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“Em defesa da Ação Católica”: há 80 anos, um lance profético

Em 1943, um acontecimento convulsionou o círculo católico nacional: tratava-se de uma impressionante denuncia acerca da heresia infiltrada na Ação Católica brasileira. Tal denúncia, contudo, ressoa até nossos dias, oitenta anos depois…

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Redação (29/03/2023 16:47, Gaudium Press) A Santa Igreja é indestrutível! Não obstante, ao longo da história, muitas foram as tentativas de arrasá-la e – talvez pior – inúmeras as tentativas de desfigurá-la, deturpando sua face mil vez santa e indefectível.

Uma destas investidas formidáveis, em inícios do século passado, deu-se no seio de uma excelente instituição fundada por Pio XI, mas que veio a ser desviada de seu rumo por alguns de seus próprios membros: a Ação Católica.

Ao fundá-la, Achille Ratti tinha em vista fomentar a participação dos leigos no apostolado da hierarquia. Porém, não tardou muito para que essa genuína idealização desse azo a série de desvios, tanto morais, quanto teológicos.

Erros estes que não passaram despercebidos a certo homem, líder católico inconteste nesse nosso Brasil, cujas denúncias ultrapassaram os limites continentais desta Terra de Santa Cruz, fazendo-se ouvir inclusive por eclesiásticos do mais alto quilate, como pelo Cardeal Eugênio Pacelli, ainda enquanto Secretário de Estado e, mais tarde, como Papa.

Destarte, Plinio Corrêa de Oliveira, há oitenta anos, publicou uma de suas mais célebres obras, a qual deteve em larguíssima medida o avanço da heresia que já grassava em organismo tão importante da Igreja, que era a Ação Católica.

Em defesa da ação católica

Com efeito, Dr. Plinio concebeu a ideia de escrever um livro que contivesse uma exposição da doutrina erroneamente ensinada pelos membros da Ação Católica brasileira – embebida em certos religiosos belgas, de tendências progressistas –, mas que também apresentasse a verdadeira doutrina tradicional da Igreja.

Portanto, não se tratava de destruir a Ação Católica em si; pelo contrário, defendê-la. E, para tal, delinear e esclarecer o que era a verdadeira Ação Católica, em contraste com a falsa, tendenciosamente herética.

Eis porque Dr. Plinio denominou este seu livro de “Em Defesa da Ação Católica” – comente-se, aliás, que, no ano em que Dr. Plinio o publicou, ele era o Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo. Nada mais justo.

Com uma lógica férrea e uma clareza luzidia, concluídas as laudas, Dr. Plinio apresentou-as a diversas autoridades eclesiásticas nacionais, com o fito de obter o imprimatur. Tão logo publicada – e contando com o Prefácio do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Benedito Aloisi Masella – o “Em Defesa da Ação Católica” causou imediato reboliço em toda a nação; remexendo, em seguida, as esferas eclesiásticas de alhures, devido à sua contundência e, diríamos, profetismo.

Entretanto, Dr. Plinio sabia perfeitamente que sua atitude não ficaria sem revide. Assim, numa velada e planejada perseguição, ainda que a contragosto da opinião católica geral, o Autor foi sendo abafado; pouco importava, pois o imenso bem tinha sido feito à Igreja, e isso era o que realmente valia para Dr. Plinio, o qual já havia dedicado boa parcela de sua vida a serviço da causa católica, sem pretender retribuições.

Não resta dúvida, porém, que sua atitude revelou uma insigne despretensão e humildade, visto que ele preferiu, à semelhança de uma Kamikaze, jogar o tudo pelo tudo, contanto fosse glorificada a Igreja e salva a ortodoxia.

80 anos depois

Oitenta ano depois, vendo o desenrolar dos acontecimentos, somos levados a constatar como o lance de Dr. Plinio detinha um verdadeiro alcance profético, pois visou não apenas um mal episódico daquele momento; antes, um inimigo que queria inocular-se no organismo sagrado da Igreja.

Além das denúncias acerca da moralidade laxista e liberal, reinante entre os membros desviados da Ação Católica, o que Dr. Plinio mais salientou em seu escrito foi o surgimento de uma nova forma de conceber o Catolicismo. Forma esta que, se continuasse seu caminho, acabaria por negar o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo.

