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Influência da Gnose e do Ocultismo na Reforma Protestante

A Revolta Protestante, por suas próprias características, origens e consequências, não teve nenhuma inspiração divina, pois não se baseou na busca pela Verdade.  

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Redação (17/02/2022 10:53, Gaudium Press) Neste artigo, vamos demonstrar o papel da Igreja Católica como representante exclusiva e insubstituível para a propagação do evangelho de Cristo através de uma argumentação histórico-filosófica, apresentando constatações que ainda estão visíveis em nossa sociedade e que são irrefutáveis por alguém em sã consciência.

A Idade Média e o Apogeu da Cristandade (Séculos X a XIII)

Como toda sociedade retamente organizada, a sociedade medieval era composta por 3 grupos: o povo, a nobreza e o clero. O povo fornecia a capacidade agrícola e artesanal, propiciando o surgimento do comércio. Com a circulação de bens, surge a necessidade de sua proteção, dando sentido ao surgimento da nobreza, a qual detinha o poder militar.

Como um modelo de sociedade inspirado na hierarquia divina e caracterizada por desigualdades, sabia-se que o poder da espada deveria agir em prol do bem e ser submisso ao poder de Deus, representado pela Igreja e o Papa.

Em suma, a sociedade medieval tinha como pilares de sua estrutura, em primeiro lugar, o Papa, aceito como autoridade suprema, pois era o Vigário de Cristo na Terra e, em segundo lugar, o princípio da desigualdade de direitos, já que se admitia que Deus não fez e não quer os homens iguais, mas sim semelhantes.

Portanto, para destruir a sociedade medieval, era preciso derrubar esses dois pilares: o Papa e a desigualdade de direitos. E estes foram, respectivamente, os alvos dos revolucionários do Renascimento e, mais tarde, da Revolução Francesa.

O Renascimento e os Erros Filosóficos de seu Tempo (Séculos XIV a XVI)

a) Uma Luta Contra o Papado

O Renascimento, romantizado pela maioria dos escritores como um período de florescer das artes e da ciência, esconde uma dura realidade por trás deste véu de um belo redescobrimento da cultura oriental. Em termos filosóficos, o Renascimento foi um momento histórico preparatório para a Reforma Protestante.

De acordo com o historiador austríaco Friedrich Heer, “o cisma do sacro império, que dividiu a Igreja Católica em oriental e ocidental, e a tentativa de desvendar os mistérios da cultura oriental que chegava à Europa (devido às navegações e as cruzadas) influenciaram tremendamente o pensamento filosófico e religioso da época. A doutrina patrística (dos padres da Igreja), que até então conduzia a uma adequada leitura das sagradas escrituras, passou a ser considerada somente uma forma alegórica de interpretação…” (Intelectual History of Europe, pgs. 82 e 83).

Este abandono da fidelidade à interpretação patrística, aos poucos, resultou na circulação de novas concepções da salvação da alma, abrindo espaço para a circulação de filosofias gnósticas e ritos de magia vindos do oriente.

Esta gnose é a base filosófica de todas as seitas contrárias à Igreja durante todo o período histórico conhecido.

Sintese de todas as heresias

b) Heresias e Nacionalismo: o Conjunto de Erros que Moldou o Protestantismo

A ânsia pela restauração da unidade da fé cristã na Europa somada à corrupção dos valores de parte do clero e à circulação dos escritos gregos (pagãos) entre os estudiosos resultou em um terreno fértil para o surgimento e propagação de novas doutrinas contrárias ao magistério da Igreja denominadas heresias.

Tais erros foram abraçados por muitos príncipes e reis, os quais vislumbravam em tais heresias uma oportunidade de avanço de suas ideias nacionalistas e de conquista de terras e bens da Igreja.

Este nacionalismo exacerbado na Alemanha teve como ícone Martinho Lutero, o qual usou de uma interpretação inadequada das indulgências concedidas pela Igreja como “ponta de lança” para iniciar a Revolta Protestante, com o objetivo claro de usurpar o poder papal sobre a igreja alemã e criar um novo Estado independente.

Eric Voegelin, filósofo protestante alemão, em seu livro Estudo das Ideias Políticas (cap. 7, pg. 109) resume de forma clara a incompreensão a respeito das indulgências e sua ligação com a Reforma:

“A prática das indulgências era tradicional e significava somente a remissão dos castigos temporais atribuídos na confissão. O abuso inicia-se com a incompreensão popular em acreditar que as indulgências significavam a remissão da culpa e não exclusivamente como remissão do castigo temporal”.

A seguir são apresentadas as principais heresias que moldaram a reforma, suas características e seu legado ao protestantismo.

 A Heresia Cátara

“Os cátaros foram os precursores dos humanistas italianos e dos sectaristas protestantes. Com seu dualismo (deus do mal e deus do bem), qualquer compreensão da união entre Deus e o mundo por meio dos sacramentos da Igreja era totalmente impossível”.

Também “não aceitavam a existência do purgatório e acreditavam na reencarnação” (Friedrich Heer. Intelectual History of Europe, pg. 116). Para eles, o deus do mal teria criado o mundo material, portanto, todo o universo material seria maligno.

