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Imperatriz Santa Adelaide

No século X, quando o papado passava por terrível crise, Deus suscitou na sociedade temporal uma combativa mulher que se tornou imperatriz e santa: Adelaide.

Foto: Wikipedia

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Redação (07/06/2022 09:27, Gaudium Press) Filha do Rei da Borgonha, Centro-Leste da França, nasceu Adelaide em 931 e, aos 15 anos de idade, casou-se com Lotário, Rei da Itália.

Três anos depois seu marido morreu, provavelmente envenenado por Berengário, o qual se proclamou Rei da Itália e pretendeu que seu filho se unisse em casamento com a viúva de sua vítima.

Tendo Santa Adelaide recusado, Berengário lançou-a numa prisão. Mas ela conseguiu fugir, dirigiu-se ao Castelo de Canossa, no Norte da Itália, que era propriedade da Igreja, e enviou um apelo a Oto I, filho de Santa Matilde e Rei da Germânia, o qual correu em seu auxílio com um poderoso exército.

Oto casou-se com ela e, em 962, o Papa João XII o sagrou Imperador tornando-o, assim, fundador do Sacro Império Romano Alemão o qual durou até 1806, quando foi extinto por Napoleão.

Com a morte de Oto I, em 973, o filho dele e de Santa Adelaide, Oto II, foi sagrado imperador. Pouco tempo depois, influenciado por indivíduos péssimos, ele revoltou-se contra sua mãe a qual se refugiou na Borgonha, cujo rei era seu irmão. Ela, então, conheceu Santo Odilon que posteriormente se tornou Abade de Cluny.

Regressando à Alemanha, Santa Adelaide enviou à sepultura de São Martinho de Tours, na França, o mais rico dos mantos usado por seu filho, já então arrependido.

“Quando chegardes ao túmulo do glorioso São Martinho — escreveu ela à pessoa encarregada dessa missão — dizei: ‘Bispo de Deus, recebei esses humildes presentes de Adelaide, serva dos servos de Deus, pecadora por natureza, imperatriz pela graça. Recebei também esse manto de Oto, seu filho único, e vós, que tivestes a glória de cobrir com vosso próprio manto Nosso Senhor na pessoa de um pobre, orai por ele!’”

Em 999, pressentindo que a morte se aproximava, Santa Adelaide dirigiu-se ao Mosteiro de Seltz – Leste da França –, fundado por ela, onde Santo Odilon lhe ministrou os últimos Sacramentos.

Oposto da figura caricata de uma santa

A respeito dessa Santa, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou: “Vemos aqui um outro tipo de iluminura medieval. Não é mais a da santa que vive no convento, portanto, no recolhimento e na paz do claustro, mas a da heroína.

 “A Idade Média é fecunda em heróis e heroínas que passam pelas maiores aventuras, pelos maiores riscos, e não têm nenhum ideal de segurança social, de aposentadoria, mas querem e veem no risco, na luta, na incerteza — quando a serviço de uma causa elevada, em defesa de direitos efetivos e legítimos —, algo que dá à vida o seu sentido.

 “A existência de Santa Adelaide foi uma sucessão de altos e baixos. Era filha de Rodolfo II, Rei da Borgonha, e casou-se com Lotário II, Rei da Itália; teve uma filha que foi Rainha da França. Quando a Santa tinha 18 anos, seu marido morreu, e Berengário, ao que parece, havia mandado envenená-lo.

 “Este se proclamou Rei da Itália e quis que ela se casasse com um filho dele. Ela deveria, portanto, contrair matrimônio com o filho do assassino do seu próprio esposo; teria uma vida fácil, agradável, e certamente não sofreria o que sofreu. Tendo ela recusado, foi encarcerada e durante muito tempo ficou exposta aos piores ultrajes. Mas, de repente, fugiu.

 “Como me agrada a fuga dessa Santa! Como isso é diferente da ideia que habitualmente se faz de uma bem-aventurada! Segundo essa concepção, a santa presa fica sentada de lado, chorando, pensando em tudo, menos em fugir, e incapaz de fazê-lo; ela tem dificuldade em se mover, e não tem esperteza nenhuma, não sabe iludir os carcereiros, nem ter um gesto hábil para pular um obstáculo qualquer e sair correndo.

 “Mas essa é uma Santa diferente [….] que corresponde à imagem verdadeira dos santos, e não a essa figura caricaturada que eu fiz. O santo tem a virtude da fortaleza e a da prudência. E com fortaleza e prudência a pessoa foge de todos os lugares de onde deve e possa fugir. […]

 “Entretanto, ela soube para onde fugir, porque em vez de ir para um lugar qualquer, dirigiu-se para Canossa, a terrível fortaleza da Idade Média, a qual se tornou ilustre pelo fato de que São Gregório VII ali recebeu Henrique IV, que lhe foi beijar os pés, pedindo-lhe perdão.

 “Canossa era um feudo da Igreja e, por isso, não podia ser invadido por um soberano temporal. Santa Adelaide ali estava, portanto, inteiramente tranquila; ela não só sabia fugir, mas também onde refugiar-se. Era boa política; tinha a inocência da pomba e a astúcia da serpente.

Força de alma, denodo, intrepidez

 “E nesse lugar ela fez uma coisa que também não se esperava de uma santa: arranjou um marido e bem escolhido. Escreveu para o Rei da Germânia […] rogando-lhe para ir defendê-la. Ele foi e depois a pediu em casamento. Então começa para ela uma nova vida.

 “Notem quantas mudanças nessa existência, quanta força de alma, quanto denodo, quanta intrepidez essas alterações supunham e quanta verdadeira virtude nessa magnífica santidade!

 “Ele foi sagrado Imperador em Roma e casou-se com a Santa. O filho desse casamento, entretanto, foi um homem mau e começa aí mais outra tragédia; revoltou-se contra sua própria mãe, e por isso ela teve novamente que fugir e dirigiu-se para a Borgonha. Foi nessa região da França que ela conheceu Santo Odilon, que se tornou célebre. […]

 “Mas seu filho se arrependeu, e creio que foi devido às orações de Santa Adelaide. Porque o fato de ela mandar um manto para São Martinho tem todo o aspecto de um pagamento de uma promessa, como quem dissesse a esse Santo: ‘Se vós converterdes o meu filho, eu vos enviarei o manto dele.’

 “Então ela escreveu uma magnífica mensagem, da qual o fato mais bonito é o título que ela arranjou para si: ‘Adelaide, pecadora por natureza, imperatriz pela graça.’ É um tal contraste de títulos, há uma tal grandeza na simplicidade desse contraste, que mereceria ser o epitáfio dela: ‘pecadora por natureza’, porque todos os homens por natureza são pecadores; ainda quando santos e não pecam, na sua natureza são pecadores; ‘imperatriz pela graça’” .

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja

 

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