Basta dizer que, não poucos adeptos da falsa Ação Católica, negavam taxativamente a existência do pecado original…

Destarte, que moral tinham?

Brindemos, pois, este artigo com a leitura de alguns trechos do “Em defesa da Ação Católica”:

“Na doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, apraz a muitos espíritos ver apenas as verdades doces, suaves e consoladoras. Pelo contrário, as advertências austeras, as atitudes enérgicas, os gestos por vezes terríveis que Nosso Senhor teve em sua vida costumam ser passados sob silêncio. Muitas almas se escandalizariam – é este o termo – se contemplassem Nosso Senhor a empunhar o azorrague para expulsar do Templo os vendilhões, a amaldiçoar Jerusalém deicida, a encher de recriminações Corazim e Betsaida, a estigmatizar em frases candentes de indignação a conduta e a vida dos fariseus.

Entretanto, Nosso Senhor é sempre o mesmo, sempre igualmente adorável, bom e, em uma palavra, divino, quer quando exclama “deixai vir a mim os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus”, quer quando, com a simples afirmação “sou Eu”, feita aos soldados que O iam prender no horto das Oliveiras, se mostra tão terrível que todos caem por terra imediatamente, tendo a voz do Divino Mestre causado não só sobre suas almas, mas ainda sobre seus corpos, o mesmo efeito que a detonação de algum dos mais terríveis canhões modernos.

Encanta a certas almas – e como têm razão! – pensar em Nosso Senhor e na expressão de adorável meiguice de sua Divina Face, quando recomendava aos discípulos que conservassem na alma a inocência imaculada das pombas. Esquecem, entretanto, que logo depois Nosso Senhor lhes aconselhou também que cultivassem, em si, a astúcia da serpente. Teria a pregação do Divino Mestre tido erros, lacunas, ou simplesmente sombras? Quem poderia admiti-lo? Expulsemos para muito longe de nós toda e qualquer forma de unilateralismo.

Vejamos Nosso Senhor Jesus Cristo como no-lo descrevem os Santos Evangelhos, como no-lo mostra a Igreja Católica, isto é, na totalidade de seus predicados morais, aprendendo com Ele, não só a mansidão, a cordura, a paciência, a indulgência, o amor aos próprios inimigos, mas ainda a energia por vezes terrível e assustadora, a combatividade desassombrada e heroica, que chegou até o Sacrifício da Cruz, a astúcia santíssima que discernia de longe as maquinações dos fariseus e reduzia a pó suas sofísticas argumentações”.[1]

“Com efeito, nesta tristíssima época de ruína e de corrupção não seria explicável que não existissem, como no tempo dos Apóstolos, ‘falsos apóstolos, operários fingidos’ que se infiltram nas fileiras dos filhos da luz e se transformam em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, visto que o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é, pois, muito que os seus ministros se transformem em ministros de justiça; mas o seu fim será segundo as suas obras (2 Cor 11,13-15). Contra estes ministros que outra arma há, senão a argúcia necessária para saber pelos atos, pelas doutrinas distinguir entre os filhos da luz e das trevas? Contra os pregadores de doutrinas errôneas, mais doces, mais fáceis, e por isto mesmo, mais enganosas, a vigilância não deve ser apenas penetrante, mas ininterrupta”.[2]

Passadas oito décadas, resta-nos uma palavra de gratidão. Mas não só! Cabe-nos também continuar a batalha: em primeiro lugar, através de uma vida moralmente bem levada, e, em segundo, dando o valor que cabe a cada qual dentro da Igreja, seja à hierarquia, seja aos leigos, sem tergiversar valores e, menos ainda, sem substituir os conceitos. Em outras palavras, não trocar a verdade pela mentira!

Eis a lição que Dr. Plinio Corrêa de Oliveira transmitiu ao Brasil e, sem dúvida alguma, ainda mais hoje continua a transmitir: a de que Nosso Senhor é a Verdade, por ser Ele próprio o único caminho e única fonte da Vida.

Por Thiago Resende


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Em Defesa da Ação Católica. São Paulo: Ave Maria, 1943, p. 15-16.

[2] Ibid., p.143

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