Maria, Tabernáculo vivo
O reino de Maria, anunciado pela Rainha dos Profetas nas suas aparições em Fátima, será também o reino da Eucaristia.
Redação (03/05/2023 10:09, Gaudium Press) Em maio, mês das flores, celebramos a flor da criação, Maria Santíssima. Com esse nome, por mais belo que seja, ficamos aquém, porque não há planta graciosa, pedra preciosa ou estrela brilhante que possa servir de comparação com a Mãe de Deus. Talvez a coisa mais apropriada que se possa expressar sobre ela seja o que diz São Luís Grignion de Montfort em seu Tratado: “Maria é o Paraíso terrestre do Novo Adão”, Jesus Cristo.
Entre as excelências que ela guarda em seu Imaculado Coração está uma relação muito especial com a Eucaristia.
Para abordar em poucas linhas um tema tão imenso, tiro ideias e transcrevo alguns parágrafos do opúsculo “A Santa Eucaristia” publicado na Colômbia pelos “Caballeros de la Virgen” em 2005. A obra tem recomendação do então Cardeal Arcebispo de Bogotá, Dom Pedro Rubiano Sáenz.
O Novo Testamento não fala especificamente sobre este tema (Maria e a Eucaristia), e nos relatos da instituição da Eucaristia, Maria não é mencionada. Mas devemos considerar que o que está registrado nos Evangelhos não esgota tudo o que aconteceu na vida terrena do Salvador. Não é de admirar que São João conclua assim o seu Evangelho: “Há muitas outras coisas que Jesus fez. Se fossem escritos um a um, creio que nem o mundo inteiro poderia conter os livros escritos” (Jo 21, 25). Em todo caso, o que está contido na Revelação oficial é o necessário e mais do que suficiente para professar a Fé.
Os apóstolos, ao lado da Virgem, no dia da Ascensão
Sabe-se que Maria esteve com os Apóstolos na primeira comunidade reunida depois da Ascensão, esperando ansiosamente a vinda do Espírito Santo. E a sua presença não poderia faltar nas celebrações eucarísticas da primeira geração cristã, assídua «na fração do Pão» (Atos 2, 42).
Além da participação no Banquete Eucarístico, a relação da Virgem com a Eucaristia pode ser delineada a partir de sua atitude interior. Ela é “Mulher Eucarística” com toda a sua vida, e a Igreja, tomando-a como modelo, deve imitá-la em sua relação com este Santíssimo Mistério (Ecclesia de Eucharistia, 53 e 54).
Sendo o mistério eucarístico uma verdade de Fé que supera o entendimento e nos obriga ao mais puro abandono à Palavra de Deus, ninguém como Maria pode ser amparo e guia numa atitude como esta. Repetir o gesto de Cristo na Última Ceia, em obediência ao seu mandato: “Fazei isto em memória de mim”, torna-se ao mesmo tempo aceitação do convite de Maria a obedecer-lhe sem hesitação: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).
Pode-se dizer que Maria praticou a sua Fé Eucarística ainda antes da instituição do sacramento, pelo próprio fato de ter oferecido as suas entranhas virginais para a Encarnação do Verbo. A Eucaristia, enquanto remete à Paixão e à Ressurreição, está ao mesmo tempo em continuidade com a Encarnação. Maria concebeu o Filho na realidade física de seu corpo e de seu sangue, antecipando em si o que se realiza sacramentalmente em todo fiel que recebe o corpo e o sangue do Senhor sob as espécies do pão e do vinho.
Sempre junto a Cristo – e não apenas no Calvário – Ela fez sua a dimensão sacrificial da Eucaristia. É significativo que, ao levar o Menino Jesus ao Templo para “apresentá-lo ao Senhor” (Lc 2, 22), tenha ouvido o velho Simeão anunciar que aquele Menino seria um “sinal de contradição” e também que uma “espada ” traspassaria a sua própria alma (Lc 2, 34-35).
Assim, prenuncia-se o drama da crucificação e, de certo modo, prefigura-se a compaixão da Virgem aos pés da Cruz. Preparando-se dia após dia para o Calvário, Maria vive uma espécie de Eucaristia antecipada, uma comunhão espiritual de desejo e de oferecimento que culminará na Paixão e se manifestará depois da Páscoa, na participação na celebração da Eucaristia presidida pelos Apóstolos. como memorial da Paixão.
Igreja e Eucaristia – Maria e Eucaristia
Como se sabe, a Igreja e a Eucaristia é um binômio inseparável. O mesmo pode ser dito do binômio Maria e Eucaristia. São Tomás de Aquino tem este belo pensamento: Se Adão podia chamar Eva de “osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2, 23), não pode Nossa Senhora, com ainda mais direito, chamar Jesus de “carne da minha carne e sangue do meu sangue”?
Ora, além da Encarnação, dos nove meses em que a Virgem foi sacrário vivo e da íntima relação Mãe-Filho durante trinta e três anos, é preciso saber que teólogos e mariólogos concordam em afirmar que ela preservou em si a presença eucarística, intacta e sem interrupção, desde sua Primeira Comunhão até sua Assunção, um privilégio muito singular!
Para os fiéis, a relação entre adoração eucarística e devoção mariana é tão intrínseca que, no mínimo, uma não pode ser concebida sem a outra. Além disso, em certo sentido, o amor à Mãe é anterior ao culto do Filho no Sacramento, uma vez que Maria, sendo a medianeira universal de todas as graças, é a medianeira desta graça insigne que é a de levar-nos a Jesus-Hóstia.
“É por meio da Bem-Aventurada Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo e é também por meio dela que Ele deve reinar no mundo” (Introdução ao “Tratado sobre a Verdadeira Devoção à Bem-Aventurada Virgem” de São Luís Grignion de Montfort). Aquilo que o santo não chegou a declarar em sua formulação, podemos explicitar aqui, certos de contar com a sua aprovação: à expressão “reino de Cristo”, acrescentemos um matiz de grande significado e digamos “reino do Coração Eucarístico de Cristo”.
Concluamos dizendo que o reino de Maria, anunciado pela Rainha dos Profetas nas suas aparições em Fátima, será também o reino da Eucaristia. Porque “Reino de Cristo”, “Reino de Maria”, “Reino da Eucaristia”, “Reino do Imaculado Coração” e outros nomes semelhantes se referem a uma única realidade: o doce e eficaz império de Deus no mundo inteiro. Peçamos ao Senhor por meio de Maria que venha até nós o seu reino.
Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.
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