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Domingo Gaudete: o domingo da alegria

Quando nos decidimos a pertencer a Deus e à Igreja, cumprindo os mandamentos e levando uma vida virtuosa, os sofrimentos que nos advêm não podem tirar-nos a alegria.

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Redação (10/12/2022 16:16, Gaudium Press) Conta o romancista francês René Bazin que, durante a Primeira Guerra Mundial, uma senhora francesa passava por uma situação ao mesmo tempo trágica e peculiar.

Em meio ao caos que reinava na Europa de então, ela viu seu marido ser deportado; seu filho, morto; e, como se não bastasse, a sua casa saqueada. Parece que as desgraças a perseguiam…

Entretanto, para espanto dos que a circundavam, ela se mantinha sempre firme e até mesmo muito contente. Então, René Bazin perguntou-lhe de onde vinha tão grande coragem. Ela respondeu:

– “Recebo a cada dia o pão de que necessito, pedindo a Deus que vem morar em mim: ‘Dai-me a coragem por espaço de vinte e quatro horas!’ E amanhã a mesma coisa”.[1]

Coragem, alegria, força de alma: é o que nos convida a liturgia deste 3° domingo do Advento que, com razão, é chamado de “Domingo Gaudete”, o domingo da alegria.

Um contraste entre os protagonistas do Evangelho de hoje

O primeiro contraste que apresenta a liturgia de hoje encontra-se na pessoa de São João Batista. O Evangelho inicia-se assim:

“Naquele tempo, João estava na prisão” (Mt 11,2).

Mas, no fim do Evangelho, São Mateus reproduz as seguintes palavras do Divino Mestre:

“Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista” (Mt 11,11).

Como um homem que foi lançado num cárcere poderia ser, segundo afirma o próprio Nosso Senhor, o maior dentre todos os nascidos de mulher? Mas São João o era realmente. E ainda mais: entre todos os personagens que aparecem no Evangelho de hoje – excetuando Nosso Senhor – ele era também o mais feliz.

Seus próprios discípulos, que vêm perguntar a Jesus: “És Tu, Aquele que há de vir?” (Mt 11,3), estão privados dessa alegria “pela inveja que os consome”.[2] Em situação semelhante encontram-se os Apóstolos, pois ainda esperam um Messias diferente do que têm diante de si.[3] Por fim, o mais infeliz de todos é Herodes Antipas, aquele que mandou matar a São João. Mesmo assentando-se em tronos e dominando a muitos, Herodes não pôde reinar sobre si mesmo; antes, escravizado por suas paixões, vivia afundado na tristeza e na amargura.

O que constitui, portanto, a verdadeira alegria? Qual o fator pelo qual São João, preso, era mais feliz do que muitos que se vestiam de púrpura e dominavam nações?

Nossa finalidade é pertencer a Jesus e à Igreja

Imagine o leitor um pássaro que não pudesse voar, ou um peixe que não pudesse nadar, ou qualquer outra anomalia semelhante. Se tais absurdos fossem possíveis, certamente constituiriam as criaturas mais infelizes de toda a criação.

A felicidade de todo ser consiste em cumprir a sua finalidade. Quando o homem decide pertencer a Deus e à Igreja, cumprindo os mandamentos e levando uma vida virtuosa, os sofrimentos que lhe advêm não podem tirar-lhe a alegria.

Pelo contrário, o bom católico sabe que a verdadeira felicidade encontra-se na “loucura da Cruz”. A ideia de que vivemos em um vale de lágrimas e que o sofrimento é natural a todo ser humano, muito longe de ser para nós causa de depressão, deve nos apaziguar. Se, pois, temos de enfrentar muitos reveses na vida, por que espantar-se quando eles se apresentam diante de nós? É normal passar por dificuldades e tormentos; o segredo está em enfrentá-los com paz, naturalidade e alegria.

“Com efeito, o problema do sofrimento não está tanto naquilo que o ocasiona, mas no modo como é suportado. Ele existe em todas as ocasiões da vida e pede de nossa parte o ânimo que esta Liturgia nos apresenta, do qual Maria Santíssima é modelo”.[4]

Peçamos a ela esta alegria e esta coragem. Mas não nos aflijamos com as possíveis dores e dificuldades pelas quais poderemos passar; preocupemo-nos em ser fiéis a cada dia e rezemos como aquela senhora francesa durante a Primeira Guerra Mundial: “Minha Mãe, dai-me a coragem por espaço de vinte e quatro horas, e amanhã a mesma coisa”.[5]

Por Lucas Rezende


[1] Cf. HOORNAERT, Georges. A grande guerra. Trad. José J. de Sant’ Ana. Bahia: Escola Tipográfica Salesiana, 1928, p. 270.

[2] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os evangelhos. Città del Vaticano: LEV, 2013, v. 1, p. 52.

[3] Cf. idem, p. 53.

[4] Idem, ibidem.

[5] Cf. HOORNAERT, Georges. Op. cit., p. 270.

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