Pelas características mencionadas anteriormente, percebe-se que parte desta filosofia foi adotada pelo protestantismo no século seguinte e também está presente no movimento espírita do século XVIII.

Paul Sabatier, um pastor Calvinista do século XIX, salientando o decisivo papel do Papa no enfrentamento aos Cátaros, em sua obra A Vida de São Francisco escreveu: “O papado nem sempre esteve do lado da reação e do obscurantismo: quando desbaratou os cátaros, sua vitória foi a da civilização e da razão”[1].

A Heresia Waldense

Este movimento herético liderado por Peter Waldo “se opunha às honras prestadas aos Santos e às orações pelos mortos. Todo o tipo de culto externo era considerado idolatria. Para eles, a Igreja Católica havia sido inventada pelo Papa Silvestre no tempo de Constantino e assim como os cátaros, rejeitavam a primazia de Pedro” (Eric Voegelin. Estudo das Ideias Políticas, cap. 7, pg. 113). Suas ideias e objeções contra a Igreja Católica também estão presentes nas designações protestantes da atualidade.

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O Nominalismo de Guilherme de Ockham

Na Alemanha, Guilherme de Ockham, o qual foi diretor espiritual de Lutero, foi ferrenho defensor do nominalismo. Tal filosofia, que também foi adotada por Lutero, “ensinava uma espécie de antirrealismo, negando a existência e, portanto, a realidade dos universais e dos objetos abstratos” (Friedrich Heer. Intelectual History of Europe, pg. 131).

O resultado desta desconexão entre a realidade e o divino ofusca a compreensão da graça de Deus e pode ser confirmada nos comentários sobre a vida de Lutero apresentados a seguir:

“A teologia de Lutero foi forjada no cadinho de sua luta para encontrar perdão e paz por seu sentimento avassalador de culpa. Ele tinha uma aguda sensação de miséria e se sentia como se estivesse no equilíbrio entre a vida e morte (Trevor O’Reggio. A Re-examination of Luther’s View on the State of the Dead. Journal of the Adventist Theological Society, 22/2 (2011):154-170 – Seventh-day Adventist Theological Seminary – Andrews University).

“A vontade humana é inata e inevitavelmente má e corrompida, e o desejo do mal é invencível” ( H. J. Grimm. Disputation Against Scholastic Theology, in Luther’s Works 31).

A Gnose Irracionalista de Mestre Eckhart

Eckhart foi um frade Dominicano e pregador que lecionou teologia na Universidade de Paris 200 anos antes da Reforma. Sua filosofia foi considerada herética, pois pregava um misticismo gnóstico, afirmando que nossa alma e Deus eram um só ente, e esta unidade deveria ser atingida por meio de exercícios espirituais.

De acordo com Peter Lillback, em seu artigo Into the Mystic “a visão de Mestre Eckhart sobre o conhecimento imediato de Deus implicava que o místico realmente se tornou a natureza divina”, ideia característica da gnose. Sua mística e moral, as quais defendiam até mesmo a santidade do pecado, influenciaram Lutero, fato que pode ser evidenciado por suas seguintes declarações: “Seja um pecador e peca forte, sede forte na fé e crê em Cristo…” (Carta nº 99 à Melanchthon, seção 13, de 1 de agosto de 1521). “Há a certeza da salvação somente pela fé, mesmo que fornicássemos e assassinássemos mil vezes por dia” (Joseph Denifle. Luther und seine Entwicklung, vol. 2, pgs. 1904-6). “O pecado da relação sexual no casamento não se diferencia em nada do adultério e da fornicação” (Grisan V. Luther vol III, pg. 304). Estas ideias de Eckhart esclarecem a ênfase da doutrina Sola Fide de Lutero, desprezando o importante papel das obras na busca da santidade e na justificação de nossos pecados.

A Kabala e o Ocultismo

Além de suas conexões gnósticas, o protestantismo também possui profundas ligações com o ocultismo e com a magia. Tais elementos não foram abertamente utilizados na formulação da doutrina reformada, mas sim, utilizados de forma velada, o que é ainda mais temível, moldando as ideias e os ataques ao magistério da igreja e à filosofia tomista.

Como expoentes do exoterismo da época, Reuchlin e Cornellius Agrippa fizeram a conexão entre o mundo da magia e o pensamento nos círculos protestantes.

“Reuchlin foi um dos grandes propagadores da Gnose Judaica, a Kabbalah, nos meios intelectuais e eclesiásticos nos séculos XV e XVI, sendo um dos grandes difusores da Cabala nos meios reformistas e renascentistas” (Frances Yates. The Occult Philosophy in the Elizabethan Age, pg. 32, 1979).

A estreita ligação de Reuchlin com a magia, e a consequente conexão desta com o protestantismo pode ser confirmada num artigo de Charles Zika, professor de história da Universidade de Melbourne, o qual diz: “Para ele (Reuchlin), cultura não bastava. Ele precisava de outra filosofia no lugar da escolástica, a qual tivesse poder. Ele descobriu isso no neoplatonismo com seu núcleo de magia operativa” (Reuchlin’s de verbo mirifico and the magic debate of the late fifteenth century Journal of the Warburg and Courtauld Institutes, 39:104-138, 1976).

