançava do alto da muralha, quatro vezes por dia, pedaços de pão aos sitiantes. Conduzido pelos maometanos ao emir a fim de ser castigado, os pães que ele levava se transformaram em pedras…

Certo dia, Godofredo de Bouillon foi rezar no Santo Sepulcro e em seguida visitou Frei Gérard. Pouco tempo depois, alguns Cruzados se colocaram sob as ordens de Gérard e todos passaram a usar um hábito negro, no qual estava representada uma cruz branca na altura do peito.

Assim nasceu a Ordem militar de São João de Jerusalém, também chamada dos Hospitalários, a qual no século XVI se estabeleceu na Ilha de Malta – próxima ao Sul da Itália – e passou a ser denominada Ordem de Malta.

Caráter essencialmente religioso da I Cruzada

Das nações do Ocidente acorriam peregrinos para a Terra Santa, entre os quais muitos clérigos e religiosos. Consertaram as igrejas, restabeleceram o culto, edificaram novos templos e conventos. No Monte Tabor – onde houvera a Transfiguração de Nosso Senhor – foi construído um mosteiro beneditino.

Isso mostra que a I Cruzada teve um caráter essencialmente religioso, buscando a exaltação da Igreja, a derrota de seus inimigos e a salvação das almas.

O grande impulsionador dessa sacrossanta epopeia, o Papa Beato Urbano II, entregou sua alma a Deus em 29 de julho de 1099, sem saber que Jerusalém havia sido conquistada quinze dias antes, pois naquela época as comunicações eram muito lentas. Mas no Céu ele exultou de alegria ao tomar conhecimento dessa notícia…

Balduíno e Boemond combinaram uma viagem a Jerusalém a fim de homenagear seu “rei” Godofredo de Bouillon. O primeiro era irmão de Godofredo e, havia dois anos, se tornara Príncipe de Edessa, Sudeste da atual Turquia. E Boemond, após a tomada de Antioquia, em junho de 1098, passou a ser o Príncipe dessa cidade.

Sagração de Godofredo e de dois Príncipes Cruzados

Gottfrid af BouillonAo chegarem em Laodiceia da Síria, às margens do Mediterrâneo, encontraram-se com 25.000 Cruzados que vieram em navios procedentes da Itália, sob o comando espiritual do Arcebispo de Pisa, novo legado papal. Todos, então, se dirigiram a Jerusalém.

Ao se aproximarem da Cidade Santa, em 20 de dezembro 1099, Godofredo de Bouillon reuniu os clérigos, os nobres, o povo e promoveu uma procissão ao encontro deles. Estava também presente nesse cortejo Tancredo, que se tornara Príncipe da Galileia.

Durante três dias, realizaram procissões aos Lugares Sagrados e, na noite de Natal, foram a Belém para a Missa do Galo. Terminadas as cerimônias religiosas, os líderes voltaram à Cidade Santa para tratarem de assuntos do reino.

Tendo o legado pontifício sido nomeado Patriarca de Jerusalém, Godofredo de Bouillon ajoelhou-se aos seus pés pedindo que o sagrasse como soberano do Reino de Jerusalém, cargo que já exercia de fato com o título de “Defensor do Santo Sepulcro”.  Boemond e Balduíno fizeram o mesmo em relação aos principados de Antioquia e de Edessa.

Nessa assembleia, Godofredo promulgou um código de leis, no qual se nota a sabedoria desse valoroso varão de Deus.

Na vigília da Epifania, 5 de janeiro de 1100, Godofredo, Boemond e Balduíno, acompanhados de grande número de pessoas, foram ao Jordão para imergirem nas águas do rio onde Jesus havia sido batizado por São João Batista.

Confessor de Jesus Cristo

Em meados de 1100, regressando de uma expedição feita nas proximidades de Damasco, Godofredo chegou a Cesareia, no litoral mediterrâneo de Israel. O emir da cidade foi ao seu encontro e o convidou para um jantar. Ele recusou a refeição e apenas se alimentou de uma fruta.

Logo depois, continuando sua caminhada rumo a Jerusalém, o eminente guerreiro sentiu violentas dores, o que faz supor, segundo alguns historiadores, ter sido ele envenenado. Ao chegar à Cidade Santa, deu instruções para a tomada de Haifa, às margens do Mediterrâneo.

Sentindo que a morte se aproximava, confessou-se, recebeu a Sagrada Eucaristia e entregou sua bela alma a Deus. Era o dia 18 de julho de 1100. Godofredo tinha 40 anos de idade. Foi enterrado na capela de Santa Helena, junto ao Sepulcro de Nosso Senhor.

Godofredo de Bouillon se manteve celibatário, embora tivessem sido feitas tratativas para que ele se casasse com uma filha do Rei da França, Felipe I. “Progredindo no desapego do mundo à medida que conquistava um lugar mais glorioso, ele praticava severas penitências, levando uma existência de renúncias e sacrifícios.”[1]

Guillaume de Tiro, arcebispo dessa cidade do Líbano, em sua célebre obra sobre as Cruzadas afirma que Godofredo de Bouillon é o modelo dos cavaleiros católicos e merece o título de “Confessor de Jesus Cristo”.

Mãe de três insignes Cruzados

O “Defensor do Santo Sepulcro” teve uma mãe que alcançou a glória dos altares: Santa Ida.  Seus três filhos – Eustáquio, Godofredo e Balduíno – participaram da I Cruzada. Este último, após a morte de Godofredo, foi coroado Rei de Jerusalém.

Santa Ida pôde rever seu filho mais velho, Eustáquio, que regressou à França pouco depois da conquista de Jerusalém.

Faleceu ela em 1113, aos 73 anos de idade. Seus restos mortais foram posteriormente levados à capela do mosteiro das religiosas do Santíssimo Sacramento, em Paris. Durante a Revolução Francesa, indivíduos ímpios destruíram a capela, expulsaram as freiras e dispersaram as relíquias de Santa Ida[2]. Sua memória é celebrada em 13 de abril.

Que do Céu, onde certamente se encontra, Godofredo nos obtenha de Deus graças eficazes e superabundantes para lutarmos contra aqueles que, com suas péssimas doutrinas e atitudes, desfiguram a Igreja de Cristo a qual vale infinitamente mais do que Jerusalém.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] VÉTAULT, Alphonse. Godefroi de Bouillon. Tours: Alfred Mame et fils. 7. ed. 1883, p. 293-294.

[2] Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1876, v. 24, p. 249, 273, 326 passim.

 

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