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Mãe das mães dos pecadores

Há uma dor que podemos considerar como a maior de todas as dores: a de não se ter poupado a Mãe Santíssima de Jesus de ver todo o sofrimento de seu Filho.

Virgem dolorosa

Redação (11/04/2023 09:21, Gaudium Press) O dia de maior recolhimento para os cristãos é a Sexta-Feira da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele foi acusado, julgado, açoitado, humilhado, flagelado e, por fim, crucificado. Uma pessoa, porém, sofreu tanto quanto Ele, a sua Mãe, Maria Santíssima, que acompanhou todos os passos da agonia de seu Filho. Isso aconteceu há mais de dois mil anos, mas, ainda hoje, esta Mãe Diviníssima continua sofrendo ao ver a dor das mães que têm os seus filhos escravizados pelo pecado, pelos vícios e pelos enganos do mundo.

O próprio Nosso Senhor – que sendo verdadeiramente Homem e Deus – ao recolher-se para rezar, no lugar chamado Getsêmani, algumas horas antes de ser preso, experimentou a dor, o medo, o abandono, a angústia: sentimentos comuns aos seres humanos.

As Sagradas Escrituras narram que Jesus chegou a suar sangue, e pediu ao Pai que, se possível fosse, afastasse d’Ele aquele cálice amargo. Vejamos o que dizem os evangelistas a este respeito; no Evangelho de São Mateus: “Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: ‘Assentai-vos aqui, enquanto Eu vou ali orar’. E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: ‘Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo’. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: ‘Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia, não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres’. Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: ‘Então, não pudestes vigiar uma hora comigo…’” (Mt 26, 36-40).

E, sobre o mesmo episódio, São Lucas escreve: “Ele entrou em agonia e orava ainda com mais instância, e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra” (Lc 22, 44).

Ele sentiu também as dores da alma

Nós estamos falando do Justo, da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, de Deus feito homem. Mas, exatamente por ser verdadeiro Deus e também verdadeiro Homem, Ele se entristeceu e se angustiou, a ponto de seu suor verter gotas de sangue, sentindo todas as dores da Paixão: dos bofetões, das cusparadas, de quando lhe arrancaram a barba, da ferida provocada pela coroa de espinhos, de cada açoite, do peso da cruz, dos joelhos feridos nas quedas sob o peso do madeiro, dos cravos fincados nas mãos e nos pés, e do amargor da sede.

Mas Ele sentiu também as dores da alma: a decepção ao ver que os seus discípulos – aqueles em que Ele mais confiava, que seriam os responsáveis pela fundação da sua Igreja – dormiram, não vigiando nem sequer uma hora com Ele. São Lucas nos diz que os discípulos dormiram de tristeza: “E levantando-se Jesus da oração, foi ter com seus discípulos e achou-os dormindo de tristeza” (Lc 22,45). E nós, quantas vezes dormimos de tristeza? Quantas vezes desanimamos diante da dor, do sofrimento e das dificuldades?

Jesus sentiu a dor da traição de Judas, da negação de Pedro, de ser deixado sozinho, de ser injustamente acusado pelo Sinédrio, por aqueles que representavam a Deus perante os homens. Ele sentiu a humilhação das blasfêmias e dos opróbrios a Ele dirigidos, a decepção de ser renegado por aqueles que foram beneficiados por seus milagres, da fraqueza e da covardia de Pilatos ao lavar as mãos para não se comprometer. Sentiu a vergonha de ser despido de suas vestes diante das pessoas.

Maria compreende todas as dores

Mas há uma dor que podemos considerar como a maior de todas as dores: a dor de não ter podido poupar a sua Mãe Santíssima de ver todo aquele sofrimento. Maria estava lá, estava presente e tinha ciência de tudo o que estava acontecendo. O que dizer do momento mais pungente em que o olhar de Jesus carregando a cruz se encontra com o de sua Mãe?

Quantas coisas foram ditas em silêncio naquele momento? Quantas lembranças? Quanta proximidade? Quanto amor? E Ela continuou firme, apesar do sofrimento que a invadia. Embora sendo a mais sublime de todas as criaturas, Ela é humana e a sua dor é algo que foge à nossa capacidade de sentir ou imaginar.