Também na Alemanha, outro nome de destaque do ocultismo que influenciou o protestantismo, e em especial Lutero, foi Cornelius Agrippa, escritor exotérico que escreveu a obra De Occulta Philosophia, a qual trata da defesa da magia natural para a obtenção da intervenção angélica no plano material. “A magia é para Agrippa uma forma alternativa de vida religiosa” (Paola Zambelli. Magic and Radical Reformation in Agrippa of Nettesheim. Journal of the Warburg and Courtauld Institutes, Vol. 39 (1976), pg 71).

Frances Yates, em seu livro The Occult Philosophy in the Elizabethan Age (pg. 32, 1979), também menciona uma origem cabalística, característica da Reforma: “Lutero é o reformador contundente… com um programa de reforma de um tipo inerente à Cabala Cristã, a qual visava substituir a filosofia escolástica por algo mais poderoso”.

O Milenarismo

A heresia milenarista, “com raízes também na religião hebraica” (Cfr. J. Servier, op. cit., cap. VI, “Desde el Talmud hasta la Reforma), por meio de uma interpretação errônea das escrituras, caracterizou-se pelas frequentes tentativas de prever os acontecimentos históricos.

De acordo com Eric Voegelin, em seu livro Estudo das Ideias Políticas (cap. 7, pg. 28), as crenças milenaristas estão presentes na dialética marxista (comunismo primitivo, sociedade de classes e comunismo), no milenarismo hitleriano que almejava construir a sociedade perfeita no Terceiro Heich e nos movimentos protestantes mais tardios”, como por exemplo o Adventismo, caracterizados pela ânsia em prever a segunda vinda do messias.

A “Contrarreforma”: A Atitude da Verdadeira Igreja Frente à Decadência

A contrarreforma “foi empreendida, não como resposta aos ‘reformadores’, mas em obediência às exigências e princípios que fazem parte da tradição inalterável da Igreja e procedem de suas lealdades mais fundamentais” (Daniel Rops. A “Reforma Católica”. Retirado da edição do outono de 1993 do The Dawson Newsletter).

As ordens regulares fizeram suas primeiras tentativas de reforma no século XIV (200 anos antes de Lutero). Atestando as bênçãos de Deus sobre estes homens e mulheres que restauravam a verdadeira fé e a moral católicas, em meio às agitações e conflitos protestantes na Europa, incontáveis milagres passaram a ser conduzidos por Deus através dos Santos.

Poderíamos destacar ainda que toda esta restauração da verdadeira fé e a purga de todos aqueles que manchavam o ensinamento da Igreja, como foi o caso do próprio Lutero, foi de suma importância para a sua purificação. E esta conclusão encontra respaldo na própria carta de São Paulo aos Coríntios, onde no capítulo 11 ele diz: “Ouço dizer que há entre vós cismas e, em parte, o creio, pois é preciso que haja entre vós dissenções, a fim de que se destaquem os de virtude provada”. Pois bem, conforme dito pelo apóstolo, destacaram-se os de virtude provada: a Igreja Católica pós-reforma.

Conclusão

Conclui-se assim que os reformadores, cuja soberba, ganância e sede de poder instigaram-nos a buscarem uma interpretação das sagradas escrituras em desacordo com a interpretação Patrística, lançaram sua curiosidade sobre a gnose e o ocultismo, contaminando a literatura, os mosteiros e a sociedade com suas Heresias e fomentando revoltas que banharam a Europa de sangue inocente.

Tais raízes gnósticas e ocultistas, posteriormente, contaminaram o pensamento de inúmeros filósofos, como Hegel, Kant e Nietzsche, os quais criaram a base filosófica para as duas outras grandes revoluções que viriam a ocorrer: a Revolução Francesa e a Revolução Comunista.

É interessante percebermos que tais revoluções sempre buscaram algum tipo de igualdade, quebrando a hierarquia estabelecida por Deus, e que era modelo para a sociedade.

A reforma protestante atacou o Papa, exigindo igualdade de direito de interpretação das sagradas escrituras (livre exame) e levou à Guerra dos Trinta Anos, onde milhares de pessoas morreram e mais de 1.000 castelos foram destruídos.

A Revolução Francesa exigia esta mesma igualdade na esfera política (abaixo às monarquias) e guilhotinava 300 pessoas por dia em seu primeiro ano de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Por fim, a Revolução Russa aplicou esta mesma igualdade à esfera econômica, e para concretizar tal sonho, levou à morte em torno de 200 milhões de pessoas.

Considerando o que foi exposto, e lembrando a passagem: “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos” (Mt 7, 16), ainda há dúvidas sobre os maus frutos e a ausência de inspiração divina na Revolta Protestante?

Por Adriano Oliveira


[1] El papado no ha estado siempre de parte de la reacción y del oscurantismo: cuando desbarató a los cátaros, su victoria fue la de la civilización y la razón

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