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Krak dos cavaleiros

Durante as primeiras Cruzadas, surgiram, na Terra Santa, duas Ordens religiosas e militares que lutaram heroicamente contra os inimigos de Deus, defendendo a Igreja e a Cristandade: os templários e os hospitalários.

Fotos: Wikipedia

Fotos: Wikipedia

Redação (25/06/2023 09:20, Gaudium Press) Escreve Monsenhor João Clá:

“A pugnacidade cristã mostrou sua face mais éclatante[1] nas Ordens de Cavalaria, cuja benéfica influência nas Cruzadas está registrada nos anais da História.”[2]

 Essa combatividade era mantida e acrescida pela prática dos três votos: obediência, pobreza e castidade. Os cavaleiros cumpriam uma Regra fundamentada nas de Santo Agostinho e de São Bento.

Força, ímpeto e coragem a serviço da Fé

Para entendermos e amarmos o nobre ideal do cavaleiro, transcrevemos alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

O cavaleiro “é o varão católico capaz de, com o auxílio da graça divina, realizar a mais alta perfeição de certas qualidades humanas, quando ele está posto nas condições de combater. Ou seja, quando as circunstâncias da luta entre o bem e o mal o colocam no caso de batalhar, aí se acha ele manifestando uma especial forma de excelência, emitindo um particular brilho de sua alma. Brilho e excelência que representam um maravilhoso modo de ser do próprio amor a Deus, visto enquanto recusando e derrotando o que é contra Ele.

“É um guerreiro formado para, pelo vigor de seu braço e pela intrepidez de seu espírito, fazer o bem à Cristandade. A força, o ímpeto, a coragem, postos a serviço da Fé: esta é sua missão.

“De outro lado, porém, os cavaleiros eram autênticos artesãos da paz, porque usavam a força somente para defender a ordem contra aqueles que a queriam destruir. (…)

Piedade, humildade, castidade

640px Chapel of Krak des Chevaliers 01“Ele é, antes de tudo, piedoso. Deixado o campo de batalha, dirige-se de imediato à capela do castelo, ajoelha-se e, comovido, rende graças a Nosso Senhor por ter escapado ileso. Graças, sobretudo, por ter afugentado o pagão bárbaro ou maometano, conseguido levar à vitória os que eram de Deus, e assim ter feito brilhar a glória divina sobre o adversário. Depois, ele se coloca diante de uma imagem de Nossa Senhora, e a Ela reza de modo especial, sobremaneira grato e enternecido.

“Aparece, então, o outro lado do cavaleiro. Ele é devoto, humilha-se, alegra-se em se curvar diante de Deus.

“Tudo isso constitui o perfil moral do cavaleiro. Na guerra, heroico e temido; na paz, previdente, pois sabe que o repouso é apenas a respiração entre duas batalhas. Com os inimigos de Deus, implacável; com os amigos, doce e cortês.

“Essa afabilidade, esse amor cristão que o cavaleiro tem ao próximo se traduz nos seus atos de caridade, mas também nas suas boas maneiras, que são o modo de exteriorizar a bondade interior. Assim, o cavaleiro é gentil, distinto, trata bem as pessoas, tributando a cada uma seu devido respeito, e espera que tenham igualmente para com ele a justa deferência.

“Em torno dele e daqueles que lhe são iguais, vai se constituindo um cerimonial, e se formando uma classe em que a educação é mais excelente, o palavreado é mais nobre, florido e belo. Onde a elegância dos trajes e das maneiras desabrocha de modo acentuado, dando origem à cortesia e à distinção própria dos cavaleiros. E, cumpre dizê-lo, longe de rebaixar os que lhes eram inferiores, na sua ascensão os cavaleiros elevavam também as demais camadas da sociedade, as quais aprendiam com eles a linguagem apurada, a boa educação. (…)

“É o varão casto, porque a impureza é o contrário da cavalaria, e o verdadeiro complemento desta é a virgindade. A força do cavaleiro não é a violência de um vulgar botequineiro, mas o vigor do homem puro”.[3]

Conquistado pelos infiéis por meio de uma carta falsa

A Ordem de São João de Jerusalém foi fundada, em 1113, pelo Irmão Gerard que dirigia um hospital na Cidade Santa. Por essa razão, seus integrantes passaram a ser chamados Hospitalários.

Com o aumento do número de seus membros e o valor que demonstravam nas batalhas, eles foram recebendo fortalezas em várias regiões da Palestina, entre elas o Krak dos Cavaleiros, situado no Oeste da Síria, que lhes foi doado, em 1142, por Raimundo II, Conde de Trípoli.

Construído no topo de uma colina de 650 metros, foi sendo aprimorado e se tornou um dos mais belos castelos dos Cruzados no Oriente. Possuía uma capela-mor, em cujas paredes existiam afrescos, e outra menor. Muralhas de nove metros de altura, com torres, nas quais haviam seteiras, protegiam o Krak que podia abrigar 2.000 homens e conter víveres por cinco anos.

Os maometanos fizeram várias investidas contra o Krak, mas não conseguiam tomá-lo. Saladino e seu exército invadiram o Condado de Trípoli, em 1180, chegaram até a Fortaleza que lhes opôs heroica resistência e eles se retiraram.

Em 1271, muçulmanos cercaram o Krak e enviaram uma carta ao seu comandante, “assinada” pelo Grão-mestre dos hospitalários que se encontrava em outro local e recomendava a rendição. Era uma falsidade dos pagãos; a guarnição, por falta de vigilância, capitulou e a Fortaleza foi tomada.

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Batalhas de Malta e Lepanto

Tendo o sultão do Egito, em 1291, tomado São João d’Acre, que se tornara a capital do Reino de Jerusalém, os templários e hospitalários deixaram a Terra Santa. Estes últimos se instalaram em Chipre – Mar Mediterrâneo –, e depois em Rodes – Mar Egeu.

O Imperador Carlos V, em 1530, cedeu-lhes a Ilha de Malta – Sul da Itália. Em 1565, os turcos maometanos cercaram-na com poderosa frota, mas foram derrotados fragorosamente pelos hospitalários, sob o comando do heroico Grão-mestre Jean de la Valette.

Na Batalha de Lepanto – Oeste da Grécia –, em 7 de outubro de 1571, os hospitalários tiveram importante papel na vitória católica contra os turcos.

Napoleão Bonaparte, na sua rota para o Egito em 1798, empregando uma mentira soez, tomou a Ilha de Malta e expulsou os hospitalários. Com sua dispersão, surgiram setores não católicos e a verdadeira Ordem dos Hospitalários desapareceu.

E o que sucedeu com o Krak?

Ao longo dos séculos, ele continuou a existir enfrentando mil vicissitudes. Em 1920, a França passou a controlar a Síria, por mandato da Liga das Nações, e restaurou a Fortaleza.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Do francês: fulgurante.

[2] CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens. São Paulo: Arautos do Evangelho. 2020, v. III, p. 83.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Cavaleiro, flor e gloria da Cristandade. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano II, n. 10 (janeiro 1999), p. 26-27.

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