É por isso que Nossa Senhora compreende todas as dores, sobretudo as dores de todas as outras mães. A diferença é que somente Ela foi Mãe do Justo, e todas as outras mães do mundo são mães de pecadores. Algumas têm filhos melhores, outras, piores. Há aquelas que têm filhos amorosos, dedicados e aquelas que têm filhos indiferentes, filhos ingratos, filhos de má vida.

Ó Mãe dolorosa, que aflita chorais

Ninguém nasce a não ser por uma mãe, então, todo mundo tem uma mãe. As piores pessoas, as mais cruéis, os bandidos mais perigosos, os assassinos mais implacáveis, todos eles têm uma mãe. Sabemos que algumas mães abandonam os seus filhos, mas isso é uma exceção; nós estamos falando aqui das mães dedicadas. Aquelas mães que carregaram seus filhos no ventre e fizeram tudo por eles, amamentando-os, ensinando-os a andar e a falar, vestindo-os, alimentando-os, ensinando-os a rezar, dando-lhes educação. E muitas vezes são obrigadas a ver que, a despeito de todo o seu amor, de todo o sacrifício despendido para criá-los, para educá-los, os seus filhos se tornaram péssimas pessoas.

Quando há um crime, um assassinato, por exemplo, é comum ficarmos condoídos com a mãe daquele que foi morto, e nos esquecemos de que aquele que matou também tem uma mãe e que a dor dessa mãe é tão cruel quanto a daquela que perdeu o seu filho. O filho da primeira foi uma vítima, o da segunda é um algoz. Você já pensou nisso? Você se lembra de rezar por essas mães? Pelas mães que têm seus filhos presos, ou fugitivos, por aquelas que sabem que os seus filhos estão fazendo coisas erradas, coisas terríveis, mas que ainda são os seus filhos, os quais elas amam, e por quem elas rezam?

Há uma música muito bonita, cantada na Quaresma e na Semana Santa, que diz:

“Ó mãe dolorosa, que aflita chorais
Repleta de angústia, bendita sejais.

Bendita sejais, Senhora das Dores.
Ouvi nossos rogos, Mãe dos pecadores.

Sabe o que essa música significa? Que Nossa Senhora é Mãe de cada pecador e, por isso, Ela sente, em seu Imaculado Coração, a dor das mães de todos os pecadores. As mães que choram pelos crimes praticados por um filho e pelos pecados cometidos nunca estão sozinhas, elas têm uma grande aliada, que conhece o drama de cada uma delas e as sustenta quando elas a procuram em oração.

O Filho d’Ela morreu para nos salvar, Ele foi crucificado por todos os pecadores e, do alto da cruz, pediu ao Pai que os perdoasse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Mas não foi apenas Deus que perdoou, Nossa Senhora também perdoou. Ela não guardou rancor daqueles que acusaram, flagelaram, condenaram, crucificaram e mataram o seu Amado Filho.

Ainda que esteja morto, viverá

Assim, também, devem agir as mães cujos filhos são vítimas do mal. Elas devem rezar pelas mães daqueles que maltrataram, lesaram ou até mesmo assassinaram os seus filhos, pois a dor daquelas mães é terrível. Que o digam os sacerdotes que ouvem os lamentos de tantas e tantas mães!

Tendo em vista que, a Páscoa do Senhor, significa o triunfo da vida sobre a morte, devemos nos apegar a uma das mais consoladoras promessas de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11, 25). Que isto sirva de consolo para essas tristes e dolorosas mães, pois, pela vitória da ressurreição, qualquer pecador arrependido pode obter o perdão de toda a sua culpa e alcançar a vida eterna.

Então, eu quero dizer a todas essas mães, às mães de todos os pecadores, que se apeguem fortemente a Nossa Senhora, que confiem a Ela as suas dores, que se consagrem a Ela e recomendem a Ela a vida dos seus filhos. E, por pior que eles sejam, não desistam deles! Peçam a Nossa Senhora das Dores que interceda por seus filhos e os transforme em novas criaturas.

 

Por Afonso Pessoa

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