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Imensa monarquia com aspectos aristocráticos e democráticos

Uma das grandes chagas sociais do Império Romano era a escravidão: os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, se opunham radicalmente a esse e outros erros que em Roma eram comuns.

Uma das grandes chagas sociais do Império Romano era a escravidão: os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, se opunham radicalmente a esse e outros erros que em Roma eram comuns.

Redação ( 12/08/2020, 14:15, Gaudium Press) Na época de Augusto (27 a. C – 14 d. C), mais de um terço da população de Roma era composta de escravos, e em Alexandria, Norte do Egito, esse índice atingia aproximadamente dois terços.

Divórcio, aborto, queda da natalidade

Os povos vencidos pelos romanos ficavam seus escravos, que eram considerados coisas e não seres humanos. Comprados e vendidos nos mercados, neles se experimentavam venenos para se conhecer a eficácia destes.

Augusto havia criado uma prefeitura encarregada de alimentar gratuitamente o povo; ou seja, ele “oficializou a preguiça”. Na época da morte de Nosso Senhor, o Império Romano possuía aproximadamente 60 milhões de habitantes.

A família foi sendo abalada e a natalidade começou a decair. O aborto e o abandono das crianças, sobretudo as do sexo feminino, atingiram proporções terrificantes. O divórcio se tornou tão frequente que o simples desejo de mudança era suficiente para obtê-lo .

Os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, transmitidos por sua Igreja, se opunham radicalmente a esses e tantos outros erros.

Mudança política e social trazida por Jesus Cristo

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira comenta:

“Certos escritores que não O compreendem costumam chamá-Lo de revolucionário. Ora, revolução é, por definição (no sentido sociológico do termo), uma insurreição de súditos contra a autoridade, uma luta entre inferiores e superiores em que, ou saem vencendo os primeiros ou os segundos.

“A transformação que Nosso Senhor veio trazer ao mundo não foi uma revolução, porque não implicou em revolta contra qualquer autoridade, nem levantou os oprimidos contra os opressores. O Cristianismo não trouxe uma revolução, mas uma renovação. Também não tomou partido pelo despotismo contra os oprimidos. Em lugar disso, transformou oprimidos e opressores, fazendo cair-lhes das mãos as armas com que se feriam reciprocamente, e unindo-os num afetuoso abraço de irmãos.

“Essa transformação moral e essa reconciliação entre classes sociais que pareciam irremediavelmente desunidas foi, na realidade, a base da grande mudança política e social que Jesus Cristo trouxe ao mundo.

“Mas essa transformação não era a finalidade da missão d’Ele. Seu fim era essencialmente religioso. E as outras transformações que o cumprimento dessa obra acarretou não foram senão consequências da doutrinação religiosa.

A Igreja afirmou o direito de propriedade

“O mundo antigo parecia vacilar entre excessos igualmente reprováveis. De um lado, o despotismo excessivo, de outro a anarquia demolidora. De um lado, a exagerada concentração de riquezas, e de outro a sua consequência indireta, uma plebe paupérrima e revoltada. Finalmente, de um lado, impérios poderosíssimos que viviam na opulência a mais completa, e de outro lado povos que gemiam na miséria, sob o jugo de sua opressão.

“A todos estes excessos, a pregação da Igreja Católica veio trazer uma solução que representou o equilíbrio.

“No terreno político, o Cristianismo afirmou a autoridade, mas condenou o despotismo. No terreno econômico, afirmou a propriedade, mas condenou a excessiva concentração de haveres nas mãos de poucos proprietários. No terreno familiar, afirmou a monogamia contra a poligamia e, sujeitando embora a mulher e os filhos ao marido, proclamou a sua dignidade eminente, proibindo o chefe da família que os tratasse como escravos ou criados.

“Aliás, foi também o Cristianismo que mudou a sorte dos escravos, quando a Igreja começou a se espraiar pelo mundo antigo. ”

Cumpre lembrar que o direito de propriedade está garantido pelos sétimo e décimo Mandamentos da Lei de Deus, e a família pelos sexto e nono.

Sociedade hierárquica, não igualitária

“Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a Igreja como uma sociedade hierárquica, na qual, segundo o ensinamento de São Pio X, a uns cabe ensinar, governar e santificar, e a outros ser governados, ensinados e santificados (cf. Encíclica ‘Vehementer’, de 11-2-1906). ”

Causa estranheza que Daniel-Rops (1901-1965), membro da Academia Francesa de Letras, chegou a fazer esta afirmação:

“Uma sociedade petrificada em suas hierarquias e seus privilégios de casta [a do Império Romano] verá se erguer em face dela uma sociedade absolutamente igualitária, onde o mais humilde dos crentes poderá, por suas virtudes, se elevar aos mais altos postos da hierarquia episcopal”.

Tais palavras contém uma gritante contradição. Como é possível que uma pessoa, numa sociedade igualitária, suba aos “mais altos postos da hierarquia”?  Segundo o dicionário Aurélio, o vocábulo “hierarquia” significa: “ordem e subordinação dos poderes eclesiásticos, civis e militares”. Logo, por definição, uma sociedade hierárquica é aquela onde há desigualdades…

No século I, na Igreja já existiam diversos graus hierárquicos: Papa, bispos, sacerdotes e diáconos.  Posteriormente surgiram outros, tais como: cônegos, monsenhores, arcebispos, patriarcas, cardeais.

Igualitarismo e ódio a Deus

“São Tomás ensina que a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador. E diz que tanto entre os Anjos quanto entre os homens, no Paraíso Terrestre como nesta terra de exílio, a Providência instituiu a desigualdade.

“Por isso, um universo de criaturas iguais seria um mundo em que se teria eliminado em toda a medida do possível a semelhança entre criaturas e Criador. Odiar, em princípio, toda e qualquer desigualdade é, pois, colocar-se metafisicamente contra os melhores elementos de semelhança entre o Criador e a criação, é odiar a Deus.”

“A Igreja é uma imensa monarquia com aspectos aristocráticos e democráticos.

“Enquanto governada em todo o universo pelo Pontífice Romano, que tem jurisdição direta e plena sobre todos os bispos e sobre cada fiel, é uma monarquia.

“Enquanto desse governo participam os bispos sob a autoridade do Sumo Pontífice, mas com jurisdição própria e não delegada por este, a Igreja é aristocrática. […]

“O traço democrático existe na Igreja na escolha dos Pontífices, bispos e sacerdotes, que não obedece, como no Antigo Testamento, a restrições de caráter familiar. Entre os hebreus, determinou Deus que os sacerdotes só pertencessem à Tribo de Levi. Contudo, na Igreja o sacerdócio em todos os graus, inclusive o Papado, pode ser exercido por plebeus. ”

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História da Igreja – 22)

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1 – Cf. DANIEL-ROPS, Henri. L’Église des Apôtres et des martyrs. Paris : Arthème Fayard. 1957, p. 149-150.

2 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A Igreja: formadora de uma civilização. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano IV, n. 41 (agosto 2001), p. 16-17.

3 – Idem. Em defesa da Ação Católica. 2. ed. São Paulo: Artpress. 1983, p. 4.

4 – DANIEL-ROPS, Henri. Op. cit., p. 159.

5 –CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002, p. 71.

6 – Idem. Corpo Místico de Cristo e comunhão dos santos. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano VI, n. 58 (janeiro 2003), p. 28.

 

 

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